SMS: Soube a muito pouco, a quase nada

O Algarve possivelmente é isso mesmo: uma máquina de apagar, um botão Delete no teclado sul do País, um fármaco para esquecer. Refiro-me aos 750 anos de Algarve como parte do celebrado estado-nação que hoje mesmo, dia 16 de fevereiro, se completam e que deveria ser evocada como símbolo de identidade, como sinal indelével da história da região. Sabemos que a Universidade do Algarve respondeu e promove uma sessão, sabemos que uma jovem editora – Sul, Sol e Sal, se associou à passada de Gambelas, sabemos também que este Jornal do Algarve abriu portas a uma parceria pontual com essa mesma editora, e sabemos também que o Corpo Consular Acreditado no Algarve comemora os 750 anos da integração do Algarve no território português, na Pousada de Tavira. E mais nada. Pelo contrário, entidades do governo e entidades locais nem sequer foram capazes de fazer o chamado sacrifício de agenda a favor de uma data que não se repete. É isto aqui, aquilo acoli, nada tendo a ver com o assunto. Só terá faltado, para este mesmo dia e para a hora das modestas evocações, a marcação de uma conferência de imprensa de Sousa Cintra sobre furos. As poucas “entidades regionais”que temos, as autarquias no seu pressuposto conjunto, o próprio governo, particularmente ministérios que deveriam ter sensibilidade para o assunto, deixaram a máquina de apagar a funcionar na sua rotina, enfim, o dedo coletivo do Algarve a carregar na tecla Delete.

Nem Faro, com a sua expetativa de vir a ser Capital Europeia da Cultura de 2027, carregou no Enter desta mais valia irrepetível e de que poderia tirar partido. As televisões nada disseram, porque também não existem no Algarve como televisões nacionais; as rádios continuaram na sua função de grafonolas automáticas, etc.. O que se faz com os 750 anos de Algarve, sabe a pouco ou mesmo a nada.

Fosse outra região do País a ter uma data destas, não sei o que não aconteceria em Guimarães, na Guarda, no Porto ou em Coimbra, e o que jornais, rádios e televisões não diriam de Coimbra, Porto, Guarda ou Guimarães, para assinalar uns 750 anos da entrada definitiva e formal de um território para a soberania portuguesa, com a fixação multissecular das suas fronteiras e uma vivência peculiar e identitária dentro delas, à mistura com lendas.

Com a vinda do verão, não vão faltar “festivais medievais”, teatros de comidas e bebidas com gente trajada de mouros ou de cavaleiros da Ordem mais ou menos de Santiago para proclamada atracão turística, não vão faltar “eventos” a fazer da história algarvia uma história de falsete. Mas hoje é que se deveria celebrar a verdade do Algarve, nos seus 750 anos, verdade essa que colocou os castelos de Castela no brasão real de Afonso III por dote de casamento, mantidos até hoje no símbolo nacional. Talvez na previsão da tecla Delete, Paio Peres Correia se tenha exilado em Sevilha em cuja catedral está sepultado, apesar de dar nome a ruas aí por todo o Algarve, quando cada rua se deveria chamar Rua Delete.

Flagrantes laranjas: No supermercado ali estão “laranjas do Algarve” cujo sumo, segundo diz quem pode provar, sabe a laranja espanhola.

Carlos Albino

 

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