Remate Certeiro: Dia 1 de junho foi Dia da Criança

No dia 1 Junho foi Dia da Criança
“Eles não sabem que o sonho é uma constante da Vida “[…]

Estamos a 1 de Junho de 2021, terça-feira, estou mesmo no limite para fechar este Remate Certeiro, mas a poeira que me surgiu nos olhos, não por imperativos de alguns comportamentos bolorentos em que assenta a democracia, mas talvez porque vivo há anos a mexer em papéis velhos e a protestar contra a cegueira da humanidade.


Ainda bem que ontem, o bom do Dr. Luís Vieira, enorme nestas coisas dos olhinhos, que nada tem a ver com bons olhares, lá conseguiu com classe sacudir um pouco das poeiras e dentro de dias vou ao Laser Yag, uma espécie de máquina de lavar loiça, para ver se começo a ver todas as linhas, quer as linhas da escrita, quer as linhas das garotas.


Às vezes, também só lhes peço que me deixem olhar para elas, e por isso, caiu como sopa no mel, esta espécie de lavagem automática a que me irei submeter, com a classe do distinto Luís Vieira.


Pois é, hoje é o Dia da Criança, mas existe muito boa gente, em lugares chave deste País, quem por vezes nem se apercebem das condições fantásticas que as crianças têm nas suas terras, nas suas regiões e até no País. E por vezes até aparecem como candidatos às coisas da terra, mas depois nem sabem o que vão gerir.


Desde o 25 de Abril até aos nossos dias, foram enormes as mudanças no apoio medico materno-infantil, as questões de segurança, o apoio à maternidade, infantário, creche e pré-escolar.

Mas não se fez mais do que deveria ter sido feito e muita coisa, mesmo muita coisa, continua por fazer. E é pena, que os mais jovens, sobretudo a rapaziada que salta agora a fasquia da adolescência e os outros logo a seguir, não tenham essa consciência, mas isso é por culpa dos adultos, dos pais, sobretudo os mais jovens, que com mil cautelas e na defesa das suas e das nossas crianças, deveriam seguir com mais rigor as medidas, que afinal, são o compromisso que devemos ter para com todos, na terrível fase da pandemia, que continua fortemente acesa e por isso estamos sempre em risco.


Mas como é que se pode pedir aos adolescentes e aos jovens para cumprirem, para serem responsáveis, quando os adultos não conseguem planear medidas de segurança, como mostraram os mais recentes acontecimentos que se viveram em Portugal.

Havia um detergente que se publicitava anunciando,
branco, mais branco não há…


Havia um detergente que se publicitava anunciando, branco, mais branco não há, e nesse campo de dúvidas, de que afinal, existe outro branco mais branco, são as declarações do Senhor Pinto da Costa, em relação aso acontecimentos de Alvalade, e depois o que aconteceu no Dragão, e são por exemplo as declarações do Presidente da CM do Porto, sobre o que aconteceu em Lisboa, com severas críticas, e depois não reparou que os ingleses que visitaram a sua cidade, deram-lhe cabo do telhado. Existem políticos, e agora isso está mais na moda, que não passa do blá, blá, blá… mentirosos.


É como a situação das vacinas, sobretudo, em nome das crianças, existe o dever de se vacinar a sério, tudo e todos e não se vacilar perante tais realidades.


Os adultos também são culpados. No outro dia em Loulé, muitos estrangeiros tinham programa a sua vacinação às nove da manhã, mas ficaram mais tempo na cama e só apareceram na parte da tarde e quando chegaram não foram para o última lugar da fila, passaram à frente de toda a gente, empurrando para o fim da linha, aqueles que organizadamente e com mil sacrifícios apareceram a tempo e horas. A isso não chamamos nem organização, nem desorganização, antes submissão. Medo. Capacidade de nos sentirmos e nos julgarmos independentes.

Pois é, este é o segundo ao, a roçar as paredes do terceiro, que as crianças ficam prisioneiras de vir para rua viver com autenticidade o Dia da Criança, mas isso não invalida, que pelas janelas de cada infantário ou Creche, não espreitemos as sua pecinhas de teatro, o esforço pedagógico das educadoras e educadores, auxiliares, das direcções pedagógicas e administrativas, do poder local que tudo fazem para que essa felicidade, com tanta inocência, salte para o primeiro lugar do pódio da alegria das crianças.


Não se vestem a rigor, têm a bata que os identifica, andam no escorrega, no baloiço, brincam no jardim, mesmo que aqui e ali a alcatifa do relvado esteja esburacada, ele e elas não param, porque são a irreverência a crescer.


Fazem pinturas, enchem balões. Balões verdadeiros, de mil cores, não como aquele falso balão, que o governo anunciou como chegariam os ingleses a Portugal para assistir ao Chelsea-Manchester City, mas depois espumando cerveja por todos os lados até batendo na polícia.

Pois os balões das Creches são bem diferentes, e só fazem chorar as crianças, quando as suas mãozinhas se abrem e os deixam soltar e eles lá vão voando, voando, voando, bem ao jeito da gaivota inspiradora do 25 de Abril de 1974.


As vilas e as cidades hoje parecem tão estranhas, sem crianças a espreguiçarem-se pelos longos passeios, bem alinhadas. Às vezes, noutros tempos, em que não se anunciava a pandemia, ainda subiam uns degraus e entravam pelo gabinete do Presidente da Câmara e ofereciam um desenho, um poema, uma flor.


Agora por razões pandémicas, tudo está diferente, mas os adultos ainda não perceberam que as crianças começam a ficar desajustadas das realidades da vida, perante este estrangulamento social e humano.


Elas deixaram de brincar, deixaram de ser livres, por culpa dos adultos, que só se lembram dos disparates, quando uma menina estrangeira, sob ao palco as Nações Unidas, dizendo que o rei vai nu e que no mundo e na sua crueldade, chovem como na rua.

Um, dois, três, vai começar a corrida. Todas as crianças têm que ser livres


Hoje é Dia da Criança, e sem nos contradizermos, também é verdade, que tantos anos depois de Abril, tanta coisa ficou por fazer que daria para que escrevêssemos novos artigos para os Direitos das Crianças.

A saúde, a habitação, o emprego, a educação, a segurança, a assertividade dos tribunais e a ligeireza dos mesmos.


O pão, a falta de condições de higiene, em casas que não passam de condóminos abertos, onde chove dentro.

De mil instituições, que gravitam às portas dos supermercados pedindo uma esmolinha, um pão, um quilo de açúcar, farinha, fraldas, productos de higiene, bolachas, cadernos, assim a modos de tudo o que vem à rede é peixe, para que possam ajudar os mais desfavorecidos, os MAIS DESIGUAIS, numa sociedade que anda de saltos altos, mas nem sabe a quem roubou os sapatos.


Como tempo passa e nem sempre nos apercebemos, que já fomos crianças, Eles, porque eu tenho em mim a criança que sempre fui, criada na Creche da Fábrica do Tenório, e foi neste cenário que me fiz gente e sinto que esta foi uma das pontes mais maravilhosos, que me levaram ao caminho que segui.


Talvez nunca nos cansemos, neste tempo e hora, em que as crianças, também perderam a sua liberdade, não apenas por força impiedosa do COVID19, mas pela apatia, falta de coragem e sensatez de alguns adultos, de vos lembrar o que nos deixou escrito António Gedeão, e que Manuel Freire, canta como ninguém.

“Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer

Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos

Como estes pinheiros altos
Que em verde ouro se agitam
Como estas árvores que gritam
Em bebedeiras de azul

Eles não sabem que sonho
É vinho, é espuma, é fermento
Bichinho alacre e sedento
De focinho pontiagudo
No perpétuo movimento

Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
Base, fuste ou capitel
Arco em ogiva, vitral

Pináculo de catedral
Contraponto, sinfonia
Máscara grega, magia
Que é retorta de alquimista

Mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos, infante
Caravela quinhentista
Que é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfim
Florete de espadachim
Bastidor, passo de dança
Colombina e Arlequim

Passarola voadora
Para-raios, locomotiva
Barco de proa festiva
Auto forno, geradora

Cisão do átomo, radar
Ultrassom, televisão
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar

Eles não sabem, nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança”

Neto Gomes

Deixe um comentário

Exclusivos

O Algarve vive os desafios duma região que cresceu acima da média nacional

O Governador do Banco de Portugal, natural de Vila Real de Santo António, visitou...

Agricultura regenerativa ganha terreno no Algarve

No Algarve, a maior parte dos agricultores ainda praticam uma agricultura convencional. Retiram a...

Liberdade e democracia na voz dos mais jovens

No 6.º ano, o 25 de abril de 1974 é um dos conteúdos programáticos...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril -consulte aqui a programação-

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.