“Sobe e desce” britânico põe região em polvorosa

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Dezenas de milhar de turistas britânicos foram forçados a regressar mais cedo ao seu país devido à decisão do Governo de Boris Johnson em retirar Portugal do seu corredor verde, obrigando os cidadãos do Reino Unido de férias em Portugal a uma quarentena de 10 dias no regresso ao seu país

A decisão de voltar atrás na exigência de testes à chegada e desconfinamento de dez dias foi tomada na quinta-feira, dia 3 de junho, e começou a ter efeitos a partir da última terça-feira, dia 8.


Escassas três semanas depois do entusiasmo com o regresso dos britânicos a Portugal, sobretudo ao Algarve, assistiu-se à profusão de enchentes em massa no aeroporto de Faro, com milhares de turistas a anteciparem regressos e voltar ao Reino Unido sem risco de serem apanhados “nas malhas” da quarentena.

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Desde terça-feira que o país deixa de constar na lista verde do Reino Unido, passando a vigorar a quarentena obrigatória de dez dias no regresso a casa e, par disso, qualquer pessoa que chegue de Portugal tem de realizar dois testes à Covid-19 à chegada.

Após o anúncio da decisão britânica, milhares de turistas interromperam as férias e rumaram a casa. Só no passado sábado, terão partido de Faro cerca de 10 mil turistas britânicos, de acordo com o presidente do Turismo do Algarve.


Em comunicado divulgado há uma semana, o Ministério dos Transportes britânico anunciou que Portugal, incluindo os arquipélagos da Madeira e Açores, iria deixar a “lista verde” de viagens internacionais a partir do Reino Unido na terça-feira às 04h00.

Segundo o Ministério, Portugal passa para a “lista amarela” para “salvaguardar a saúde pública contra variantes preocupantes” e proteger o programa de vacinação britânico.

No comunicado, o Governo britânico referia que, de acordo com a base de dados europeia GISAID, foram identificados em Portugal 68 casos da variante B1.617.2, identificada pela primeira vez na Índia, denominada pela Organização Mundial de Saúde por variante Delta, “com uma mutação adicional potencialmente prejudicial”. A direção geral de Saúde de Inglaterra (Public Health England) está a investigar esta variante e mutação para perceber melhor se ela pode ser mais transmissível e mais resistente às vacinas.

João Fernandes, presidente da RTA

Decisão “política”, diz RTA


Segundo João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), no sábado “houve uma concentração de cerca de 10 mil passageiros britânicos para sair, mas é interessante também perceber que, no mesmo período, chegaram 2.500. Portanto, apesar das regras britânicas, ainda há britânicos a chegar ao Algarve”, sublinhou.


João Fernandes explicou que os passageiros, “muitos deles britânicos”, se viram obrigados a “antecipar o regresso para chegar ao país antes de terça-feira” e escapar assim à obrigatoriedade de realizar uma quarentena de 10 dias e dois testes à Covid-19 nesse período devido à medida imposta pelo Governo britânico a todos os passageiros que cheguem ao Reino Unido proveniente de Portugal.


O presidente do Turismo do Algarve classificou como “política” a decisão do Reino Unido de retirar Portugal da “lista verde” de viagens.
“É uma decisão que o Governo britânico tomou por uma questão de política interna e não por uma questão de risco”, afirmou o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), frisando que a justificação dada pelas autoridades do Reino Unido “não utiliza Portugal como referência” para as infeções de covid-19 e até Malta, “que tem uma incidência de nove casos por 100.000 habitantes, ficou de fora” da “lista verde”.

João Fernandes reconheceu que a decisão britânica “tem impacto claro na região”, por o Reino Unido ser o “principal mercado emissor” de turistas para o Algarve, e lamentou os “constrangimentos” que a medida causa, “desde logo para os que já cá estão e tinham a sua volta prevista para depois de terça-feira, que é o dia a partir do qual esta medida [teve] efeito”.

“Estamos já a assistir a uma concentração de voos de repatriamento e a um cancelamento de voos para o período posterior e das reservas também em hotéis. Esperemos que esta medida seja revista o mais rápido possível, porque ela é de todo injusta”, considerou.
João Fernandes disse ainda que o Algarve teve “100.000 movimentos de passageiros de origem britânica” durante as duas semanas anteriores à decisão e que, segundo dados fornecidos pela Administração Regional de Saúde entre os passageiros britânicos, “houve apenas a registar – e todos eles são testados – seis casos”.

“Seis casos por 100.000 habitantes é um número muito inferior àquele que se regista no próprio Reino Unido, até porque os britânicos, antes de viajarem para Portugal, têm de fazer um [teste] PCR”, acrescentou.

Elidérico Viegas, presidente da AHETA

Algarve paga por Lisboa, diz a AHETA


Entretanto, a retirada de Portugal do corredor verde de voos para Reino Unido é considerada “injusta” e “penaliza” o Algarve pelas infeções de covid-19 registadas em zonas como Lisboa, frustrando expectativas para o verão, disse o presidente da associação hoteleira regional.


O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, reagia assim à decisão anunciada pelo Governo britânico.

“Apesar de injusta, é uma má notícia para nós e isto não deixa de afetar negativamente as boas perspetivas que tínhamos para este verão, uma vez que, além da procura do mercado interno, estávamos a ter um aumento muito significativo de reservas oriundas do Reino Unido e isso fazia prever que tínhamos um verão bastante melhor do que no ano passado”, afirmou Elidérico Viegas em declarações à agência Lusa.

O presidente da AHETA mostrou-se “plenamente convicto” de que “a situação poderá ser revertida quando for analisada novamente pelo Governo britânico”, mas reconheceu que a notícia é “desmotivadora”.

“Embora nenhum outro destino concorrente tenha sido incluído na lista verde, os britânicos podem continuar a vir de férias, agora sujeitos a restrições no regresso ao país, designadamente a quarentena, mas a verdade é que isto é desmotivador para quem quer fazer férias no exterior e não deixa de ter impacto negativo nas reservas e na procura turística”, acrescentou.

Elidérico Viegas lamentou que o Algarve esteja “a ser penalizado mais uma vez, não por ter indicadores acima dos considerados seguros, mas porque o resto do país, designadamente a zona de Lisboa, apresenta um número importante do número de infetados e no chamado índice de transmissibilidade, conhecido como RT.

“A nossa diplomacia poderia desenvolver aqui esforços, no interesse público da região, mas também do país, para que o destino para onde os britânicos vêm preferencialmente, que é o Algarve, fosse salvaguardado”, apelou Elidérico Viegas.

AMAL querem manter apoios às empresas


Entretanto, os autarcas algarvios, através da AMAL, pediram que se mantenham os apoios aos empresários algarvios “que se prepararam para receber turistas ingleses e que por isso ficaram agora numa situação ainda mais difícil”.

Em comunicado, a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), em representação dos 16 presidentes de câmara da região, condenou a opção do Reino Unido. No entender da AMAL, ela contraria o esforço que está a ser feito pelos países europeus para permitir a circulação de pessoas e contribuir para a recuperação económica.

Para além disso, e não compreendendo os argumentos invocados, a AMAL sublinha que a decisão “acaba por ser uma dupla condenação: por um lado, surge pouco depois de ter sido criada uma expectativa positiva, que animou o Algarve; por outro, tem um impacto negativo enorme numa região que, estando tão dependente do turismo, já foi das mais castigadas desde o início da pandemia”.


“Desde que o governo britânico anunciou que Portugal deixaria de estar na lista de países seguros para viajar, muitos ingleses cancelaram as suas férias no Algarve. Uma situação que está, naturalmente, a preocupara AMAL, que sublinha que muitos empresários da região, contando com um aumento de clientes estrangeiros, contrataram mais pessoal. Por essa razão, os autarcas apelam ao governo que mantenha os apoios aos empresários algarvios como forma de minimizar o impacto de eventuais compromissos assumidos, bem como do adiamento do processo de retoma da economia regional”, enuncia a associação de municípios.

Algo mais para além dos números, diz Costa


Também o primeiro-ministro reagiu à decisão do Reino Unido de retirar Portugal da Lista Verde dos destinos seguros devido aos casos da mutação nepalesa da variante indiana. No passado fim-de-semana, António Costa lembrou que o Reino Unido tem mais desses casos do que Portugal. “Não pode ser a frieza dos números a explicar esta decisão”, adianta o chefe do Governo, garantindo que as vias de comunicação estão abertas com os britânicos.

O primeiro-ministro diz que o processo que corre na União Europeia de permitir que o Reino Unido possa aderir ao certificado digital europeu poderá vir a “resolver muitos dos problemas” e vai permitir ter “estabilidade”, algo essencial.

Costa disse que o Estado tem “feito o que lhe compete fazer” para que o Reino Unido recue na decisão de retirar Portugal da “lista verde” de viagens internacionais do Governo britânico.

João Prudêncio
*Com Lusa

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