Autarcas “isolam” Macário Correia a favor das portagens

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Vários autarcas algarvios, alguns do PSD, demarcaram-se ontem da posição do presidente da Câmara de Faro, que considerou que o pagamento na Via do Infante é “inevitável”. Comissão de Utentes diz que Macário “anda a brincar às portagens”.

“Em primeira mão, lamento e repúdio essas declarações, parece que anda a brincar às portagens. Umas vezes está a favor outras contra. Pelos vistos não andava de boa fé quando fez parte da plataforma de luta”, critica João Vasconcelos, líder da Comissão de Utentes contra as Portagens na A22.

Mas não é o único. Em declarações ao Expresso, vários autarcas algarvios já se demarcaram da posição do social-democrata, inclusive alguns ‘colegas de partido’.

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“Lamento que mude de opinião só porque mudou o Governo”, critica Francisco Amaral, presidente social-democrata da Câmara Municipal de Alcoutim. “Temos que ser coerentes com o passado. A Via do Infante não é uma SCUT, por isso não deverá ser portajada”, acrescenta, com algumas dificuldades em explicar a mudança de posição do autarca farense. “Será talvez algo partidário, não compreendo”, diz Amaral.

Loulé busca solução a meio caminho

Outro autarca social-democrata, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, admite que os prejuízos decorrentes da introdução de portagens serão “seguramente superiores aos benefícios imediatos”.

Recordando que boa parte da construção foi efetuada com fundos comunitários, o que a diferencia de outras SCUT, Seruca Emídio admite que será difícil explicar ao resto do país como o Algarve se eximirá a contribuir para os cofres do Estado, em tempo de crise.

Por isso, sugere um encontro a meio caminho: “Acho que a A22 deveria seguir o exemplo de outros modelos europeus, como na Suíça, Áustria ou República Checa em que as pessoas compram uma vinheta que tem preços diferentes consoante sirva para quinze dias, para um mês ou para um ano inteiro”, diz. “Isto teria evitado investimentos em grandes estruturas de controlo e acabava com as dúvidas de como vão ser cobradas as portagens às empresas de rent-a-car e aos estrangeiros que nos visitam”, acrescenta.

O turismo é aliás uma das grandes preocupações deste autarca, responsável por uma das áreas mais importantes para o Algarve, que inclui Vilamoura, a Quinta do Lago e Vale do Lobo. “Precisamos ser competitivos e quantos mais entraves colocarmos às pessoas, menos elas terão tendência a voltar, isto já para não falar na insegurança da EN125 quando se acabarem as isenções e as pessoas regressarem em força, para fugirem às portagens”, avisa.

“AMAL não mudou de posição”, avisam autarcas socialistas

Para António Eusébio, vice-presidente da AMAL e presidente em São Brás de Alportel, as declarações de Macário Correia nunca poderão ser lidas enquanto presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, mas apenas a título individual.

“A posição da AMAL é a mesma. Se no passado, entendíamos que não devia haver portagens portagens, acho que a posição coerente deve ser mantida”, afirma Eusébio, eleito pelo PS, considerando ‘estranha’ a tomada de posição de Macário Correia.A barlavento, também Manuel da Luz, o presidente da Câmara Municipal de Portimão, tem dificuldades em entender os argumentos de Macário. “Não percebo esta mudança radical, porque em Abril dizia estar contra e agora diz-se a favor”, critica o autarca socialista.

Para Manuel da Luz, que chegou a ameaçar na altura o governo de Sócrates com uma providência cautelar que não chegou a ir para a frente, todas as razões para lutar contra as portagens se mantêm: “Penso que os custos poderão ser analisados por uma entidade independente e chegar à conclusão de que sairá mais caro ao país e à região a introdução de portagens”, garante. Para o autarca, o efeito das portagens na Via do Infante será “contra-producente” devido à perda de competitividade com a Andaluzia e à “penalização sobre as empresas”, numa região que ultrapassou há muito a média nacional nos números do desemprego.

Recorde-se que Macário Correia admitiu na manhã de terça-feira que as portagens na Via do Infante “são uma inevitabilidade”. “Pese embora a minha opinião, que é a mesma de sempre e a de muitos autarcas e empresários, constatamos que há factos que nos surpreendem sobretudo pelas situações das finanças públicas que estão à vista”, disse o autarca.

“Compreendemos aquilo que o Governo actual e o anterior vinham defendendo a respeito deste ponto de vista, ainda que não seja o nosso”, acrescentou. Também Desidério Silva, eleito pelo PSD para a Câmara Municipal de Albufeira, já manifestou opinião idêntica à de Macário Correia.

JA/Rede Expresso
Foto: João Porfírio
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1 COMENTÁRIO

  1. Mais um comentário
     
    Impor portagens a uma região subdesenvolvida constituirá mais um constrangimento a impedir que a curto prazo ela crie condições para uma retoma de crescimento equilibrado.
     
    Não querer compreender a diferença que sempre a separou das outras províncias portuguesas é cavar um fosso, que nos remeterá de novo para 20 ou 30 anos atrás.
     
    Como será possível circular de forma lesta na 125 com todos os obstáculos que nela existem?

    Estará esta estrada dentro dos parâmetros e cânones europeus de segurança adequada a um país aderente à União Europeia? Se não está, e todos sabemos que assim é, qual a razão para nos remeterem para uma região, em que o Agarve será  terceiro-mundista? E é aqui que reside o cerne da questão.

    O Algarve candidatou-se a receber os mais endinheirados da Europa comunitária e o do resto do mundo através da “indústria” do turismo; e na volta premeia a quem os têm que servir, a terem que andar em vias secundárias, (nós humildes trabalhadores, ou os comerciantes e prestadores de serviços), porque os ordenados e margens de lucro irão encolher por via das portagens. Ou ainda pior, porque na ponta final, todos os produtos, e também os da cadeia alimentar irão forçosamente aumentar – por uma questão de mais quilómetros andados, mais desgaste nas pessoas e nas viaturas; e não menos importante, na perca de qualidade de vida individual.

    Perante este quadro social tétrico, o que é que nos resta fazer? Emigrar de novo? Mas para
    onde?

    Nem tão pouco a emigração seria uma solução, perante a crise que grassa por toda a Europa.

    Nos anos 60 emigrou-se porque a Europa reconstruía-se de uma Guerra terrível (onde houve milhões de mortos, um Holocausto, e muita fome e miséria), que tinha sido originado por uma crise socio-económica declarada em 1929.

    Será que é necessário um outro conflito armado de consequências imprevisíveis na Europa ou numa outra região próxima que leve à necessidade de deslocação das populações – como houve na 2.ª Guerra Mundial, para que de novo se volte a reconstruir?  E a haver pleno emprego para todos?

    Tudo isto, porque tarda em aparecer uns magos que tirem da cartola uma solução ideal para resolverem toda a problemática social em que estamos envolvidos, e sem solução à vista no curto ou médio prazo imediato.

     

     
     
     

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