Empreendedorismo que dá cartas além fronteiras

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Os últimos anos têm sido ricos em resultados para a Escola Secundária de Vila Real de Santo António, cujos alunos têm ganho prémios e participado em concursos nacionais e internacionais no âmbito do empreendedorismo. Mais recentemente, três alunas foram representar Portugal e o Algarve a Barcelona (Espanha), levando consigo um projeto de uma aplicação relacionada com a saúde mental

“Talk2Me” é o nome de uma aplicação que tem a assinatura de três alunas da Escola Secundária de Vila Real de Santo António. Beatriz Dias, Catarina Nunes e Vitória Zambonetti criaram este projeto que tem como foco a saúde mental, no âmbito do Clube do Empreendedorismo, coordenado pelo professor Luís Neves.

Segundo disse Catarina Nunes, de 16 anos, ao JA, esta aplicação “permite ao utilizador conversar com um especialista na área da psicologia através de um chat de forma anónima”.

“Dentro da nossa aplicação, o cliente ainda tem acesso a diversos conteúdos como frases motivacionais, vídeos ou dicas para acalmar a ansiedade. O que é importante realçar é o anonimato, que é aquilo que nos distingue de tudo o resto”, acrescenta a jovem nascida em Viseu e residente em Vila Nova de Cacela.

A aplicação foi apresentada no “The Challenge”, uma competição do programa EduCaixa, da Fundação LaCaixa, onde participaram mais de 1500 projetos portugueses e espanhóis, que terminaram apenas em 100 vagas no Campus em Barcelona, durante quatro dias do mês de maio.

“A saúde mental é um tema que tem sido muito falado, principalmente desde a pandemia de covid-19, que nós sentimos através de todos os noticiários que tinha sido um foco. Com a pandemia aumentou e vimos que a percentagem de pessoas que acabam por não procurar ajuda nessa área deve-se à vergonha de dar a cara”, refere.

Segundo o professor e coordenador Luís Neves “foram submetidos 1546 projetos para Barcelona, passaram 100, três deles portugueses e um deles algarvio”, o único vindo de uma escola pública.

O professor Luís Neves acompanhou as alunas Vitória Zambonetti, Beatriz Dias e Catarina Nunes

Na cidade espanhola as alunas da área de Ciências do 11.º ano participaram em conferências, palestras, atividades individuais e em grupo “em forma de partilha”, culminando com um pitch em cima do palco durante três minutos, “sem direito a perguntas nem respostas”, afirma o professor.

As jovens tiveram ainda uma entrevista com elementos do júri, além da elaboração de um poster, trabalhando durante os quatro dias na companhia de uma educoacher.

“Dentro do campus de Barcelona e com todas as palestras e workshops que fizemos, conseguimos ainda encontrar pontos a melhorar dentro da nossa aplicação. Ganhámos uma nova perspetiva do tema da comunicação. Toda a experiência em Barcelona ajudou-nos em vários níveis”, acrescenta Catarina Nunes ao JA.

Enquanto Beatriz Dias, de 16 anos e residente em Altura, no concelho de Castro Marim, considera que foi “uma experiência nova”, Vitória Zambonetti considera que conseguiu “aprender muitas coisas e melhorar a ideia, de forma a torná-la acessível a mais pessoas”.

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“Pensámos em ter uma interface de áudio para que as pessoas com dificuldades visuais consigam utilizar a aplicação”, explica.

A jovem de 17 anos nascida em Lisboa e residente em Castro Marim refere que “muitas pessoas têm a ideia de que só se vai ao psicólogo quando se tem realmente um problema muito grave” e que a nova aplicação tem “um preço muito acessível comparado com uma consulta”.

Para o futuro, as três jovens pretendem aceder à plataforma Next, pertencente ao campus de Barcelona, que faz uma espécie de repescagem e que poderá ser uma “forma de tentar conseguir meter a aplicação no mercado”.

“Queremos realmente seguir em frente com a aplicação”, confessa a também participante do Concurso Nacional de Leitura ao JA.

A aplicação das alunas foi apresentada no “The Challenge”

Clube que dá frutos

Este foi um dos muitos projetos que já passaram pelo Clube do Empreendedorismo da Escola Secundária de Vila Real de Santo António, com a assinatura de centenas de alunos, entre os 15 e os 18 anos, que não fazem parte das turmas do seu coordenador, Luís Neves.

Ao mesmo tempo que têm aulas, testes e trabalhos, os alunos deste clube nascido em 2017 recebem conhecimento de uma “área extremamente importante”.

“A adesão ao clube não é fácil. Não é fácil meter os alunos a pensar, a serem criativos, a trabalharem fora de horas e do seu horário”, confessa o professor ao JA.

O também coordenador refere ainda que os alunos “têm de ser ativos” e que “têm de identificar uma ideia, partindo de um problema, arranjar uma solução e verificar se existe mercado”.

A participação nestes concursos pode ser a porta de entrada para um futuro promissor, uma vez que “nestas mostras podem estar business angels, que são investidores com imenso dinheiro que aproveitam para ver se encontram alguma ideia onde investir”.

Para Luís Neves, o que é importante “é tentar ganhar capacidades para, eventualmente, não trabalhar por conta de outrem, mais tarde”.

“As alunas hoje não sabem aquilo que vão utilizar daquilo que estão a aprender hoje. No fundo eu tento dar a possibilidade de ganhar competências diferentes. A escola, a meu ver, não ensina estas competências. A escola não ensina a falar em público para mais de 150 pessoas, não ensina a competição e também não ensina o saber vender”, acrescenta.

O professor garante que não tem influência nas ideias dos alunos, “mesmo que seja a ideia mais estapafúrdia”.
“Já fui surpreendido por ideias que eu se calhar pensava que não seriam as melhores e tiveram sucesso. Uma excelente ideia mal defendida é pior que uma ideia mediana bem defendida”, afirma.

Os participantes tiveram de apresentar o seu projeto em palco

Esta já é a quarta vez que a escola vilarrealense participa neste concurso.

Para o coordenador do clube, o empreendedorismo “acaba por ser um complemento de ensino”, dando assim “a possibilidade a esta geração de conseguir ser um pouco diferente àquela que nunca teve nada disto. O que os alunos ganham nestas participações, mais tarde, vai ser valorizado. Sei de casos de alunos em que estes concursos e projetos foram importantes em entrevistas de trabalho”, acrescenta.

No ano passado, o projeto intitulado “Turismo & Go” tinha a assinatura de quatro alunos “que desenvolveram uma aplicação em que a pessoa, por intermédio de investigação operacional, respondia a um inquérito e nele daria o que de mais importante o utilizador gostaria de ver numa cidade e a sua rota”.

Para a direção da escola “a geração mais velha tem sempre a ideia que os mais novos não têm cabeça e não conseguem fazer nada. Elas vêm manifestar exatamente o contrário”, disse ao JA Ana Cristina Duarte.

“Dando-lhes todas as ferramentas, esta geração consegue fazer projetos extremamente interessantes porque lhes foram dadas essas hipóteses. Nem todos os professores permitem que os alunos pensem em sala de aula.

Muitas vezes estão ali a desbobinar matéria. O clube serve exatamente para isso, não há obrigatoriedade nenhuma de disciplina e permite que eles façam e dinamizem à maneira deles, claro que com uma orientação”, acrescenta.

A representante da direção refere ainda que “conhecer é sempre diferente. Desenvolver as suas capacidades e a criatividade é sempre importante”.

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