Remate Certeiro: Mano Velho! Nunca te direi Adeus

Este é o tempo que nunca esperava que me acontecesse, nem nos meus mais cruéis sonhos, que no longo silêncio de quinze dias, e num segredo, que sabias que iria acontecer, mas não querias que ninguém soubesse, tivesses escolhido os cuidados intensivos do Hospital de Faro, não gosto do nome de CHUA, para convidares a Luisa, a Susana e a Marta e se despedirem de ti.


E podia chamar para este tempo que nunca esperava que me acontecesse, os teus derradeiros dias, o sobe e desce de uma doença cruel, inventada pela ciência, por mãos impiedosas da ciência, mas que a ciência não consegue controlar, limitando-se a mudar o penso, isto é, a vacina. Primeiro por seis meses, depois por mais seis meses…um penso, uma vacina, que começa agora a ferir o corpo das crianças. Dizem, os apregoadores dos templos, que não há volta a dar…


Meu querido Mano Velho. Meu querido Fernando Reis, vivemos alguns dos mais maravilhosos momentos, outros bem musculados, com murros em cima da mesa, mas logo a mesa da faca e do garfo se tornava na nossa mais adorada almofada, e um novo sol acontecia.


Vivemos momentos incríveis de lealdade, de nostalgia, de asa ferida, de vidros entre os pés e os sapatos, mas nunca desistimos de reforçar a cada instante a nossa amizade e o carinho que fomos colecionando em cada momento da vida. Em todos os momentos.

Obrigado Fernando Reis pelo que fizeste por todos nós. A malta vai lutar pelo teu desejo:
Vamos continuar o Jornal do Algarve. Apenas por ti…


Bebemos os nossos copos. Rimos como ninguém e também, verdade se diga, porque não somos parvos. Não somos, porque continuas a meu lado, também falamos mal de muita gente, de muitos que em vez de falar, imitavas sons como o nome daquela estalagem onde um dia ficámos em Pipa, o Berro do Burro.


É isso, zurravam como burros, acotovelados às suas maldades, e que muitas vezes nos ameaçaram. Lembraste! De um que até queria cortar a publicidade ao jornal. Um, outro, outro ainda. E tu fechavas a conversa, ao som do tilintar do teu tinto, com a minha cervejita, com esta gargalhada sonora: Neto! São, uns merdas.


Amámos a vida, com o sentido único de família. Tu e eu. E tu eras pai de uma grande família. Eras o verdadeiro pai herói. Aliás, tinhas filhos quase da tua idade. Tinhas e vais continuar a ter. Vais continuar ao nosso lado. Isto querias tu, a meio da primeira parte, a meio da tua vida, mudares as regras do jogo.


E por todo o tempo fora, por todo o mundo. Um mundo com terras ainda por inventar, foste o pai que corria todos os lugares pelas filhas. Quem inventava possibilidades de sucessos às filhas, que palmilhava terrenos minados, pelo amor às filhas, que enquanto todos dormiam, agarravas nas novas tecnologias à procura da menina das canções multiplicadas pelo canto português e latino ou em busca da Marta…

A minha Susana vai ao Festival da Canção!


Fiquei felicíssimo. A menina que com quatro anos eu tinha retirado na piscina em Lagos, ia agora ao festival da Canção.
Mas dando-lhe toda a esperança, mesmo sabendo que o festival era e continua a sar um jogo de dinheiros, ainda o animei com um pensamento jocoso.

Fernando: Se o Júlio Isidro, com 100 anos faz parte do júri, então EU VOU ALI…CANTAR… E JÁ VOLTO. Não era cantar que eu queria escrever.


E o Fernando a responder com a velha senha: Neto! Não dês barraca. Olha que a moça tem classe…


E eu sabia e sei que a Susana tem classe, mas também sei, o que somos, quando partimos daqui, deste terrível sopé do País, que o Algarve… é gente da província, como se eles, não fossem a província da Estremadura, do Douro Litoral ou da Beira Litoral. É que Até na área da saúde, o Algarve é ignorado perante Lisboa, Porto e Coimbra. Eles olham lá de cima da montanha, e avista-nos como criaturas menores, gente que se alimenta de peixe, de frutas e em todo o tempo de frustos secos, que vão guardando ao longo do ano.


Somos, e os nossos responsáveis o vão consentindo, o grande lago, da estação de tratamento, onde tudo vem parar.


Fernando! E as lutas cruéis, então vividas, e que agora levas contigo, de teres coabitado algum tempo, com gente que não te merecia respeito, mas nós também não temos a liberdade, de viajarmos sozinhos no autocarro.


Mas, depois, foste capaz, sem deitar abaixo o teu edifício de paixão, pois bastava esconderes a garrafa do vinho, para que eles partissem para parte incerta. E assim, o JA foi crescendo, com todas as dificuldades, mas agora com muito amor, sem entraves patéticos, e desta cruzada, não posso esquecer o José Cruz, que felizmente ainda mexe, e o Domingos Viegas (Cabeludo) e a Irene Salvador (a brasileira), que já nos deixaram e vão ficar chateados contigo, por teres aparecido lá cima sem lhes dizer nada. Isso não se faz, não é Mano Velho?

Não deixemos morrer ou amolgar o Jornal do Algarve


Uma frase, que foi fazendo história, em cada novo tempo de aniversário, era aquela conjugação de esperança: Não deixem morrer o Jornal do Algarve.


Claro, que esse será sempre o desejo.


Mas eu pergunto. Sendo também dono desse desejo, quem é que pode, no arranque desta injustiça que foi o desaparecimento do Fernando Reis. Deste desgraçado tempo novo, responder com positividade e a lealdade, à mulher, Luísa Travassos, que passa agora a ser a mãe e o pai de gente quase da sua idade. Das suas filhas, das suas cunhadas, do seu irmão, da Lídia, dos garotos, desculpem malta jovem, que agora começaram a dar os primeiros passos no jornal, também com o apoio e o calor profissional do João Prudêncio, dizer, que sim senhor o JA vai continuar?


Nós sabemos como é o País solidário., Esse estranho pais de agora, que tem cada vez mais viva a cruel esperança: Quem morrer que se enterre.


Luísa. Temos que contrariar esse destino. Já saltei da trincheira, com muito esforço, sempre são 77, mas continuarei ao vosso lado, com todo o carinho do mundo, como se fosse teu filho. Sim se tu és a mãe e és o Jornal do Algarve, e se eu sou filho do JA, eu sou teu filho.


Mãe! Não nos abandones…


E como escrevi no facebook na hora da injustiça:


“Faleceu o meu amigo e Mano Velho, Fernando Reis.


Tenho os olhos em lágrimas, também pela revolta que sinto, pela sua morte, pela dor da sua família, por este mundo injusto e cruel em que vivemos.


Fernando Reis, era Licenciado em História, Director e Proprietário do Jornal do Algarve, o mais importante órgão da imprensa Regional do Algarve.


Era um homem empreendedor, um hábil fazedor de amizades, mas nunca deixando que com maior ou menor dificuldade, que alguém, por mais ou menor importância em termos políticos ou publicitários, amolgasse às páginas do seu jornal.


Vivi com o coração nas mãos, os derradeiros quinze/vinte dias, dos momentos mais dramáticos da vida do meu Mano Velho.


Estou de rastos. Parece que tenho um compressor a empurrar-me contra um muro e de tal forma que me sinto sem forças para dar um passo em frente, por isso quero apenas deixar um bj à Luisa, sua esposa, minha grande e fidelíssima amiga, que tenha forças para pegar em todas pedras para voltar a reerguer o muro, por ela, pelo Fernando, pela Susana, pela Marta, por toda a família.


À Malta do Jornal do Algarve, que se agarrem a cada momento, em que foram feitas todas as edições e juntos partamos para um novo dia.


O Chefe, ao contrário do que pensam, continuará presente e bem atento.


Fernando. Mano Velho, eu sei que só dou barraca, mas mesmo assim, não vou desistir de gostar de ti.

JÁ TENHO SAUDADES TUAS.
FOI UMA HONRA CAMINHAR
A TEU LADO”.


Que Vila Real de Santo António e o Algarve, não tenham medo, de olhar ao retrovisor e ver o que Fernando e o Jornal do Algarve, fizeram por estas terras e ainda por cima, o caminho asfaltado que deixou para o futuro.


Não sei por quanto mais tempo, mas vou continuar por aqui, por este remate certeiro, trazendo à tona a beleza da nossa amizade, que começou em Portimão, terias tu pouco mais de 15 anos, num encontro na Casa Inglesa, onde me trataste por senhor Neto. Desde esse dia a nossa vida foi uma história inacabada.


MANO VELJO JÁ TENHO SAUDADES TUAS. MERDA DE MUNDO CRUEL…


Nem imagino o que será agora o lugar dos bons, quando lá em cima, o Fernando Reis, se encontrar com o grande António Rosa Mendes

Neto Gomes

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