Um debate sem Grécia, mas com Sócrates. E que mantém tudo em aberto

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O grande protagonista do debate foi, como de alguma forma se podia antecipar, José Sócrates, tantas as vezes que Pedro Passos Coelho o trouxe à liça, numa estratégia que aperfeiçoou (e banalizou) nestes quatro anos e que até podia ter deixado cair não fosse a irrestível tentação de voltar a ela dada a recente alteração da medida de coação sobre o ex-primeiro-ministro (que sexta-feira passou a estar em prisão domiciliária). Mas António Costa estava preparado para o previsível ataque e até se permitiu brincar com ele: “O que o senhor gostava era de estar a debater aqui com o eng. Sócrates, mas terá de debater comigo”. E “porque é que não vai lá a casa debater com ele?”.

Num formato que, mais uma vez, deixou pouco espaço ao confronto de ideias – sempre que se esboçava um pretexto para tal, os moderadores cortavam a palavra aos entrevistados -, chegou-se ao final com a sensação que sobrou em discussão sobre a dívida e a segurança social, o que faltou em temas tão atuais (e cruciais) como a União Europeia, a crise dos refugiados, as diferenças entre os programas da coligação e do PS em áreas como a justiça ou a educação. E ficou uma certa perplexidade pelo facto de Passos Coelho só ter aflorado a questão grega e a atuação do Syriza – no que se julgaria ser uma das suas principais armas de arremesso contra o adversário socialista.

No final, feitas as contas, António Costa, sem esmagar, não desbaratou as expetativas de todos quantos lhe exigiam que vencesse o debate – o único frente-a-frente televisivo com o atual primeiro-ministro – como demonstração de que, contrariamente ao que dizem as sondagens (sobretudo a que foi revelada hoje de manhã e dá uma vantagem de mais de cinco pontos à coligação), nada está perdido e a campanha só está no início. Beneficiou do facto de Passos Coelho estar um pouco perdido na primeira parte do debate e conseguiu manter um registo combativo e contundente (e até com alguns apontamentos de boa disposição), ao longo dos 90 minutos, sem perder o foco nas duas principais mensagens que queria passar: 1) que o Governo falhou os objetivos de diminuir a dívida e fazer crescer a economia (“nestes 4 anos o país regrediu 13”); 2) o PS apresenta propostas “conta, peso e medida” (“Era o que faltava eu estar aqui a debater, daqui a 4 anos, com o sucessor de Passos Coelho e ele acusar-me daquilo que eu, infelizmente, tenho de o acusar a si”).

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Resta saber se a prestação dos dois no debate tem influência real no comportamento dos eleitores. Se os indecisos ficaram hoje mais perto de fazer uma escolha ou se a escolha ainda inclui ficarem em casa no dia 4 de outubro. Faltam pouco mais de três semanas para as eleições e está tudo em aberto.

RE

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