SMS: Os Vira-casacas

Julgavam muitos que, com o pronto-a-vestir, as alfaiatarias políticas teriam que fechar portas à falta de clientela, e que, entre outras atividades relacionadas com fatos e casacos, as costureiras culturais entrariam na lista das profissões desaparecidas. Nada disso.

Quando menos se esperava, nunca houve tanta procura por parte dos que têm que recorrer ao trabalho discreto dos artesãos para virarem o fato ao avesso, para parecerem diferentes usando o mesmo casaco e as mesmas calças, ou a mesma casaca que, como se sabe, é a peça de vestuário para afirmação de pertença a elite. Nas alfaiatarias políticas, então, o negócio nunca foi tão intenso e até tão rentável, embora os picos de tal negócio coincidam a aproximação de eleições, negócio sazonal, portanto.

E os que viram a casaca, geralmente não o fazem por ideias ou por evolução de pensamento. Fazem-no por conveniência e interesse em função de quem julgam que vai ser o novo dono da fábrica de tecidos e que irá estabelecer as cores da moda. A alfaiataria, no caso, é uma questão secundária. O principal é a fábrica. Por isso, os Vira-casacas andam convencidos de que se vestem sempre à moda, mesmo quando na alfaiataria, do avesso da casaca sai pijama.

Por erro de interpretação insanavelmente divulgado, julga-se que os Vira-casacas são indivíduos que mudam frequentemente de opinião ou de ideias. Não será bem assim. Os Vira-casacas mantém e defendem sempre a mesma ideia, que é a ideia do interesse que lhe está na pele e não no tecido da casaca, e nunca saem da mesma opinião, que é a opinião da conveniência talhada na exatidão da sua medida de ombros e cintura. Apenas quando engordam ou quando emagrecem, conforme, é que a opinião e a ideia parece mudar para mais ou para menos. Neste caso, os Vira-casacas apenas mudam de ementa e não de opinião ou de ideia, uma e outra, aliás, muito pouca, e pouca que seja, preparada para a coerência do avesso. Daí que, sempre que as suas conveniências e os seus interesses não se ajustam à casaca, os Vira-casacas apressam-se invariavelmente a dizer: “A minha coerência está ferida”.

Bem hajam.

(Próximo episódio: Os Apanha-bolas)
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“Flagrantes ares: Os mais céticos estão absolutamente rendidos – com o que se disse e com o que se discursou a propósito da renovado e ampliado Aeroporto de Faro, sem dúvida que o Turismo, por enquanto, cai da céu.

Carlos Albino

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