VRSA: Centenário do Farol

O Farol de Vila Real de Santo António celebrou 100 anos. Um século a guiar a comunidade, por mar e terra, que foi comemorado com um programa de atividades culturais e desportivas, que despertaram a emoção e as recordações de quem recebe a sua luz nas janelas de casa e de quem é iluminado no oceano

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Em 1866, através do Plano Geral de Alumiamento da Costa de Portugal, da autoria do capitão de fragata Francisco Maria Pereira da Silva, que era na época Inspetor Geral de Faróis, já era prevista a construção de um farol na margem esquerda do rio Guadiana, junto à sua foz.

No entanto, a sua construção tem início em 1916 para substituir o farolim de ferro, com alguns problemas menos felizes no seu processo. Durante a sua construção, um andaime acabou por cair e matar 16 trabalhadores.

A construção do farol teve início em 1916

Em janeiro de 1923 é inaugurado e entra em funcionamento. Construído num local arenoso, com 46 metros de altura, 220 degraus e um alcance até 48 quilómetros, foi-lhe instalado um aparelho lenticular de Fresnel de 3.ª ordem, cuja rotação era produzida pela máquina de relojoaria e tinha como fonte luminosa a incandescência pelo vapor de petróleo.

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Em 1927 foi eletrificado com a montagem de grupos motor gerador, funcionando a petróleo, com a fonte luminosa a passar a ser uma lâmpada de 3000 watts.

Vinte anos depois é ligado à rede elétrica de distribuição pública e na rotação do aparelho a máquina de relojoaria foi substituída por motores elétricos.

O elevador para acesso à torre foi instalado no ano de 1957, enquanto três anos depois foram substituídos os geradores de corrente contínua por alternadores.

Capa do album do conjunto Sérgio Peres

Já em 1983 a potência da lâmpada foi reduzida para 1000 watts e em 1989 foi automatizado com o sistema modelo D. F.

Atualmente tem a guarnição de três faroleiros, que diariamente fornecem cerca de 200 ajudas à navegação.

As visitas estão suspensas devido a trabalhos de manutenção e falta de trabalhadores, mas deverão reabrir este verão. Normalmente este farol recebe cerca de 100 visitas por dia.

É um dos pontos turísticos da cidade de Vila Real de Santo António e um dos locais mais fotografados, tendo servido como cenário para a capa de um álbum da Orquestra Sérgio Peres.

Álvaro Araújo, presidente da câmara de VRSA, descerrou uma placa comemorativa do 100.º aniversário

Cerimónia simbólica

Na sexta-feira, dia 20 de janeiro, decorreu uma cerimónia junto do edifício para assinalar a data especial.

Aquele que é o farol “mais a leste de todos os faróis de Portugal”, é considerado pelo Contra-almirante Noronha Bragança como uma estrutura “com uma imponência única devido à sua altura e espaço que o rodeia”.

“Constitui-se como um património arquitetónico e de engenharia importante na região, perfeitamente integrado na malha urbana desta cidade e também no coração de todos os que habitam nesta terra”, disse durante o seu discurso.

Passados 100 anos e depois de “várias alterações, modificações e modernizações, recorrendo a automatismos e sucessivos aperfeiçoamentos tecnológicos”, o Contra-almirante promete fazer de tudo para “manter a dignidade deste farol, acompanhando a evolução natural e tecnológica que as regras internacionais determinarem e a segurança marítima o exigir, conservando todo o seu valor e património arquitetónico edificado, um bem comum a preservar, um destino a visitar e a usufruir”.

Já para o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Álvaro Araújo, este farol é “património material e imaterial da nossa cidade”.

“Um símbolo e um marco da nossa história. A construção do edifício do farol foi o resultado de vários anos de discussão sobre a necessidade dele existir como foco orientador das embarcações e a forma como poderia assentar sobre o terreno arenoso”, referiu no seu discurso.

O autarca recorda que em janeiro de 1923, “ainda no rasto de uma época de ouro em que as fábricas conserveiras alavancavam o tecido económico vilarrealense, o farol impôs-se no céu”.

Do topo do farol avista-se, além Guadiana, a vizinha Espanha. Foto Go

“A 46 metros do solo, numa torre circular imponente que marcou para sempre a malha urbana de Vila Real de Santo António”, acrescenta.

Para o socialista, os vilarrealenses “vivem ao longo do último século com a presença da luz incadescente do farol”.
“Foi avistada nos últimos 100 anos por milhões de pessoas no mar e em terra. De Castro Marim a Ayamonte, o rasto de luz do nosso farol cumpriu e cumpre a missão para a qual estava destinado.

A importância que o farol assume como património da nossa cidade, não só do ponto de vista marítimo, mas também do ponto de vista urbano como parte integrante da estrutura da cidade”, disse.

A cerimónia contou com um momento musical com a assinatura do guitarrista André Ramos e a participação de vários membros da Autoridade Marítima Nacional, representantes do Reino de Espanha, forças de segurança, membros do executivo municipal, do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, do diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro e dos presidentes da Junta de Freguesia de Vila Real de Santo António e Monte Gordo.

A tertúlia contou com a participação de José Cruz, Fernando Pessanha e Neto Gomes

Memórias e histórias recordadas

As memórias e histórias relacionadas com o Farol de Vila Real de Santo António estiveram em destaque no final da tarde de quinta-feira, dia 19 de janeiro, no Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes.

José Cruz, Fernando Pessanha, Neto Gomes e o comandante João Martins foram os protagonistas desta conversa ao final da tarde, que ouviram ainda testemunhos de algumas das pessoas presentes, que recordaram outros tempos do farol, com emoção.

Segundo o historiador vilarrealense e colaborador do JA, Fernando Pessanha, o farol continua a ser um “ponto de referência para as embarcações portuguesas e espanholas”.

Já José Cruz partilha o sentimento de todos os presentes e de todos aqueles que vêm o farol todos os dias: “o nosso farol”.

Após contar várias histórias relacionadas também com o antigo farolim de ferro, José Cruz, também colaborador do JA, terminou a sua intervenção “como uma redação da escola primária”: “eu gosto muito do nosso farol”, como todos nós.

Neto Gomes, também natural de Vila Real de Santo António e colaborador do JA, considera que o farol foi o “nosso primeiro drone” instalado numa “localização de interesse turístico”.

“O farol é a nossa história” e “a nossa luz mais brilhante”, além de ser uma “estrela orientadora da navegação” e que tem como objetivo “dar o braço às embarcações”.

Neto Gomes acrescenta ainda que “a única luz que nos poderá iluminar o futuro será a luz do farol”.

O comandante João Martins reforçou a ideia de que “o farol é de onde está implantado” e “desta comunidade” de Vila Real de Santo António.

Questionado sobre as visitas ao farol não se realizarem atualmente, o comandante justifica a razão com a manutenção do mesmo e a falta de profissionais.

“Gostaríamos de abrir mais o farol a visitas mas é humanamente impossível. Tem de se estudar localmente, com a possibilidade de realizar parcerias com a Câmara Municipal”, explica.

Assumindo a “missão de preservar” o farol, destacou no final a importância que estas infraestruturas continuam a ter nos dias de hoje.

Entre os presentes estava uma pessoa que nasceu e cresceu no farol de Vila Real de Santo António, filho de um faroleiro da época.

Cultura e desporto celebram o centenário

No dia 20 de janeiro decorreu ainda um desafio fotográfico intitulado “100 anos do Farol de VRSA”, dinamizado pela Associação ¼ Escuro – Associação de Fotógrafos Amadores de VRSA, com o objetivo de “continuar a imortalizar a perspetiva do público sobre o farol”.

Em frente ao farol decorreu também o “Open de Padel Centenário do Farol de VRSA”, no dia 21 de janeiro.

A Associação Naval do Guadiana também se vai juntar às comemorações com a organização das “Regatas de Vela Ligeira Centenário do Farol de VRSA” no dia 28 de janeiro, com quatro provas de vela ligeira nas classes Optimist e Laser, a partir das 11:00.

Para o Dia da Cidade, a 13 de maio, está ainda prevista uma exposição cronológica, temporária e evocativa com fotografias, vídeos e peças do espólio da Marinha Portuguesa, além da emissão de um Postal Inteiro com Carimbo Comemorativo.

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