SMS: A educação que nos espera

Dizia Arquimedes a propósito da teoria das alavancas – Dai-me um ponto de apoio e eu levantarei o Mundo. É hábito, quando queremos imaginar que somos capazes de alterar a vida, referir esta expressão retirada da dinâmica para mostrar que, desde que se encontre o ponto onde imprimir força, o que desejamos alcançar acontece. Assim, a frase de Arquimedes, passou do mundo da mecânica para o universo da vontade. A vontade de erguer, a vontade de passar à frente, a vontade de criar o milagre humano da realização. Quando se pensa na Educação em Portugal, a pergunta que surge é esta – Porque não se encontra o ponto de apoio certo para fazer erguer a Escola em Portugal? E, no entanto, não têm faltado declarações de amor à causa, nem projectos que tenham surgido como salvadores.

Ficou célebre a declaração de António Guterres, quando primeiro-ministro (1995-2002), de que a Educação era a sua grande paixão. Os primeiros ministros que se lhe seguiram à vez, uns mais explícitos, outros menos, todos disseram o mesmo ou parecido, pelo menos nenhum disse o seu contrário. Admitamos mesmo que todos delegaram a pasta da Educação em ministros que tiveram a paixão da Educação. Todos prometiam colocar a haste da alavanca no ponto de apoio certo. O que se passou então? O que se passou que o grau de indigência científica, comunicacional, comportamental, entre a esmagadora maioria os adolescentes e jovens se tornou absurda? Passou-se que, cada ministro da Educação apaixonado pela causa, escolheu o seu ponto de apoio ao lado daquele que faria levantar a Terra.

Mas Maria de Lurdes Rodrigues colocou a sua paixão na burocratização da Escola, na perseguição aos professores, na exigência de performances inenarráveis, ateou fogo à sala dos professores. Em vez de os formar, perseguiu-os, em vez de recompensar os devotados, despromoveu-os, e por aí adiante. E há passos que não se conseguem apagar. Nuno Crato, que se lhe seguiu, desviou as políticas num sentido oposto, mas ficou enredado na mesma burocratização, no mesmo desentendimento sobre a função dos professores, na mesma desautorização, na mesma culpabilização, em vez da promover a disciplina dos alunos, o seu trabalho, o seu sentido de dever, acreditou que obrigando-os a fazer exames como no Estado Novo, resolvia o problema pela coação. Agora, passaram todos estes anos de Tiago Brandão Rodrigues e a Escola Pública encontra-se no mesmo ponto. Poucos são os professores que resistem a uma profissão que só se justifica se for exercida em clima de ordem, afeto, confiança mútua. E eis que a situação se escancarou e mostrou uma sala vazia com papéis pelo chão. Já se sabia que assim era, não se compreende como tanta gente responsável o ignorou.

E, em particular, o que se passa no Algarve?

Por aqui, todas as estatísticas mostram que a Escola do Algarve é a menos empenhada de Portugal, a menos criativa, a menos motivadora. Há excepções, sim, mas contam-se pelos dedos de uma mão. Sabemos todos quais as razões para que assim seja. O caldo cultural desagregado onde se move não poderia deixar de ter o seu efeito. Por isso, as perguntas impõem-se – Ninguém acorda? Ninguém é capaz de agremiar vontades? Impulsionar um outro ritmo? Promover uma outra exigência? Ou vamos deixar que rapazes de dezasseis anos não saibam ler um texto, não saibam perguntar e responder, não saibam calcular, não saibam conversar, não saibam quando dizer bom dia e boa tarde? Não saibam sentar-se à mesa, escutar alguém para além de dois minutos, olhar olhos nos olhos quando se dirigem a um interlocutor? – O telemóvel na mão e o écran em casa, por si só, não salvam ninguém da indigência. Uma indigência que se propagará ao futuro de forma irreversível. O Algarve precisaria de fazer os seus Estados Gerais da Educação.

Flagrante preço: A ignorância gera o apoio aos ansiosos de ditadura. Já os candidatos a ditsdor sabem muito… muito mesmo!

Carlos Albino

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