A sétima edição desta iniciativa regressou depois de uma pausa forçada devido à pandemia de covid-19 com as apresentações “Vila Real de Santo António (VRSA) nos finais do Antigo Regime: as políticas reformistas da Intendência Geral da Polícia”, por Andreia Fidalgo, e “O sítio de São Bartolomeu no lugar de Monte Gordo no século XVIII: a Ermida e a Feira – Contributos para a sua História”, por Pedro Pires.
A professora da Universidade do Algarve e mestre em História do Algarve, Andreia Fidalgo, ficou a cargo da primeira apresentação onde foi debatida a ideia de “abandono” e “decadência” de Vila Real de Santo António após a morte de D. José, em fevereiro de 1777, que levou ao afastamento de Marquês de Pombal do poder político.
Segundo a historiadora, algumas investigações recentes contrariam esta ideia, uma vez que Vila Real de Santo António sempre demonstrou ter um grande potencial económico e foi alvo de iniciativas que pretendiam recuperar financeiramente e fixar a população, através do Intendente Geral da Política, Diogo Inácio Pina Manique, durante o reinado de D. Maria I.
Apesar de existirem alguns relatos do “abandono” da então vila, a Intendência Geral da Polícia que combatia o crime, apostou na criação de políticas mais abrangentes e preocupou-se com questões sócioeconómicas, contrariando essa ideia.
Para desenvolver a economia e a agricultura de áreas mais despovoadas do território português, a historiadora salientou o trabalho que Pina Manique aplica em Vila Real de Santo António com políticas como a reconversão de casais de “bandidos, vagabundos e prostitutas que tinham sido reconvertidos na Casa Pia”, que seriam reintegrados na sociedade vilarrealense, com trabalhos na tecelagem, alfaiataria, pesca e agricultura.
As habitações devolutas de Vila Real de Santo António foram reparadas através de incentivos do Juíz de Fora, obrigando a que seja conservado o seu aspeto original.
Em 1778 houve uma aposta na tecelagem com a criação de escolas de fiação e uma ordem datada dos anos seguintes para a plantação de 900 amoreiras para aumentar a quantidade de sedas, em terrenos junto a Vila Real de Santo António.
Apesar de existir documentação sobre esta ordem, não há quaisquer vestígios atuais desta plantação no território.
Já o mestre em História e Patrimónios, Pedro Pires, apresentou no Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António os contributos de São Bartolomeu, a sua Ermida e a feira para a história.
A aldeia de São Bartolomeu, no concelho de Castro Marim, possui registos de ocupação desde a antiguidade até aos dias de hoje, com a construção da Ermida de São Bartolomeu e a feira que se realizava durante o século XVII e que decorreu até aos anos 90.
Segundo Pedro Pires, São Bartolomeu possui registos de ocupação “desde o período romano”, tendo existido uma via romana que iria em direção a oeste pela atual linha do caminho-de-ferro desde o apeadeiro de Castro Marim.
Além de existirem outros vestígios e terem sido encontrados objetos dessa época, há documentos que relatam que o Esteiro de São Bartolomeu, um canal de água, seria navegável naquela altura.
Uma curiosidade explicada por Pedro Pires relata Monte Gordo que, na época, se estendia desde a foz do rio Guadiana até à zona de Cacela, mas também uma faixa de terreno para norte que incluía as Hortas, Aldeia Nova, Monte Fino e São Bartolomeu.
Por esse motivo, muitos registos apontam o nome de Monte Gordo para a zona de São Bartolomeu, sendo chamado até de São Bartolomeu de Monte Gordo nos finais do século XVII.
Pela tarde, Pedro Pires conduziu uma visita à Ermida de São Bartolomeu, acompanhado dos participantes das Jornadas de História do Baixo Guadiana.