Na véspera da comemoração dos 49 anos de democracia a Assembleia da República apresta-se para receber uma declaração em vídeo do comediante ucraniano, nomeado Presidente da Ucrânia, com presença assegurada, num gesto que só pode ser interpretado como de solidariedade, não ao povo ucraniano mas ao regime presidido por Zelenski, parte de uma larga operação militar que envolve os EUA e uma Europa arrastada penosamente sem opinião própria sobre tal conflito a não ser repetir à exaustão a pauta que lhe estava desenhada num ambiente em que a emoção toma conta da razão expresso numa solidariedade incondicional. A guerra provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia a mando de um ditador, imperialista nos seus objectivos, provocou uma onda de solidariedade na qual marca importante presença toda a comunicação social, mesmo que as notícias que escreve e passa nas diversas televisões, se contradigam a cada passo sobre quem está a ganhar neste sinistro xadrez de interesses.
Fui desde a primeira hora, em todos os registos desta crónica, contra tal invasão, apelando sempre para que tal conflito fosse objecto de negociações que conduzissem à Paz com a correspondente retirada para o seu País das tropas russas. Acreditei na possibilidade que tal conflito fosse de curta duração o que tem vindo a ser desmentido pela penosa e insustentável realidade dos dias que passam nos quais abundam cenários horríveis de destruição e morte.
A direcção do PCP cometeu o tremendo erro de não ter assumido desde a primeira hora uma posição clara, inequívoca, contra tal agressão a um País independente o que acabou por ser feito por autarquias de maioria da CDU em completa desautorização da direcção do Partido. São erros incompreensíveis somados a outros dos quais destaco a forma como geriram politicamente o facto de ter havido um acordo com o governo do PS que deu origem à chamada “geringonça”.
Mas em tal complexo contexto, do qual haverá muito para dizer no pós guerra, e de quem beneficia do mesmo, nada justifica a “russificação” que nos está servida, e muito menos a campanha anticomunista que temos em curso a qual serve para alimentar sonhos dos “democratas” de há muito para excluir o PCP do quadro constitucional, numa lógica de quem ousa assumir uma visão critica de tais acontecimentos, seja de imediato catalogado como apoiante de Putin.
Não tenho a menor ideia de qual vai ser o comportamento do Grupo Parlamentar do PCP na sessão de dia 21, na qual marcarão presença o Primeiro Ministro e o Presidente da República. Segundo a imprensa de hoje, as intervenções resumir-se-ão a escutar mais um apelo dramático de Zelenskii a pedir mais armas para alimentar o fogo, sem nenhuma palavra ou gesto convincente sobre um Tratado de Paz que ponha cobro ao conflito aberto pelos russos, seguindo-se uma intervenção do actual Presidente do Parlamento. Pelo direito próprio que lhe assiste, como detentor de um Grupo Parlamentar, independentemente da expressão que hoje ocupa, na minha modesta opinião, deveria enfrentar com coragem a campanha anticomunista em curso, e nesse sentido marcar presença em tal sessão da forma crítica que decidirem assumir.
Longe deste conflito de interesses foi apresentado o novo OE para o que resta do ano em curso, documento recebido à esquerda e à direita com um chuveiro de críticas num posicionamento expectável com o PSD à procura de uma identidade e a esquerda a desperdiçar um campo de diálogo que seria bem útil nos tempos difíceis que nos aguardam.
Carlos Albino