SMS: A favelização do Algarve

Favelização vem de favela. O mesmo que bairro da lata cuja extinção à volta de Lisboa tanto custou e ainda existem amostras. Em Moçambique e em Angola chama-se musseque. No Algarve tem um nome mais pomposo – chama-se Casa Móvel que é a semente de uma favela ou de um bairro da lata, como queiram. É uma moradia precária e quase sempre, passada a fase da pintura fresca e de alguma vergonha, é um exemplo de miséria e degradação. O conjunto das ditas casas móveis ainda não tem nome, por enquanto são uns implantes isolados, mas não tardarão os conjuntos. Há empresas com enormes lucros obtidos com tais assentamentos urbanos informais caracterizados por moradias precárias que vão do barraco mal construídos até quase edifícios que metem respeito, mas todos, independentemente do seu tamanho, implantados às escondidas, atrás do que fica mais ato ou no fundo de um vale fora das vistas, colhendo de surpresa as vizinhanças, e à margem da atenção das juntas de freguesia e das fiscalizações de câmaras, algumas destas companheiras na sabedoria em ladear a legalidade que as empresas vendedoras comprovam possuir. E aí temos a Casa Móvel a ocupar o espaço ou a suceder à casa rural algarvia. Os montes vão-se enchendo dessa praga que, à evidência, prova a falta de habitação social e de políticas públicas para a habitação, numa terra em que o turismo devora tudo pelo menos enquanto não se devorar a si mesmo. Sem serviços básicos, tais como o saneamento, o abastecimento de água potável, a eletricidade, o policiamento, o corpo de bombeiros, além da falta de infraestruturas em geral e de regularização fundiária, as casas móveis, não tardará que favelizem o Algarve. E será tarde.

Na manhã de terça-feira, assisti à forma como uma dessas casas móveis entrou por um caminho rural como se de uma invasão militar se tratasse. O homem que, com tal arma, ia no ato da casa amputar as ramadas mais elevadas, fazia-o como um mercenário colonial ávido de desfile heróico na Avenida da Liberdade. Precedida por veículos como que para assalto de surpresa e seguida por outros tantos atrás para limpeza sagaz de sapadores, montada sobre um veículo longo de transporte excepcional mais largo que o caminho, a casa móvel era antecedida por uma coluna de homens armados com motosserras. Abas de alfarrobeiras e ramadas de amendoeiras eram cortadas sem autorização de proprietários para que a casa móvel passasse até ser colocada por gruas gigantescas num terreno esconso. Lá ficou. Pelo que observei o único problema foi apenas o do transporte excepcional, não foi para todos os agentes convocados o problema de mais um contributo para a favelização sem licenciamento. Aquilo é chegar e montar arraiais. A terra é selvagem.

Sei que há municípios que estão a prestar alguma atenção para este fenómeno que, a generalizar-se, borra a imagem do Algarve, a imagem do passado, do presente e do futuro. Julgo que estão a prestar atenção até para o negócio sórdido das casas móveis e outros semelhantes como o caravanismo selvagem junto de emigrantes confrontados com a falta de habitação que é um drama. Só que a resposta não pode ser dada por cada município, tem que ser uma resposta da região e para a região. Antes eu seja tarde.

Flagrante semelhança: Dizem os livros, que o termo taifa, no contexto da história ibérica, refere-se a um principado muçulmano independente, um emirato ou pequeno reino existente no Alandalu, após o derrocamento do califa Hixam II (da dinastia omíad) e a abolição do Califado de Córdoba em 1031. Mais se diz que o termo deriva da expressão árabe muluk at-ta’waif, ou «os reis das facções» (simplificada em ta’waif, donde a facção, o reino). Como isto persiste!

Carlos Albino

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