Vai Andando Que Estou Chegando

No seio da turbulência política que se vive a única notícia em que podemos confiar é a marcação pelo Presidente de eleições para a Assembleia da República a 30 de Janeiro, no quadro das suas competências.

De resto continua por parte dos Partidos à esquerda do PS uma azáfama de passa culpas procurando na culpabilização deste Partido pela rotura e como alvo a combater na conquista da maioria absoluta. De resto não é possível ignorar que a crise deixou marcas, distanciou pessoas e Partidos, sobretudo à esquerda, tornando mais difíceis futuros acordos e propostas de mais longo alcance, cuja oportunidade se perdeu ao longo destes seis anos, por temores infundados e radicalismos inconsistentes, todos eles sustentados numa avaliação da correlação de forças em nada correspondente com a realidade de todos e de cada um.

Nos argumentos para justificar a posição assumida do voto contra o Orçamento, os sinais são vários, entre os quais, a dado momento, a crítica à decisão do Presidente de convocar eleições facto antecipadamente anunciado, se o Orçamento viesse a ser chumbado. Em alternativa a esta solução do Presidente, Bloco e PCP, quer em manifestações políticas públicas, quer na representação que dispõem no Conselho de Estado, insistiam numa solução através da apresentação de um novo Orçamento, como se fosse possível integrar as propostas de um e de outro, que conduziram antes à rotura, como se fosse viável integrar posteriormente as mesmas propostas por um Partido de centro esquerda, transformando-o, por artes mágicas, num governo totalmente à esquerda do centro político.

Temendo os resultados que a decisão implicou, redobram-se argumentos em sua defesa, alguns deles não só ridículos como de falta de rigor político. É assim, na minha opinião, no comentário de Ana Sá Lopes a repetir os argumentos do Bloco (Público 02.11) ou de Pedro Tadeu no DN, no qual para além de enaltecer as conquistas em seis anos de negociação nos quais foi possível obter importantes benefícios sociais, conclui que a ser obtida uma maioria absoluta pelo PS, seria uma desgraça terrível para o País como, de supetão, se ignorasse a posição que o PS assumiu nessas negociações. Ou quando António Filipe publica um balanço das votações, para sublinhar que na maioria o PS tinha votado com a direita, escamoteando o contexto e a natureza de cada projecto votado e dos ganhos que em cada foram obtidos em defesa dos direitos dos trabalhadores e da democracia.

Mas a realidade aí está. As recentes sondagens, padecendo do facto de terem sido realizadas num clima marcado pela marcação de novas eleições, interrompendo uma legislatura que conduziu o País com êxito, após ano e meio de pandemia, colocando a economia a cresce, com níveis de desemprego muito abaixo do que se verifica na maioria dos Países da EU, e um plano de investimentos público e privado para urgentemente executar decorrente do PRR. Tal situação causou não só surpresa mas também desilusão em relação à política e aos políticos, abrindo espaço para o populismo, a demagogia, ao desinteresse, caminho curto para o aumento da abstenção.

Entretanto, apesar da turbulência interna que assola a direita, a situação criada, oferece-lhe mais oportunidades de crescimento, mesmo com o PS a continuar a ser o Partido mais votado. Existe todo um clima para apoiar soluções ao centro político, com importante militância no seio do PS, situação a contrastar com o declínio do PCP que na eventualidade de perder o quarto lugar como Partido mais votado, recuando para quinto, a par do Chega e da IL, a verificar-se tal situação, entre outros prejuízos para o equilíbrio da vida social do País, perde a possibilidade de obter uma vice-presidência da Assembleia, lançado para uma área de irrelevância politica com a perda de capacidade negocial.

Portanto, de nada serve ter o PS como inimigo, mas antes preocupar-se com a direita do centro à extrema-direita, porque são esses os verdadeiro adversários a combater. A não ser alterada a linha política do PCP e do Bloco, estará aberto o caminho para a derrota destas forças. O povo, de que tanto se fala, não suporta mais instabilidade e neste quadro será de grande importância o justificado apelo ao voto nas forças à esquerda do sistema político em oposição a toda a direita. Porque só assim será possível contornar obstáculos que a crise originou, abrindo caminhos, mesmo que estreitos, que conduzam à estabilidade governativa e ao progresso do País.

Carlos Figueira
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