Vai Andando Que Estou Chegando

Os tempos que correm no plano político são inevitavelmente marcados pelo ano eleitoral. O mais próximo ato para as Europeias em Maio, a que se seguirão em Outubro, as eleições para a Assembleia da República. É, a meu ver, nesse sentido, que se têm de entender o que os diversos partidos se propõem oferecer para a sociedade. Quais os projectos e as propostas para cada ciclo, num quadro que tem a particularidade de, face a alguns partidos, se avizinhar mudança de líderes, ou por desgaste de tempo como será o caso do PCP, ou por ressaca de um mau resultado eleitoral na direita nas eleições europeias.

Quanto à direita, à falta de melhor, tem sustentado as críticas ao atual poder em torno das nomeações de familiares do PS, para ocupar cargos de governação: ministros, secretários de estado, formação de gabinetes de apoio, etc. Não deixo de considerar que tais posições tratadas criticamente pela maioria dos jornais e abraçadas por um conjunto de comentadores no mesmo sentido, não produzam algum efeito em algumas áreas do eleitorado e, a meu ver, não possam deixar de ser consideradas de forma crítica.

Mas, nesse sentido, na qual também a demagogia se abraça à hipocrisia para ocultar gestos passados, sugiro a leitura de um interessante artigo do deputado Ascenso Simões, no jornal Público de 28 de Março, no qual o senhor faz uma espécie de inventário (a meu ver curto) do que foram as nomeações da direita em governos nos quais esteve em maioria absoluta. Está lá uma boa parte. Faltam as nomeações para empresas públicas e conselhos de administração de bancos, como entre muitas mais, o das circunstâncias de ter sido possível o genro do Professor Cavaco ter assumido a gestão (não me ocorre o tempo de vigência) do então recentemente inaugurado Pavilhão Atlântico.

Mas se o inventário for mais longe lá teremos Durão Barroso, mais o Vítor Gaspar, então ministro da Economia e a senhora nomeada para cargos de grandes responsabilidades de estruturas internacionais, sem deixar de ocupar o lugar de deputada do PSD, tudo associado aos grandes negócios. Pergunto: porque eram mais competentes, ou porque tal facto fazia parte do negócio em questão?

Mas o desnorte da direita não vai mais longe no plano atual, quer por ausência de projectos para além do que privatizar tudo, reduzir benefícios sociais e salários (há mesmo um dos chefes do patronado que ousa afirmar que o valor do salário mínimo é alto para o que os trabalhadores produzem…!!!), numa perspectiva de redução ao passado que nos conduziu a um dos países mais pobres da UE.

À esquerda e nesse bloco temos necessariamente que incluir o papel que tem desempenhado na chamada “geringonça“ no plano dos avanços sociais que não estavam visivelmente na agenda do PS, das quais há duas situações particulares que aqui desejava deixar: uma delas, a de que para Rui Rio a grande proposta para próximas eleições é a de retirar a esquerda no apoio ao PS, o que diz bem da ausência de propostas e força própria para ganhos eleitorais, mas tanto quanto isso o revelar o incómodo da direita na aquisição dos direitos sociais alcançados; a segunda, a que a medida do governo quanto aos pactos sociais nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e, posteriormente alargadas a todo o País, caiu pelo apoio social que teve, como uma hecatombe, face ao vazio e às diferenças de políticas defendidas pela direita nesta área; por último, a crer nos resultados das últimas sondagens e refiro-me às eleições legislativas, o PS só por si tem mais votos que toda a direita junta, sendo igualmente verdade que para obter a maioria absoluta necessita de consolidar os acordos à esquerda que lhe permitiram, até agora, governar até final desta legislatura.

No plano internacional, para além da catástrofe que ocorreu em parte significativa de Moçambique, a qual está a ter um amplo apoio humanitário, no qual Portugal se destacou desde a primeira hora, pelos perigos políticos que encerra, não pode ficar sem referência a crítica severa à declaração de Bolsonaro, atual Presidente do Brasil, ao minimizar, mentir, desrespeitar os atingidos por diferença de opinião, País severamente governado por uma Junta Militar fascista, e que sofreu imenso, durante várias décadas, com uma das mais sangrentas ditaduras.

Nota: por lapso, no meu último texto, ao referir-me de uma forma crítica às características de regime nas duas Coreias, dirigia-me à Coreia do Norte. Do lapso peço a todos as minhas desculpas.

Carlos Figueira
[email protected]

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