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Efeitos disto para o Algarve

Claro que vai ter efeitos. A queda do Governo é apenas um episódio – foi toda uma política, uma pose, um estilo e um rumo que desandou. No que diz respeito ao Algarve, a principal consequência é a do caminho aberto, da expetativa e da esperança de que o comando dessa estrutura vital para a região – a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve – seja de algum modo corolário ou consequência do mapa dos votos na região e não de nomeação do poder central. E haverá mais consequências, a começar por um aperto no escrutínio do poder local, esteja este nas mãos deste ou daquele, mas com mais forte incidência no poder local que tenha agora sido surpreendido pela mudança nacional de rumo. O que é benéfico, pois alguns se modificaram mal entraram numa câmara ou numa junta, mas também algumas câmaras e juntas se modificaram com a entrada de alguns. O escrutínio, seja pelas assembleias municipais ou pelas assembleias de freguesia, vai ser mais rigoroso e atempado. Ninguém pode falhar, e ninguém, como se costuma dizer, pode deixar uma perna de fora.

Além disso, foi posto um enorme travão à diabolização de qualquer força política organizada, por certo gerando-se um mais vasto capital político de cooperação e de colaboração adulta. Aliás, ou é agora ou nem tão cedo haverá condições para que as decisões políticas e respetivos debates percam de vista o bem comum e o interesse público, em vez de ficarem atolados no funcionamento das chamadas correias de transmissão. Isto afeta todos – os que perderam tendo insuficientemente vencido e os que ganharam tendo aparentemente perdido. Não será já amanhã ou daqui a uma semana, mas todos vão ser diferentes pela lógica da sobrevivência ou da recuperação política. PSD e PCP vão ser “outros”, PS vai ser “outro”, BE “outro” vai ser, o CDS dificilmente vai poder contar com barriga de aluguer pelo que terá de contar ou reconstruir a sua própria realidade e raiz, porque facções, seitas e grupos de pressão que minam o que de melhor uma Democracia possa ter, aprenderam todos uma grande lição – a de que as coisas dependentes do voto não são favas contadas e que há uma inteligência coletiva que funciona, embora sem corpo.

Nas autarquias, tudo está na fase do meio-mandato, o calendário para as eleições locais galopa e estas, mais uma vez, irão funcionar como avaliação do desempenho do poder central, se este não sofrer sismos do grau 8. E no quadro atual, sobretudo num Algarve que não tem lobbies em Lisboa, as autarquias, no seu conjunto, são tudo ou quase tudo o que uma região pode dispor, com responsabilidade acrescida se a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional vestir fato novo, e não andar por aí em pijama a fingir de fato. Por outras palavras, se vier a ser uma comissão que, para além de coordenar e desenvolver, emane de escolha legítima e sob escrutínio apurado.

Também por tudo o que de dramático ou trágico aconteceu ao longo da última década, o Governo central já não pode voltar a ser uma espécie de organização de mordomias, com montagem mais ou menos sábia ou sofisticada. Esse tempo acabou, precisamente nesta semana. O Algarve, que também nunca teve grande posição na corrida às mordomias, antes pelo contrário, pode ficar beneficiado por critérios mais justos e compensatórios do que aqueles que, até agora, na prática, o têm punido, sem poder levantar a voz, até porque não tem voz. Por isso é muito provável que possa ter voz, porta-voz e voz à medida da sua garganta e dos seus pulmões, fazendo-se ouvir para além do Caldeirão. E, como agora também é moda dizer, voz positiva, e não negativa, sendo certo que as águias não geram pombas.

Flagrante palpite: Quando António Costa voltar ao Algarve, certamente não vai estar tão isolado como por vezes pareceu. Não faltará companhia.

Carlos Albino

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