20 mil milhões de dólares em ar condicionado para refrescar tropas

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Exército norte-americano no Iraque

O Exército norte-americano não olha a custos para refrescar as tropas no Iraque e no Afeganistão. Só em ar condicinado, gasta vinte biliões (vinte mil milhões) de dólares por ano. As guerras naqueles dois países já custaram aos norte-americanos mais de um trilião de dólares

Luís M. Faria (Rede Expresso)

O mundo habituou-se a associar os Estados Unidos a números extraordinários, sobretudo quando se trata de despesa, em especial feita pelo Exército. Basta pensar no trilião de dólares (mais precisamente 1,2 trilião) que já custaram as guerras no Iraque e no Afeganistão.

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Um trilião, na aceção americana, é aquilo a que nós chamamos um milhão de milhão. Uma quantia difícil de conceber. Ao pé dela, vinte biliões de dólares – vinte mil milhões, como nós dizemos – parece quase nada. No entanto, é a imensa verba que o Exército norte-americano gasta em ar condicionado, durante um único ano, nos dois países referidos. Em euros, são 13,28 mil milhões.

“Essencialmente, estamos a climatizar o deserto”, diz Steven Anderson, o brigadeiro reformado que foi responsável pela logística no Iraque no tempo do general Patreaus. Anderson acha que a despesa podia ser muito reduzida se os altos comandos adotassem algumas medidas básicas de conservação de energia.

“Uma simples política assinada pelo secretário da Defesa – um memorando de duas ou três páginas, dizendo que de futuro só vamos construir estruturas com eficiência energética no Iraque e no Afeganistão – teria um profundo impacto”.

Ninguém manda poupar

O elevado custo do ar condicionado no Iraque e no Afeganistão tem a ver com vários fatores. Desde logo, as temperaturas locais, que facilmente atingem aos 50 graus centígrados fora e dentro das tendas.

Neste momento, grande parte das tendas usadas pelos soldados não usam materiais isolantes. Bastava cobri-las com a mesma espuma de polietileno que se usa em qualquer telhado para haver logo uma substancial poupança – na ordem dos 92%, garante Anderson.

Se isso ainda não foi feito é porque ainda ninguém no Pentágono quis assumir a responsabilidade. “As pessoas olham para o assunto e dizem ‘não é comigo. Não temos necessidade de atar as mãos dos comandantes operacionais'”.

Para manter a uma temperatura tolerável os cerca de 150 mil soldados no terreno, requerem-se enormes quantidades de combustível. Mas este não pode ser entregue diretamente. Tem de ser descarregado no porto paquistanês de Karachi e depois levado por terra. São 800 quilómetros que levam 18 dias a percorrer. Ao longo de parte desse trajeto, a ameaça de ataques é constante. Até hoje, morreram mais de mil soldados nesses comboios.

Caminhos de cabras melhorados

O estado das estradas também não ajuda. Muitas são pouco mais do que caminhos de cabras um pouco melhorados, explica Anderson. Aliás, uma parte da despesa tem a ver com melhoria de infraestruturas. Por mais que se gaste, parece nunca chegar, e a população nem sequer agradece.

Com o debate sobre o défice ao rubro nos EUA, a despesa militar – pelo menos a que se faz no Iraque e no Afeganistão – é praticamente o único item à margem da discussão. A retirada próxima dos 30 soldados adicionais enviados por Bush (a chamada surge) representa uma economia de trinta biliões. Um milhão por soldado!

Mesmo assim, só no Iraque este ano deverão ser gastos 51 biliões. 13 vai custar o treino de forças policiais no Afeganistão.

Um galão de gasolina usado pelos soldados americanos no Afeganistão sai a 30 dólares – por litro dá oito dólares, uns cinco euros e meio. Em si mesmo, não é incomportável. Mas fica como símbolo de uma guerra longa, dispendiosa e para a qual, ao contrário da despesa, não se vê solução.

Há duas semanas um comentador recordava os velhos invasores ingleses no Afeganistão – ou mais recentemente, os russos – e perguntava como terão conseguido aguentar o calor intenso. Podia igualmente ter falado dos talibã.

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