Álvaro Araújo lança repto à CDU, pretende negociar com o FAM e rever contratos

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JORNAL do ALGARVE (JA) – O secretário-geral do PCP disse há dias que o seu partido não faria alianças pós-eleitorais com ninguém nas autarquias. É uma afirmação que vem à revelia dos desejos que V. já veiculou, de uma aliança firme com a CDU, para constituírem uma maioria firme na câmara, com atribuição de pelouros e um mandato permanente ao vereador Álvaro Leal [CDU]. Tem receio do que as palavras do secretário-geral do PCP podem prenunciar no que respeita a VRSA?
Álvaro Araújo (A.A.) –
Não vou comentar a disciplina de qualquer partido. O que sei é que a CDU em VRSA tinha um programa que grosso modo coincidia com o nosso. São mais as ideias convergentes do que as divergentes. Por isso, sendo eles políticos responsáveis, estou convencido que independentemente de haver acordo escrito ou não, vai haver convergência, vai haver muitas matérias em que vamos votar da mesma forma. Não tenho dúvidas que o PCP e a CDU estão disponíveis para conversar connosco e viabilizar um programa de governo autárquico para VRSA. Quanto à permanência a tempo inteiro do vereador Álvaro Leal, espero que o repto que lançámos seja aceite por eles…


J.A. – Mas ainda não há nenhuma manifestação de vontade da parte da CDU?
A.A. –
Até ao momento não há essa manifestação, mas estou convencido de que vai haver e será positiva, para bem de VRSA e do projeto de recuperação da dignidade perdida deste concelho. VRSA precisa de um PCP e uma CDU forte como já teve e de um PS e uma esquerda fortes.


J.A. – Vai ser mesmo uma espécie de geringonça…
A.A. –
Antes de apresentarmos a nossa candidatura lançámos um repto a todos os partidos de esquerda para formarmos uma geringonça. Não foi possível e cada um tem as suas razões. Mas espero que seja possível agora formarmos uma geringonça, nem que seja uma geringonça informal.


J.A. – Porque é que Luís Gomes perdeu as eleições?
A.A. –
Perdeu porque a candidatura do Partido Socialista e a nossa equipa é muito forte. As pessoas perceberam que a equipa tinha uma liderança e era composta por pessoas capazes de dar resposta às necessidades do concelho, que passa por situações muito difíceis. Perceberam também que vêm aí competências na área da educação, da ação social, da saúde e que é preciso uma equipa habilitada para essas novas competências que o município vai acolher.


J.A. – Como se dá hoje, pessoalmente, com o Luís Gomes, depois de uma campanha tão quente? Ele deu-lhe os parabéns?
A.A. –
Deu-me os parabéns logo naquela noite. Ao contrário do que muita gente fez ao longo da história da nossa democracia, em que não se soube separar as águas, eu não tenho que me dar mal com ninguém. Eu fui acusado durante a campanha, por muita gente, que era amigo do Luís e da São [Conceição Cabrita]. Tenho por princípio gostar de me dar com as pessoas. Sou amigo do Luís e da família dele e não tenho por que não continuar a ser.


J.A. – Acha que ele vai assumir a vereação?
A.A. –
Claro que vai assumir. Foi eleito, por respeito ao seu eleitorado é natural que o faça.


J.A. – Acha que os acontecimentos com Conceição Cabrita, que foi detida e constituída arguida, foram decisivos no desfecho dos resultados eleitorais?
A.A. –
Não quero entrar nessa questão. Não sei se foi ou não. O que interessou nestas eleições e o povo de VRSA quis mostrar é que o concelho precisava de uma alternativa e viu essa alternativa no Partido Socialista. E se não tivesse acontecido esse episódio de caraterísticas mais policiais tinha havido essa mudança, teríamos ganho na mesma. Eu sentia na rua, há muito tempo, o apelo das pessoas para que avançasse. Apesar de ter havido algumas vozes internas do partido que estão fora, porque estão noutra candidatura e não serão mais militantes do PS, que quiseram transmitir a ideia de que eu estaria associado a qualquer outro partido…


J.A. – Qual partido?!
A.A. –
Ao PSD! Porque era amigo do Luís Gomes e da Conceição Cabrita. Era o discurso do António Murta e da lista dele. E isso não é verdade. Quem me conhece sabe que eu sou socialista e toda a vida fui e nunca abdiquei desses valores e princípios. Era em mim que as pessoas viam as alternativas às políticas do PSD. E agora provou-se. Independentemente desses episódios, o que interessou foi o nosso projeto credível, porque VRSA naturalmente é socialista…


J.A. – Disse que a primeira coisa que faria mal entrasse no município seria propor uma auditoria. Mas nunca deixou de criticar a forma de gerir as finanças do município das gestões anteriores. Não se está a antecipar aos resultados da auditoria?
A.A. –
De maneira nenhuma! As auditorias servem para as pessoas terem a noção do que se passou. O que queremos é uma auditoria independente e séria. Se houver alguma coisa, vai-se saber. A partir de agora ou há, ou “calam-se para sempre”.


J.A. – Mas está à espera de algum resultado menos bom…?
A.A. –
Eu não estou à espera de nada! Eu não tenho por princípio acusar ninguém sem provas, nem tenho vocação de inspetor da Polícia Judiciária. Mas é importante ter a noção exata do estado financeiro e daquilo que aconteceu no município nos últimos 16 anos. É isso que vamos tentar fazer. E não andar à procura de culpados. Não quero que ninguém vá preso por causa disso!

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J.A. – O que vai propor ao FAM [Fundo de Apoio Municipal]? Maiores facilidades? Uma renegociação?
A.A. –
O FAM tem que ter a noção de que os atores são outros. Isto é como na vida de qualquer família: quando peço um empréstimo ao banco ele vê as condições que a minha família tem para poder saldar a dívida. Temos que nos sentar à mesa com o FAM e levarmos um projeto. Temos que lhes dar provas de que temos uma ideia, que vamos já começar a executar, para reduzir custos, e que lhes dizer que se houver determinadas condições, mesmo que a curto prazo isso aumente um pouco a despesa, a médio e longo prazo isso vai criar condições para fazer mais receita e reduzir a dívida.


J.A. – Portanto sabe o que vai propor ao FAM. Pode desvendar o que vai ser?
A.A. –
Se temos um complexo desportivo que tem 50 estágios garantidos para a época baixa, quando em condições normais teria que ter 500 ou 600 e não tem mais porque não tem condições para acolher, por exemplo, uma equipa de futebol, se a relva do Estádio Municipal não aguenta nem sequer 5 minutos de um jogo de futebol, por falta de tratamentos adequados, quando não há campos disponíveis para que as equipas que supostamente vêm durante a época baixa…


J.A. – No que respeita ao parque de campismo a mesma coisa…?
A.A. –
No que respeita ao parque de campismo temos que o preparar para a nova época. Que em vez de ter 3 ou 4 mil pessoas tenha os 10 mil que já teve.


J.A. – Mas para isso são precisos investimentos.
A.A. –
Com certeza! Os balneários estão ao nível de meados do século XX! Aquilo é terceiro-mundista! Não há sanitas, são buracos! Os chuveiros parecem aqueles mecanismos de Auschwitz, de onde saía o gás.


J.A. – E nunca houve requalificações nestes anos todos?
AA –
Se você quer desfazer-se de uma coisa vai fazer tudo para que ela vá ao fundo e seja encerrada!


J.A. – Então foi de propósito?
A.A. –
Não tenho dúvidas quanto a isso. Aquilo vale milhões! O terreno foi cedido para o parque e era preciso que o Governo permitisse a utilização de solos para outra coisa qualquer.

J.A. – VRSA tem um dos estacionamentos mais castigadores do País, até às 22:00, em alguns casos até à meia-noite, de manhã à noite, e de segunda a domingo. É possível renegociar esse contrato?
A.A. –
Estou convencido de que há condições para deitar esse contrato abaixo. O nosso principal objetivo é libertar a população de VRSA e quem nos visita deste fardo do estacionamento. Depois tem que haver uma discussão pública. Considero que algumas zonas têm que ter estacionamento tarifado mas por exemplo até às 7:00 da tarde. É o que se vê em qualquer sítio normal deste país.


J.A. – Está satisfeito com o trabalho da empresa Ecoambiente, que trata da limpeza urbana?
A.A. –
Quem é que está?! A gente vai a Monte Gordo no verão e é inadmissível que não haja recolha de lixo mais do que uma vez por dia numa cidade que aumenta exponencialmente o número de habitantes durante o verão. Não é uma avaliação positiva e há que conversar com a empresa e perceber qual o caminho a seguir.


J.A. – A água é uma das mais caras do País. Isso vai mudar?
A.A. –
O contrato da empresa das águas [privada, Águas de VRSA] está blindado. Ele representa 30 milhões de euros de lucro para o município. E o que o município terá que pagar se quiser rescindir são 130 milhões de euros. Temos que perceber se este contrato não está ferido de ilegalidade.


J.A. – Na habitação, o que vão fazer para já?
A.A. –
Uma das primeiras coisas será apressar a aprovação da estratégia local de habitação, instrumento fundamental para concorrermos ao [programa] “1.º Direito”. Disponibilizar terrenos para construir habitação social. E recuperar os prédios de habitação social degradados que existem.

João Prudêncio

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