Cerca de 2500 escoteiros passam a região ‘a pente fino’

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Onde há cerca de um mês reluziam as tendas de milhares de motards que se reuniram no Vale das Almas, em Faro, para mais uma edição da Concentração Internacional de Motos, aconteceu o 26.º Acampamento Nacional da Associação dos Escoteiros de Portugal (ACNAC), um ecoevento escutista que teve início no dia 13 de agosto e se prolongou até sábado, dia 19. Sob o mote "Envolve-te, não deixes ninguém para trás", milhares de escoteiros dos sete aos 21 anos, de norte a sul do país (e Ilhas), estiveram envolvidos em atividades que tiveram como guias os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. O ADN da região e as suas tradições pautaram uma semana de "momentos inesquecíveis" como testemunhou o JA

“Vocês são incríveis! Obrigada”, era a frase que se podia ler em algumas folhas presas na parede do contentor central do ‘staff’ do Acampamento Nacional da Associação dos Escoteiros de Portugal, no Vale das Almas. Independentemente das idades dos escoteiros com quem falámos, todos resumem o movimento escutista com as mesmas palavras: “família”, “superação”, “entreajuda”, “companheirismo” e “amizade”.

A orientação está em primeiro lugar

Dias antes da chegada de cerca de 2500 escoteiros ao ACNAC, vários voluntários (entre escoteiros e pessoas fora do movimento escutista) rumaram até Faro para auxiliar na construção de campo daquele que se pretendia ser “o melhor ACNAC de sempre”. Foi esse o desafio lançado pela equipa de coordenação do 26.º ACNAC, liderada por Sónia Rodrigues do Grupo 166 de Montenegro. Contudo, desengane-se quem pensa que o ‘staff’ do ACNAC organizou tudo. São os escoteiros, seja qual for a idade, que se dedicam à construção de tendas e abrigos em cada subcampo de Divisão.

A “Ilha Tortuga” da Alcateia, o “Reino Formoso” da Tribo de Escoteiros, o “Azul” da Tribo de Exploradores, e a “Arena Niery” do Clã foram o imaginário que acolheu, respetivamente, os Lobitos (escoteiros dos sete aos 10 anos), Escoteiros (10 aos 14 anos), Exploradores (14 aos 17 anos) e Caminheiros (17 aos 21 anos) para a celebração do escutismo.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o tema base de uma edição que decorreu numa freguesia que foi novamente distinguida com o galardão Eco-Freguesias XXI: a União de Freguesias de Faro (UFF) .

“Faro mostrou-se muito recetivo a esta atividade e até os vários parceiros que ajudaram a que o evento fosse possível.

Temos alguns grupos de escoteiros da região que participaram e então os contactos também são mais fáceis. Nesta altura do ano o Algarve é um sítio de eleição e sabíamos que Faro seria o local perfeito para nos receber. Quisemos dar uma atividade em grande aos nossos jovens e, em particular, depois de termos um período em que estivemos mais confinados e com atividades mais restritas”, respondeu ao JA Daniela Abreu, membro da Direção Nacional da Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), quando questionada sobre a escolha do local para o evento.

Sob o “olhar” atento da mascote da 26.ª edição, o cavalo-marinho (espécie em vias de extinção na Ria Formosa), desde domingo, dia 13, vários os grupos de escoteiros, divididos por faixas etárias, participaram em inúmeras atividades adequadas “física e intelectualmente ao ano escolar que se encontram os jovens”, explicou a dirigente.

Os escoteiros ajudaram na apanha da alfarroba

Atividades ligadas à região
Surf, canoagem, mergulho, ações de limpeza na praia, tiro ao ar, vela, pesca, ‘bushcraft’ (técnicas e competências que possibilitam a sobrevivência na natureza), uma competição de cozinha ao estilo ‘masterchef’, uma visita à Ilha da Culatra, empreita de palma, trabalho comunitário e até o varejo da alfarroba foram algumas das atividades que os escoteiros tiveram a oportunidade de vivenciar em solo algarvio.

“Queríamos que os jovens fizessem coisas típicas do Algarve e que não são possíveis de fazer todos os dias. É importante ir ao centro das tradições e dos hábitos do local onde estamos”, sublinha Daniela Abreu.

O ecoevento, anualmente organizado pelos Escoteiros de Portugal, pretende ser “um exemplo” através da adoção de práticas ambientais responsáveis, que vão desde a utilização de detergentes biodegradáveis, separação de lixo e à utilização de garrafas reutilizáveis. Para além disso, todas as atividades, desde jogos, ‘raids’, construções, entre outras, foram pensadas de modo a garantir o respeito pelo planeta, respeitando os recursos e ecossistemas.

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Ambiente em primeiro lugar
“A componente ambiental da nossa atuação é muito importante para nós. Mais do que a teoria, sobretudo enquanto escoteiros, temos muito a noção do que é a prática das coisas. Mais do que dizer que somos um ecoevento, de facto temos todas as condições para fazer desta atividade o menos impactante possível a nível ambiental”, refere a responsável ao JA.

“Este é um encontro que pretende promover a importância da sustentabilidade no mundo atual e a importância da construção de uma sociedade mais equilibrada, recorrendo à educação ambiental como meio para sensibilizar os participantes e toda a comunidade envolvente”, acrescenta.

Fomentar o debate
Para além das atividades multidisciplinares, a AEP fomenta o debate entre escoteiros sobre os principais temas da atualidade. “No caso dos mais velhos tivemos uma atividade de debate que foi o resultado de uma escolha de temas dentro dos 17 ODS’s. Os temas eleitos foram relacionados com a educação de qualidade e com a igualdade de género e redução das desigualdades. Nesse sentido, convidamos uma a associação ‘Inspiring Girls Portugal’ para se juntar a nós, em Faro, durante uma tarde”, descreve Daniela Abreu.

“Há muito espaço para o debate conforme vão crescendo. Paralelamente às atividades regulares que as pessoas se habituaram a vermos fazer, temos vários processos que permitem que os jovens aprendam a trabalhar a sua intelectualidade, a parte física, a fé e também a sua individualidade, não no sentido mais egoísta da questão, mas sim numa perspetiva de desenvolvimento pessoal. Temos vários desafios espelhados numa caderneta que eles vão tentando alcançar para conquistar mais distintivos”, nota.

Para os escoteiros, o segundo dia de atividades (15 de agosto) foi um dos mais especiais por ter sido uma espécie de “voo alargado”, que demonstra que o ACNAC “não é apenas Faro, mas que se estende por várias zonas do Algarve”.
Nesse dia, no Centro Náutico da Praia de Faro, enquanto os nossos Lobitos se refrescavam em atividades náuticas, em campo, tanto os Escoteiros como os Exploradores investiram o seu dia no pioneirismo, a tornar os seus sub-campos mais “robustos e atrativos”.

Mais a oeste, uma equipa de Caminheiros pedalava pelo passadiço da Ria Formosa tendo como destino Vilamoura. Enquanto pedalavam, Guilherme, Caminheiro do Grupo 23 de Queluz, avistou uma gaivota que se mantinha presente, quase como “uma companhia de viagem” que ia puxando pelo pelotão.

Um grupo de caminheiros

Contribuir para o Movimento
É “o gosto” e a vontade “de passar aos mais novos aquilo que é o ADN dos escoteiros enquanto complemento à educação formal”, nas palavras de Daniela, que fazem os adultos continuarem a ser escoteiros e se envolverem em cada encontro nacional, ou não fosse um dos lema dos escoteiros “escoteiros uma vez, escoteiros para sempre”.

“Aqui o papel dos adultos é imprescindível para que tudo isto funcione em termos de logística. Temos muitos adultos a fazer parte da equipa de ‘staff’ . São cerca de 400 distribuídos por várias equipas: saúde, imagem, alimentação, segurança, pedagógica, logística, etc. Temos médicos, psicólogos, enfermeiros e aproveitamos sempre as profissionais dos dirigentes para as trazer para campo, tendo assim o melhor dos dois mundos”, observa.

Mas será que a imagem destes jovens participativos não é um contrassenso com aquilo que vemos dos adolescentes – ligados às redes sociais mas desligados das pessoas? Foi a pergunta que fizemos a Daniela Abreu.

“A necessidade de se estar sempre a par é algo muito inerente à sociedade de hoje. Estando aqui em campo, com tanto para absorver da natureza, das atividades, das amizades que vão cultivando, isso acaba por distraí-los das tecnologias, que acaba por estar sempre presente. Enquanto associação procuramos estar a par das tendências e procurar adequar as atividades. Não fazemos para eles estarem com os telemóveis, mas obviamente que está intrínseco. Aliás, há muitas componentes das atividades que eles podem acompanhar através das redes sociais e é natural que queiram estar a par.

Mas nestes dias, quem acaba por estar mais ligado às redes sociais são pais e encarregados de educação que gostam de estar a par do que está a acontecer”, contrapõe.

Escutismo em decréscimo
“Temos noção que hoje há atividades que fazem concorrência com o escutismo. A tendência, na nossa associação e noutras associações juvenis em Portugal, tem sido de decréscimo. Apesar de haver muitos jovens que gostam de ficar agarrados aos videojogos, aos computadores e aos telemóveis, temos também muitos jovens que acabam por descobrir um novo mundo nos escoteiros. Mas em alguns contextos, tudo acaba por se ligar em equilíbrio. Queremos acreditar que o que o nosso programa oferece acaba por ser superior em termos de aprendizagem e estímulos. Estamos em crescimento e há ainda muito espaço para este tipo de associações viverem na nossa sociedade”, conclui a responsável.

A edição deste ano do Acampamento Nacional da Associação dos Escoteiros de Portugal coincide com a celebração dos 110 anos da AEP e o objetivo passou por “aproveitar o encontro para a alertar os jovens para a importância da construção de uma sociedade mais equilibrada, equitativa, verdadeira e justa, colocando o tema da sustentabilidade em destaque”, finaliza a Direção Nacional da AEP.

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