SMS: Pois que voz o Algarve tem?

A voz de uma região que tenha alguma identidade, alguma vontade que expresse com lealdade o mínimo colectivo comum, e tenha algum objetivo estratégico que aporte no desenvolvimento e progresso, essa voz naturalmente que não depende de eleição, embora às eleições se possa colar. Nem é ou pode ser consequência lei ou de decreto-lei, muito menos de despacho. Tal como na voz humana, a voz de uma região depende do mecanismo para a gerar. Se não tiver tal mecanismo, pois que voz? Ou seja, precisa essa região de ter pulmões, pregas vocais dentro da laringe e, coisa fundamental, precisa dos instrumentos articuladores – lábios, língua, dentes, palato duro, véu palatal e mandíbula. Não basta ter garganta por melhor que seja a gravata que tire partido do pescoço, ou por mais vistoso que seja o colar com que alguém simule ser um bom partido. Se a região não tem possibilidades de produzir sons articulados emitidos pela boca, também nenhuma onda sonora própria vai atingir a cóclea do ouvinte.

O ideal é que a região não tenha uma só voz, mas várias vozes, embora alguma destas tenha que ser dominante se a região não falar em coro. Até será saudável que haja alguma voz dominante que tome o lugar de outra e dê a vez a alguma mais, porque falar em coro supõe arranjos.

E se uma região não tem voz que se ouça, se perceba e represente o mínimo sentimento e a mínima vontade comum, tem que se aguardar que haja mandíbula, véu palatal, palato duro, dentes, língua e lábios. Tudo isto. Tem que se aguardar com paciência nem tem seja até à eternidade do nunca. Uma voz não pode ser obtida por concurso público e muito menos por nomeação governamental. Por concurso público, o mais certo como a experiência já deu para ouvir, a região apenas contará com ventríloquos, ou seja voz devido ao uso do estômago durante a inalação. Barrigas falantes, portanto. Por nomeação governamental ou por qualquer outra nomeação, a região não se livrará de ter e ser a voz do dono, que é a pior das homenagens a quem, podendo ter e usar voz, apenas ladra por instinto ou obediência.

O Algarve, em matéria de voz, tem que aguardar. É verdade que de vez em quando protesta. Mas só protesto, queixume, reclamação, discordância, desacordo, desagrado, etc., não faz voz. Quando muito esgota-se no grito. Como a experiência já deu para ouvir. Paciência.

Flagrante desnorteamento: Enquanto não houver um centro de produção de televisão do Algarve, seja público ou privado, o Algarve quanto a Comunicação, andará à nora se é que não andará às aranhas.

Carlos Albino

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