A edição de 2022 da Rota do Petisco realiza-se de 14 de setembro a 16 de outubro com a participação de 220 estabelecimentos de 11 concelhos algarvios, indicou esta segunda-feira a Câmara Municipal de Albufeira.
Aljezur, Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Monchique, Lagoa, Silves, Albufeira, Loulé, São Brás de Alportel e Tavira são os municípios que vão ter estabelecimentos a propor um menu petisco (petisco e bebida) de 3,5 euros e um menu doce (sobremesa e bebida) a 2,5 euros.
A iniciativa, organizada pela associação sem fins lucrativos Teia D’Impulsos (Portimão), é um projeto de cariz cultural e recreativo que visa promover a restauração e o comércio local, bem como a gastronomia regional algarvia, tendo ainda uma vertente solidária, este ano dedicada à juventude.
No Ano Europeu da Juventude, o valor do passaporte que dá acesso ao evento de 1,5 euros reverte na totalidade para seis instituições e projetos da região que combatem a discriminação social, racial e/ou de género, promovem a saúde mental dos jovens e impulsionam o voluntariado jovem.
Aparte qualquer chauvinismo local e tão só, na qualidade de cliente, permita-se-me sugerir, no âmbito na “Rota do Petisco 2022”, entre várias outras pérolas da gastronomia das várias localidades do nosso Algarve, o magnífico “Galo com Grão”, servido aos domingos, no restaurante “Café dos Caçadores”, em S. Bartolomeu de Messines, por gente simples e acolhedora.
Trata-se de galo capão, que, mesmo depois de cozinhado, mantém uma textura dura (entenda-se, de crescimento lento), a qual empresta ao prato um sabor à antiga, já fora da moda da generalidade dos restaurantes actuais.
Uma raridade, com o eventual epílogo feliz – se for o caso da preferência do comensal – de uma inesquecível torta de alfarroba, acolitada pelo indispensável cálice de genuína aguardente de medronho, proveniente de destilação, na serra algarvia.
Este é um convite que aconselho vivamente, a quem visitar a terra de João de Deus, a terra que me viu nascer, aninhada num vale, tendo, no pico da sua vertente norte, o mítico Penedo Grande, formação rochosa de arenito vermelho, içada, ao alto, pela força telúrica da Placa Africana contra a Placa Euroasiática, no cimo do qual, inspirado na visão do horizonte longínquo do manto ondulante da Serra Algarvia, o nosso Poeta deu à luz boa parte da sua poesia lírica, de uma simplicidade enternecedora.
Permita-se-me a transcrição de um dos seus poemas.
“A VIDA”
A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa,
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares
Uma após outra lançou,
A vida — pena caída
Da asa de ave ferida —
De vale em vale impelida,
A vida o vento a levou…