Remate certeiro: É preciso olhar mais longe

É preciso olhar mais longe, contra os balanços da treta e aparição dos herodes

Por esta altura do ano surge sempre na primeira fila a caldeira dos balanços, ainda por cima em lume brando, quando alguns desses traços, deste avivar de memórias, só nos trazem mágoas e desencantos e acabam por renovar a aparição de mais herodes, aqueles que se aproveitaram de nós e agora nos obrigam a entupir as valetas.


E a verdade é que não há volta a dar. Até nós escrevinhadores, com medo de perder direitos, nos colocamos ao lado de alguns destes herodes, criados por nós, mas que cobardemente não os podemos abandonar, e nessa causa efeito, continuamos a alimentá-los. Até isso mudou, porque eu venho do tempo, em que Carlos Albino, em homenagem aos escrevinhadores, onde eu me incluía, escrevia: Trabalho que nenhum tostão paga.


Talvez porque sempre misturei a escrita da alma, com o coração e a ironia, mas sem nunca apagar o nome de ninguém, mesmo que sejam bois. Não confundir bois com boys, ainda que bois e boys estejam por todo o lado, por isso, achamos que não temos o direito, de apagar o nome seja de quem for.


Em Loulé, por exemplo, um dia depois do 25 de Abril resolveram apagar o nome do chamado Ditador que foi o autor da frase, que simboliza o grande homem, que foi e continua a ser Duarte Pacheco, de igual modo um orgulho e motivador para os louletanos. Os louletanos que aqui nasceram e os outros.


E a verdade, é que existe muita gente, eu nem sou contra, desejosa de fazer duas coisas: Ou apagam a frase ou mantém a frase e colocam lá o nome do senhor que escreveu a frase. É que com o andar da carruagem ainda vão pensar que fui eu que escrevi a frase…


Pois é, por esta altura do ano, soltam-se mil balanços, cada um à sua maneira. Até eu pensei que aparecia no balanço do JA tendo em conta que a entrevista que fiz ao comendador Rui Nabeiro, bateu o record de visitas ao Jornal do Algarve on-line…


Mas aqui a minha teia de balanço é outra, é uma espécie de regresso ao futuro, que afinal tem a ver, com o que nos últimos anos abandonámos ou por culpa da pandemia (e a pandemia não pode ser o disfarce de todas as incompetências), ou por culpa de novos «quadros» emoldurados nas novas estratégias do Algarve.


Alguns retratos falam por si. O que éramos, o que fazíamos, o que construíamos, o que animávamos, a festa e a alegria da juventude, do desporto de todas as idades, os grandes certames e acontecimentos e a paixão simples pelo Algarve.

Que saudades do hóquei em patins em Loulé


É deste balanço que precisamos, porque eu sou daqueles que mais teimosamente procura defender, que o Algarve não começou hoje, sobretudo, num chamamento em nome do conhecimento e dos valores da cultura direcionado aos mais novos, que só conhecem a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo fazer… esquecendo tudo o que ficou para trás e tudo o que vem a seguir: Tu, ele, nós, vós, eles. E depois num repente caiem no lamaçal, porque ou têm muita sorte e chegam a S. Bento, ou voltam às origens para acabar ou comprar o que falta do curso…


E os balanços de agora não falam de proximidade, de cumplicidades, de afectividade, antes coabitamos na mesma colmeia, com a etiqueta do aumento dos transportes, dos preços de combustíveis, de gente a dormir na rua, de alguns partidos políticos, sem remos, nem boias de salvação, a meterem água por todos os lados, são incapazes de explicar porque não votaram no orçamento, porque afinal, o que estava em causa, não era o orçamento, era a queda do governo.


Mas também é verdade, que ao nível do Algarve, bem se tem esforçado António Pina, como garante da AMAL, não descurando o desenho que é preciso fazer, e os balanços não falam disso, para que a TAP não nos tape os olhos, não ponham de lado o Algarve… Já basta de se andar a empurrar o nosso desenvolvimento com a barriga, desde o Hospital, que era para ser construído, na zona do Estádio Algarve e daí se ter expropriado terrenos, com este objectivo, por tuta e meia…

Cartão convite, enviado pela Região de Turismo do Algarve 1988, para apresentação da campanha O Algarve é qualidade. Já lá vão 34 anos


Andamos atarantados, com os balanços do ano e as vozes são sempre as mesmas, num país de contrastes e o mais evidente, foi o olhar para o cruzeiro ancorado em Lisboa, e para o barco de pesca aportada em Viana do Castelo. Não podem existir filhos de um Deus menor.


O que acreditamos, é que temos que ir às origens da grande região que fomos, que era cenário permanente de discussão e de desenvolvimento. Que era a paisagem permanente cheia de movimentações desportivas, de todas as modalidades. Que era o debate, a conferência, o congresso, a tertúlia, um sentimento de esperança de continuidade, de uma região que se foi construindo aos solavancos, mas pela paixão de muita gente.


É verdade que já se passou muito tempo, que as coisas agora são diferentes, que existem as novas tecnologias, que já existem robôs que fazem tudo, mas mesmo assim, continua o ser humano a nortear o desenvolvimento e o crescimento.


É verdade que os tempos são outros e que vivemos num Aldeia Global, mas não eram tão evidentes os desastrados, tão presentes os herodes, os falsos iluminados, numa terra que dava tudo: Cortiça, com uma industrial pujante, conservas, com uma indústria pujante, construção naval com uma indústria pujante, porto comercial de Vila Real de Santo António, uma força do trabalho, com pulsões pujantes.


Já sei que tudo isto foi no século passado… Também o 25 de Abril de 1974, foi no século passado, e continuamos a comemorá-lo com alegria e confiança, mesmo sabendo que houve um tempo que trocaram REVOLUÇÃO, por EVOLUÇÃO.


Abatemos barcos, fechámos fábricas, fechámos cafés e restaurantes, e abrimos Bancos, fechamos as escolas industriais, e hoje um canalizador e um eletricista só se os apanharmos à pesca, à sorte, porque até acabaram com as páginas amarelas. E o que é que eram as páginas amarelas? Era um livrinho grosso e grande, onde encontrávamos tudo…

Eles bem abateram as vindimas, mas este foi chão que sempre deu uvas e uma grande pinga


Abatemos as vindimas do Algarve, vá lá, que este foi chão que sempre deu uva e de grande qualidade daí o prestígio que o nosso vinho começa a ter.


Até acabámos com a Volta a Portugal, de muitos dias, de muitas etapas, de muitos quilómetros, que nunca partia o Portugal ao meio, apesar de todo o esforço dos actuais organizadores, para que a competição não morra na praia. E também querem acabar com o canto e o poema, por vezes adulterando programas, para que algumas vozes sejam ignoradas.


Como escreveu António Aleixo, e cujo pensamento cabe que nem uma luva, nas lutas que aí vêm em relação ao próximo acto eleitoral, onde se vai candidatar gente, sem gente dentro, os tais herodes, trago à tona o maior poeta popular de todos os tempos:

Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande

Neto Gomes

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