Algarve com menos 90% de casamentos

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Os casamentos estão em queda e os negócios que os rodeiam encontram-se com a corda na garganta. Só os casamentos católicos registaram uma queda de 90%, calculando-se que o número de cancelamentos de cerimónias civis não ande muito longe dessa percentagem

Entre março e outubro deste ano o número de casamentos católicos no Algarve registou uma queda de 90% em comparação com os mesmos meses do ano passado, disse esta semana ao JA fonte da Diocese do Algarve.


De acordo com várias outras entidades com quem o JA chegou à fala, os negócios que vivem dessa cerimónia estão a sentir os efeitos da queda de forma drástica, pois com o atual estado de pandemia a maioria dos casais está a adiar as suas cerimónias de casamento para o ano seguinte ou até mesmo para 2022.

No que respeita aos casamentos civis, desconhecem-se os dados específicos do Algarve, mas calcula-se em 17 mil o número de casamentos civis e religiosos adiados para o próximo ano, o que pode fazer disparar para 50 mil o número de matrimónios de 2021, contra os expectáveis 35 mil. Em 2019 foram celebrados 33.272 matrimónios do Algarve ao Minho.


Para exemplificar as quedas abruptas também no Algarve, a Diocese do Algarve releva dois casos mais avassaladores: o caso da Paróquia de S. Martinho de Estói, concelho de Faro, que em 2019 celebrou 24 casamentos mas em 2020 não teve uma única cerimónia. Já a Paróquia de Albufeira celebrara 20 casamentos em 2019 mas este ano, até à data, só realizou quatro, volta a exemplificar a Diocese, sem contudo revelar dados comparativos da totalidade da região.


Contudo, mesmo sem dados globais, os dados parciais da esmagadora maioria das paróquias, revelados pela Diocese ao JA, são demolidores. Por exemplo, a paróquia de São Pedro de Faro teve em 2019 um total de 20 cerimónias nupciais e em 2020 apenas duas. A Paróquia de Portimão teve 10 casamentos em 2019 e em 2020 nenhum; Tavira passou de 10 para 1; São Brás de Alportel de 10 para 1; Santa Catarina da Fonte do Bispo de 2 para zero; Olhão de 11 para 2; Ferragudo de 6 para zero; Aljezur, Bordeira e Odeceixe de 6 para 1; Lagos e Bensafrim de 2 para zero; Santa Bárbara de Nexe de 17 para 3; Cacela de 21 para 1.

Tenho mantido o negócio porque já tinha algumas economias, já que este ano não houve praticamente faturação”,

Paula Grade e Karina Sousa têm uma empresa de organização de casamentos

Dados que se refletem nos negócios que se fazem em torno das uniões matrimoniais: “Tenho mantido o negócio porque já tinha algumas economias, já que este ano não houve praticamente faturação”, comenta Paula Grade, uma das fundadoras da Algarve Wedding Planners, uma das primeiras empresas de organização de casamentos no Algarve.


Nas palavras da empresária, a empresa organiza as cerimónias “desde os mais pequenos detalhes até aos principais elementos”, oferecendo serviços de decoração, música, audiovisuais e derivados. Para sobreviver, geralmente precisa realizar cerca de 50 casamentos por ano, meta essa que ficou fora de alcance em 2020 com apenas três casamentos realizados, o que “nem deu para pagar as despesas”, afiança Paula Grade.

Não se compreende como é que nesta altura não há nenhum sistema que possa beneficiar aqui o Algarve. Podia-se optar por um ‘sistema de semáforo’, que pudesse evitar as quarentenas. Se a situação não melhorasse, o Estado teria que dar algum apoio a estas pequenas empresas porque nós não podemos de maneira nenhuma estar mais um ano sem faturar. Nem nós, nem ninguém no Algarve, nem no País.”


Como o Algarve também é um cenário desejado para casamentos de casais estrangeiros, especialmente oriundos do Reino Unido e Irlanda, a aposta nesse mercado também é um grande foco da Algarve Wedding Planners. Porém, as quarentenas e escassez de viagens que se verificaram no período da pandemia, causaram um forte decréscimo nesse nicho comercial.


“Não se compreende como é que nesta altura não há nenhum sistema que possa beneficiar aqui o Algarve. Podia-se optar por um ‘sistema de semáforo’, que pudesse evitar as quarentenas. Se a situação não melhorasse, o Estado teria que dar algum apoio a estas pequenas empresas porque nós não podemos de maneira nenhuma estar mais um ano sem faturar. Nem nós, nem ninguém no Algarve, nem no País.”, acrescenta Paula Grade.

Na loja de vestidos de noiva, Elsa Teixeira também está a passar dificuldades


A loja Amores Perfeitos, em Faro, ao especializar-se em roupas de casamentos e outras cerimónias, também está a passar dificuldades neste ano em que não se pode nem sair ou juntar-se com muitas pessoas, tendo uma queda de 90% dos clientes em relação ao ano passado, revela uma das suas proprietárias, Elsa Teixeira.

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“Nós estamos na área dos eventos, que é a mais afetada, é a primeira coisa que é proibida e não havendo festas a gente não vende. É uma grande crise, é a maior de todas.”, acrescenta a co-proprietária da Amores Perfeitos.

“Já estão a cancelar eventos para 2021. Como isto se mantém, há muitos noivos que já estão com medo que vá acontecer outra vez, esta situação de pandemia. Já houve adiamentos de cerimónias do ano que vem para 2022.”


A Servifoto, um ateliê de fotografias em Loulé, não se limita apenas a casamentos, faz de tudo relacionado a imagem e também depende de eventos para faturar. No que toca a casamentos, em 2020 o ateliê teve uma queda de cerca 40% de clientes em relação ao ano passado.

Sandra Gonçalves e Pedro Gonçalves, proprietários de um ateliê de fotografias já tiveram adiamentos para 2022


“Já estão a cancelar eventos para 2021. Como isto se mantém, há muitos noivos que já estão com medo que vá acontecer outra vez, esta situação de pandemia. Já houve adiamentos de cerimónias do ano que vem para 2022.”, relata Sandra Gonçalves, responsável de loja da ServiFoto.


Não é como se os casamentos estivessem proibidos, o mínimo para a cerimónia se realizar é a presença dos noivos e duas testemunhas, enquanto o máximo de pessoas permitido atualmente é até 50. Com tais restrições, os casais preferem adiar para não ter de cortar o número de convidados ou ter de realizar uma cerimónia em que, nas fotos, todos estariam de máscara.


No entanto, ainda há casais que, em vez de adiar, preferem casar mesmo nessas condições, como é o caso de Fabiana Frederico e Bruno Frederico. Casaram-se por registo no cartório notarial de Castro Marim, seguindo as normas de segurança, sem festa, sem dança. Apenas com algumas fotos.


“As dificuldades foram muitas. Foram impostas aquelas leis de proibição de saída dos concelhos. Da minha família, que é praticamente quase toda de Loulé, não pôde vir praticamente ninguém, só mesmo os padrinhos.”, descreveu Fabiana.

Bruno Frederico e Fabiana Frederico preferiram casar mesmo nestas condições

“Estamos a viver todos uma fase muito difícil. Em relação ao casamento foi complicado, não foi como eu gostaria que tivesse sido, mas a gente também percebe que os casos estão a evoluir e muito. Se é uma situação difícil, é para todos infelizmente. Agora temos é de tomar os cuidados para que não evolua mais.”


Como não podiam sair do concelho, também tiveram de abdicar da lua-de-mel, pois seria “muito arriscado” e tudo podia acabar em prejuízo.


“Estamos a viver todos uma fase muito difícil. Em relação ao casamento foi complicado, não foi como eu gostaria que tivesse sido, mas a gente também percebe que os casos estão a evoluir e muito. Se é uma situação difícil, é para todos infelizmente. Agora temos é de tomar os cuidados para que não evolua mais.”, comentou Fabiana.

Padre Miguel Neto


O padre Miguel Neto, diretor do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve, diz que, em comparação aos outros problemas da pandemia, não está muito preocupado com a ausência de casamentos.

“é uma questão de aprendermos a viver com este vírus, com estas circunstâncias. É mais uma questão de aprendizagem do que esperar que de um dia para o outro o vírus acabe”.


Perante esta situação, Miguel Neto acredita que “é uma questão de aprendermos a viver com este vírus, com estas circunstâncias. É mais uma questão de aprendizagem do que esperar que de um dia para o outro o vírus acabe”.

Luís Bravo Dias

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