Vai Andando Que Estou Chegando

Carlos Figueira
Carlos Figueira
Foi membro do Comité Central e da Comissão Politica do PCP até ao XVI Congresso. Expulso do Partido em Setembro de 2002, num processo que envolveu Edgar Correia e Carlos Brito. É membro da Refundação Comunista. Saiu do país clandestinamente em Agosto de 1964, foi aluno da Universidade Livre de Bruxelas em Ciências Políticas e Sociais e mais tarde no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Moscovo. Atualmente é consultor de empresas, escritor e cronista regular na imprensa regional e nacional.

A guerra na Ucrânia domina as atenções. Era expectável, que o conflito causado pela invasão russa, seria de pouca duração. Enganei-me redondamente. O conflito tende a eternizar-se com todas as perdas que o mesmo provoca.


O Diário de Notícias publicava na última sexta-feira, uma espécie de sondagem sobre o que opinavam os inquiridos sobre a natureza da guerra e dos seus responsáveis. Como era de todo óbvio, a esmagadora maioria dos que responderam culpavam a Rússia, os resultados correspondem hoje à posição dominante dos portugueses, nos quais me incluo desde o início.


Todavia não deixo de considerar que para tal contribuíram e contribuem, toda a panóplia de notícias e comentadores, dominantes na comunicação social, pela forma como nos é retratado o conflito, sem controvérsia, nem respeito por quem ousa fazer algum comentário que se distancie da voz dominante, mesmo que tal se deva a opiniões de gente que desde cedo se manifestaram contra a invasão da Ucrânia sobre o comando de Putin. Situação que me deixa preocupado por entender que a ser assim caminhamos para uma espécie de pensamento único do qual me afasto.


Haverá muito que comentar após a decisão final que continuo a aspirar que seja breve. Nos dias que correm damo-nos conta da vaga de propaganda que nos invade. Notícias que nos são dadas para, num curto espaço de tempo, serem desmentidas.


O que ocorre em Mariupol é de facto uma imensa tragédia sobretudo humana. Comparar tal situação com Guernica, como hoje alguma imprensa dá nota, pela descontextualização que evidencia, é um insulto à memória histórica. A pequena aldeia do norte de Espanha foi bombardeada sem explicação pela aviação alemã num pronúncio de guerra que pouco depois se veio a verificar. A concentração de forças que se verifica na cidade ucraniana dever-se-á (também existem notícias nesse sentido) por ser um lugar de treino e armamento de forças nazis, dominadas pelo Regimento Azov, cujo papel lhe é reconhecido por dispor de um poder dentro do próprio estado.


Perante imagens de destruição que nos invadem, surgem diariamente declarações patéticas do comediante a quem lhe foi atribuído o lugar de Chefe de Estado do País invadido. As notícias sobre as conversações que realmente parecem existir tendentes a cancelar o conflito, estão sempre embrulhadas num nevoeiro que tornam difícil distinguir o que na realidade está a acontecer, sobretudo na contradição que envolvem as declarações de anúncios de vitória ou a iminência de uma terceira guerra mundial, por parte do Chefe de Estado Ucraniano.


Preocupante sem dúvida é o destino de largos milhões de refugiados, sobretudo mulheres, crianças, idosos, que dado o grau de destruição que se observa, muitos deles, não dispõem de condições de regresso. Não sabem sequer o destino de quem ficou, em muitos casos porque impedidos de sair do País, para engrossarem as forças de resistência. Já há países que não comportam a crescente presença de refugiados que afloram à sua fronteira.

Como, de que forma, integrar a maior vaga de refugiados desde a segunda guerra mundial. Como impedir que muitos deles se tornem alvo fácil de mafias prontas a beneficiar da desgraça humana no seu desespero. São perguntas sem resposta. Teme-se o pior.


Neste contexto não se percebe a decisão do Tribunal para acolher o pedido de Mário Machado a fim de lhe ser permitido a ida para a Ucrânia, solicitação acomodada em falsas declarações humanitárias nas quais acrescenta a probabilidade de se reunir a forças nazis existentes no terreno. Mário Machado tinha a obrigação de se apresentar com frequência em instalações policiais decorrente de um processo de posse de arma ilegal, indivíduo já condenado por comportamentos fascistas que conduziram a agressões e morte de um cidadão. Quem foram os juízes ou a juíza, que tomou tal decisão que conduz a mais um episódio negro da nossa justiça. Os portugueses necessitam de saber a justificação de tal acto e quem o patrocinou para poderem exigir medidas que possam conduzir ao afastamento de tais juízes, em nome do estado democrático em que é suposto vivermos.


Mas o cenário de guerra já deu para alguns políticos se livrarem de problemas e outros aproveitarem em benefício político próprio como Macron a contas com próximas eleições para a Presidência francesa e Boris Johnson, Primeiro Ministro inglês, que pelos pingos da chuva se tem livrado das acusações políticas que sobre ele pendiam sobre festividades organizadas ao arrepio das medidas de saúde pública decorrentes do Covid. Outros ainda impondo maior volume de dinheiro para reforço de armamento nos seus OE, nos quais se distingue a Alemanha, num atropelo a compromissos firmados na defesa de uma política de Paz, decorrentes do final da segunda guerra mundial.


Na substância o que a actual situação exige não são exercícios especulativos sobre futura origem de novos blocos político-militares, mas antes a imperiosa necessidade de unir forças para por fim à guerra através de negociações que conduzam à Paz.

Carlos Figueira

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