Retalhos da minha vida no Jornal do Algarve

A minha ligação ao jornal do Algarve começa praticamente com o combate em favor de duas causas, a exploração espacial e a libertação da poesia do espartilho da métrica.


José Manuel Pereira, então Chefe da Redação, homem que incansavelmente enfrentava o poder com as suas “Brisas do Guadiana”, calmo, seguro e democrata convicto, acolheu-me e guiou, no final dos anos 60, pelo jornalismo.


Por essa ocasião o Jornal do Algarve já há dez anos que erguia a sua voz em defesa da Região e era porta-voz das grandes reivindicações da intelectualidade algarvia, apesar do lápis azul da Censura. Pareava com os órgãos de informação regionais Notícias da Amadora e Jornal do Fundão, cujos diretores conheci pessoalmente mais tarde.


Comecei a participar mais ativamente nas páginas do Jornal do Algarve com o advento da democracia e a chegada do exílio do escritor e jornalista António Vicente Campinas, meu saudoso camarada e amigo.


Em finais de 1978, por dificuldades de conciliação da sua profissão com a chefia da Redação, José Manuel Pereira abandona o cargo. António Barão, por indicação de Vicente Campinas, reconhecendo a minha dedicação ao jornal, nomeia-me Chefe da Redação, cargo que exerci pro bono desde 1 de janeiro de 1979 a maio de 1983.


Convivi nesses anos com António Barão, filho do fundador José Barão, e com a viúva D. Ana Barão que se encarregava da gestão. Foram anos muito difíceis para o jornal. A vida profissional do diretor, na TAP, intensificou-se, a inflação chegou quase aos três dígitos e António Barão decidiu vender. Testemunho que aguentou até não mais poder, o legado do pai. É um homem afável, delicado, bem-educado, conversador e foi um precioso auxílio na execução das suas orientações em defesa de uma democracia que dava os primeiros passos, das autarquias que receberam a Lei das Finanças Locais precisamente no dia em que me deu posse.


Vendeu, depois de me ter consultado, a um grupo de professores, nos quais se encontrava António Rosa Mendes. Dias depois, nunca me disse o motivo, arrependeu-se e pediu-me para ocupar fisicamente o edifício da sede do jornal até consumar o novo negócio, não sem antes me ter pedido opinião sobre os novos proprietários da Viprensa.

Naturalmente foi positiva, porque os conhecia bem.


Seguiram-se dias tumultuosos. António Barão procedeu legalmente anunciando aos primeiros compradores que lhes pagaria o dobro do sinal, mas eles resistiram até que na sequência de uma manifestação à porta do jornal o litígio chegou ao fim. De tudo quanto afirmo há testemunhas felizmente ainda vivas que me dispenso mencionar.


Nos primeiros anos da nova administração não participei muito na vida do jornal, mas estive ligado à Rádio Guadiana, no noticiário matinal, uma vez que a Viprensa, editora do Jornal do Algarve, era também proprietária da estação de rádio.


Mais tarde regressei. Nunca fui profissional no Jornal do Algarve tal como tantos outros que com ele colaboraram e colaboram em defesa do nosso Algarve. Porém, e sei que sou visto como muito mais que um colaborador ou esporádico prestador de serviços, sempre na perspetiva de ajudar o desempenho da nobre missão deste órgão de informação que, como toda a imprensa regional, necessita cada vez mais de leitores, assinantes e pequenos anunciantes para cumprir a capilaridade da sua missão informativa.


Agradeço e agradeci em vida ao meu amigo Fernando Reis as oportunidades que me proporcionou enquanto diretor do jornal. Com o Jornal do Algarve acompanhei Ramalho Eanes à Jugoslávia de Tito, assisti ao Dia de Portugal na Região Autónoma da Madeira, acompanhei a Orquestra do Algarve a diversos concertos, incluindo o Teatro D. Maria II e o Parlamento Europeu, a luta em Bruxelas pela certificação do sal e um seminário sobre segurança marítima e fronteiras.


Também lhe fico grato pela edição dos meus livros «Sol e Sal», «Xá e Luís na Circunstância» e «A misteriosa Sovieta Ulianova».


Uma palavra para a Luísa Travassos que corajosamente assumiu a Direção do Jornal e o meu compromisso público de que, enquanto estiver de posse das minhas faculdades, o Jornal do Algarve pode sempre contar com a toda a disponibilidade em defesa da sua nobre missão de informar.


NOS 65 ANOS DO JORNAL DO ALGARVE

José Cruz

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