VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Na minha última crónica do JA deixei algumas anotações sobre as dificuldades que o centro direita e a extrema-direita revelavam sobre os êxitos do actual governo em matéria económica, finanças públicas, diminuição de desemprego, resultados que sem representarem para o momento alterações profundas na solução de problemas estruturais e desequilíbrios sociais que o Pais apresenta, constituíam um quadro de dificuldades para o discurso da direita e do centro direita, porque incapaz de apresentar proposta alternativa, limitando-se à velha mas sempre presente questão de que, o mais que tudo, é romper com a posição e presença da esquerda nas áreas do poder.

É certo, que a vida política seja qual for o partido, a acção e presença dos seus apoiantes, realiza-se na projecção de sonhos que materializem a sua real ou hipotética, ascensão ao poder e, nesse caminho, convém apesar de tudo sublinhar, algumas diferenças entre os que se mobilizam para alterar as estruturas da sociedade de forma a combater diferenças sociais acentuadas em proveito dos que detêm a maior parte dos meios de produção, industriais, fundiais, patrimoniais, agrícolas, financeiros, face aos que dispõem somente do seu saber e da força como o exercem.

Tudo isto a propósito do recente congresso do CDS/PP no qual Assunção Cristas é aclamada como de uma rainha se tratasse e não vejam nesta expressão qualquer preconceito sexista. Claro que são legítimos os sonhos e a senhora apresenta-se embalada no momento pelas dificuldades de vão de escada em que se encontra o PSD, seu aliado natural, e a circunstância em que a Europa se encontra face ao crescimento do populismo, ao regresso do autoritarismo, e o vazio, diria mesmo descalabro, quer quanto ao centro esquerda como à própria esquerda.

Momento em que ainda estão presentes, na memória, e no entusiasmo que suscitam, os resultados obtidos nas últimas autárquicas para a Câmara de Lisboa. Só que, tudo somado, não dá para tudo. Porque o PSD contínua, apesar do interregno, como um grande partido de centro direita. Ascensão Cristas e a direcção do CDS/PP ao colocarem a fasquia tão alta, ou seja, de se apresentarem com a senhora como expectável Primeira Ministra de um próximo futuro governo, para além da natural ambição, do sonho que comanda a vida, corre o enorme risco de ficar, em futuras eleições legislativas, pelos 7 ou 8%, e nesse momento se tal se verificar, ter não só a dificuldade de enfrentar a mudanças de líder, como a da mudança de nome, como está a acontecer em França com o Partido de extrema direita comandado pelo clan Le Pan, tão só, porque o Pais em si mesmo, social e politicamente é diferente, e o CDS continua com a marca de ser um Partido dos ricos e dos apoiantes do anterior regime porque, apesar dos tempos, para o interior do seu partido, difícil será, passar com credibilidade e apoio as posições expostas de dirigentes, sobre o seu posicionamento e relacionamento sexual, já que, em matéria substantiva de propostas é, em tudo, um vazio.

Tinha aqui sublinhado na última crónica que uma das áreas deste governo que apresentavam menores avanços, acentuando-se dificuldades no acesso à saúde por parte da população mais desprotegida, mais pobre, cujo acesso a uma consulta de especialidade se torna muito difícil, situação que tem justificado um movimento de profissionais de saúde qualificados, no sentido de apresentarem soluções no caminho do reforço do sistema do Serviço Nacional de Saúde, consagrado na Constituição, diria por experiência própria, que não se pode colocar um cidadão em espera de cerca de uma hora para levar uma simples injecção. Foi o que me aconteceu recentemente no Centro de Saúde de VRSA local onde habito. Numa conversa amena com a enfermeira que prestava tal serviço justificava a demora no atendimento com o facto de ser a única de três colegas que deveriam estar de serviço. Exemplo claro a objectivamente justificar o percurso de alguma classe média recorrer aos serviços privados que lhe dão resposta e acesso fácil às suas necessidades mas igualmente a evidenciar quanto é necessário financeiro e técnico para manter, reforçar o SNS.

Carlos Figueira

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