Washington de portas quase fechadas

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Por estes dias em que o Governo norte-americano está encerrado, qualquer pessoa que se aventure por terras do Tio Sam arrisca-se a “dar com o nariz na porta” nos sítios que escolhe para visitar. Para impedir que os turistas vão ao engano, muitos hotéis têm, no balcão da receção, listas dos locais que não estão abrangidos pelo encerramento.

No Residence Inn, em Washington D.C., fica-se a saber que o Museu do Crime, o Museu da Espionagem Internacional e a Catedral Nacional, por exemplo, não estão afetados. Dos lugares mais emblemáticos da capital norte-americana, apenas o Cemitério Nacional de Arlington – onde estão enterrados mais de 400 mil militares norte-americanos e famílias – está de portas abertas, embora com alguns acessos condicionados.

O Capitólio (sede do Congresso) e os Memoriais Jefferson (3º Presidente dos EUA) e Lincoln (16º), onde Martin Luther King proferiu o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho” há 50 anos, estão rodeados por gradeamentos que impedem o acesso do público. “Devido ao encerramento do Governo Federal, todos os parques nacionais estão fechados”, lê-se nos avisos.

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Alguns turistas sentam-se nas escadarias a descansar do intenso calor, outros distraem-se a fotografar com os seus tablets ou smartphones, outros ainda, passam de bicicleta ou de segway, sem se demorarem muito.

Por respeito aos veteranos

No sábado, a Câmara dos Representantes (de maioria republicana) aprovou por unanimidade (407-0) uma lei que prevê o pagamento com retroativos aos mais de 800.000 fun cionários federais que estão em casa – assim que termine o braço-de-ferro entre republicanos e democratas. Os dois partidos continuam, porém, sem se entender relativamente à forma de pôr fim a esse impasse que está a paralisar o país.

O diploma seguiu para o Senado (de maioria democrata). Se passar, ficará só a faltar a assinatura do Presidente Barack Obama. O encerramento dos serviços públicos dura desde 1 de outubro.

Rebbeca trabalha para o Serviço Nacional de Parques – a agência que administra os parques nacionais nos EUA. Deveria estar em casa, mas está de serviço no Memorial dos Veteranos da Guerra do Vietname. “Este parque oficialmente está fechado, mas na prática não está. É assim uma espécie de zona cinzenta…”, diz.

À entrada do Memorial, há informações a dizer que o monumento está fechado, mas os turistas entram sem que ninguém os impeça. “O Governo não quer ferir a susceptibilidade dos veteranos de guerra. Por isso, permite as visitas”, explica Catherine Androus, guia turística. “É uma questão de respeito para com os veteranos. Há pessoas que vêm de muito longe para prestar a sua homenagem.” Outra exceção é o Memorial dos Veteranos da Guerra da Coreia.

Avião passou a rasar a casa

“O Pentágono não está fechado. Quanto muito dois, três por cento dos seus funcionários não estão a trabalhar. Aqui não se pára”, garante Dick Smith, um ex-tenente-coronel do Exército dos EUA, hoje reformado, que trabalha, voluntariamente, como guia no Memorial que homenageia as 184 vítimas do ataque ao Pentágono, a 11 de Setembro de 2001.

Nessa altura, Dick trabalhava precisamente na sede do Departamento de Defesa dos EUA. No fatídico dia, tinha ficado em casa, adoentado. “Eu moro perto daqui e apercebi-me perfeitamente do momento em que o avião passou por cima de minha casa. Nunca um avião tinha passado tão rente. Ia tão baixo que, mais à frente, partiu alguns postes de iluminação na rua”, recorda.

Hoje, Dick passa os dias no Memorial que, graças aos seus conhecimentos de engenharia, ele ajudou a projetar. O monumento, junto ao lado do Pentágono atingido pelo avião-suicida, consiste em 184 bancos, cada qual com uma vala de água corrente na base e com o nome de uma vítima gravado – a mais nova das 184 tinha três anos (ia no avião).

Dick vai perguntando a origem dos visitantes do Memorial. “Só estive uma vez em Portugal”, recorda. “Estava em missão na Alemanha e, num dos voos para os EUA, fizemos uma paragem nos Açores para abastecimento. Não foi nas Lajes, foi em Santa Maria. Foi a única vez que estive em Portugal, mas para o ano vou voltar. Vou fazer um cruzeiro, que vai começar em Southampton e vai passar pelo Porto.”

Margarida Mota (Rede Expresso)

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