Cacela Velha convida a conhecer as tradições da Ria Formosa

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O ciclo de passeios pedestres de interpretação da paisagem “Passos Contados” prossegue no próximo domingo em Cacela Velha com um percurso onde serão abordadas as
tradições de pesca e mariscagem na Ria Formosa, com pescadores e mariscadores locais.

Vestígios de tanques para salga de pescado e preparação de pastas de peixe do período romano, e fragmentos de cerâmicas de cozinha islâmicas associados a cascas de conquilhas, ostras e amêijoas, atestam a antiguidade da exploração dos recursos do mar e da ria e a sua importância na dieta alimentar das gentes de Cacela.

Mariscadores e populações locais têm-se dedicado ao longo de muitos séculos à apanha de conquilhas, amêijoas, berbigão, lingueirão, cascabulhos (ostras) e búzios.

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Durante a maré vaza, continuamos a vê-los com água pela cintura puxando um arrasto na frente mar, no caso das conquilhas, com uma pá de mariscar cavando na lama da ria para apanhar amêijoa, ou com uma adriça para apanhar o lingueirão.

Os cascabulhos muito abundantes, apareciam agarrados às pedras ao longo da ria e nos períodos de carestia vividos durante a primeira grande guerra foram a base da alimentação do pessoal da serra que se deslocava ao litoral levando as albardas dos burros sempre cheias.

Também até aos anos 60 do séc. XX era comum a pesca artesanal na ria. Botes, chatas, saveirinhos ou doris, alcatruzes, cabanas, redes, calafates, construindo ou consertando as embarcações, e muitos pescadores faziam parte da paisagem de Cacela.

No mar alto ou repousando nos areais, os barcos de madeira, baptizados com nomes expressivos: “Já te apanho”, “Duas irmãs”, “Vencemos”, “Já vai”, entre outros. Alguns contam longas viagens pela costa de Marrocos ou pelos mares da Terra Nova na pesca do bacalhau.

Estão ainda vivas memórias de pescarias fartas de salmonetes, robalos, douradas, polvo, lulas, chocos…; do marisco abundante (berbigão, amêijoa, lingueirão); das antigas artes como a palangrinha, as teias de alcatruzes ou o tresmalho.

Na ria, a pesca foi sendo progressivamente substituída pela mariscagem. A partir dos anos 60 multiplicaram-se na ria viveiros de amêijoa e ostras. Os barcos têm sido condenados ao abate, um após o outro.

No próximo domingo, a partir das 9h30, o Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela convida a população a caminhar até ao Lacém, junto à ria, para conversar com mariscadores, conquilheiros, antigos pescadores e calafates.

A organização aconselha calçado apropriado para andar junto à água.

O último passeio desta sexta edição dos “Passos Contados” acontece no próximo mês de outubro, em Vila Real de Santo António, com histórias de casas ligadas à fundação da vila, agora cidade.

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