Por aqui também os dias são marcados por sinais de um inverno que se prolonga com frio, chuva e um vento insuportável que nos invade de desconforto e torna a saída de casa num acto quase heróico. Começa a ser difícil encontrar lenha para alimentar a lareira porque as reservas que dispúnhamos se esgotaram. É a primeira vez que tal acontece. Anuncia-se para esta semana a eliminação do uso de máscaras, notícia recebida com agrado porque revela um bom indicador no combate à pandemia e abre caminho para um encontro que coloca termo à incomodidade e ao cansaço do seu uso.
Finalmente está terminado o interregno provocado por eleições antecipadas para a AR, e todo o imbróglio que lhe seguiu, em torno da contagem de votos dos nossos emigrantes na Europa. Empossado está finalmente o XXIII Governo, o terceiro liderado por António Costa, desta vez suportado por uma maioria absoluta, acto a que se seguiu a instalação da Assembleia da República num ritmo adequado ao funcionamento de uma democracia parlamentar. Por sua vez o Governo apresentará esta semana, para ser discutido e votado o seu Programa.
Para quem de esquerda, não foram dias fáceis ao observar o reduzido número de deputados que PCP e Bloco contam para esta legislatura, expressa na perda de metade dos então eleitos, antes de finais de Janeiro. Até agora não se me afigura que quer o PCP quer o Bloco, tenham retirado das profundas derrotas sofridas, as devidas causas que as justificaram. O PCP não compareceu ao acto de apresentação do novo Governo revelando uma posição marcada pelo sectarismo e distanciamento da realidade social a que era suposto ter presente, seguida de intervenções de Jerónimo no mesmo sentido, e o Bloco que continua a ter no PS o seu inimigo principal, esquecendo ambos à esquerda que existe direita, agora representada com maior peso, sobretudo pela extrema direita, e de um Partido que se reafirma representar um modelo liberal que tem fracassado em todos os governos que o têm seguido como ideologia.
Mas a entrada em funcionamento da AR também deu para perceber não só a profunda alteração que as eleições de Janeiro produziram no espectro político, dados os exemplos do grupo parlamentar do Bloco, mascarados como se de um exército salvador da Pátria, seguido pela Iniciativa Liberal que embora com diferenças mais suaves, nos surgiram também uniformizados, com máscaras iguais em todos os deputados, quiçá para assinar de forma maior as diferenças que os separam de outros, também eleitos, para o mesmo órgão de poder.
De assinalar igualmente à direita parlamentar a ausência do CDS que embora titulado como fundador do regime no pós 25 de Abril, a bem da memória histórica, é bom ter presente que este Partido votou contra a primeira Constituição que deu forma ao novo regime democrático em que vivemos. No centro direita continuamos a acompanhar o esforço do PSD para se encontrar a si próprio como Partido, entalado entre a conquista de um eleitorado de classe média ao centro e os desafios que lhe são impostos pelo liberalismo total do IL e o populismo xenófobo, racista, do Chega.
Voltou de novo a ocupar tempo de notícia e comentário político sobretudo nas diversas televisões, o episódio em torno do futuro da vida política do Primeiro Ministro, ao ponto da prometida recuperação do CDS, na expressão do seu novo líder, depender bastante do afastamento para um cargo europeu de António Costa. Francamente, confessando que nunca tive ao longo da minha vida entusiasmos por adivinhações, sobretudo para vidas alheias, trazer para o cenário político actual, especulações sobre tal matéria, expressa o vazio de ideias em que a direita no seu todo se encontra. O Primeiro Ministro e o seu Governo têm de responder perante os portugueses pelos resultados da política para a qual foram investidos, ou seja para nos retirar do atraso em que nos encontramos do ponto de vista económico e social, rompendo preconceitos e barreiras, mas antes abrindo caminho para um País que se deseja mais moderno, menos dependente de forças externas, mais justo para quem trabalha. É esse o desafio!
Da guerra, as notícias continuam a ser arrepiantes quanto a massacres e a destruição de vilas e cidades. São chocantes as imagens que nos chegam de Bucha, as quais condeno veementemente, obrigatoriamente a serem julgadas pela justiça internacional quanto aos seus autores. Entretanto, de tal acontecimento, a Rússia atribui a responsabilidade a forças ucranianas e propõe uma reunião urgente do Conselho de Segurança, reunião recusada pelo Reino Unido que teria a responsabilidade de a convocar. O que no conduz a adoptar uma posição de prudência sobre tudo o que nos é dado como informação fidedigna.
Carlos Figueira