Formação de internos vista como uma das soluções para evitar fecho de urgências

Para Diogo Ayres de Campos, o número atual de especialistas e de internos “é bastante confrangedor” e alertou que é necessário “aumentar a formação de uma forma que não seja a habitual”

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O especialista Diogo Ayres de Campos defendeu esta segunda-feira ser necessário aumentar a formação de internos de uma “forma diferente” da habitual, caso contrário alguns hospitais “muito deficitários” de profissionais vão ter de se encerrar urgências e blocos de partos.

“Neste momento, ou há medidas enérgicas e medidas corajosas para resolver a situação ou a tendência é, de facto, piorar com saídas ainda maiores de médicos especialistas do SNS”, alertou o coordenador da Comissão de Acompanhamento de Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Parto no dia em que o jornal Público avançou que metade dos obstetras no Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem mais de 50 anos.

Segundo o jornal, dos 819 especialistas em ginecologia e obstetrícia que em 01 de julho estavam oficialmente a trabalhar nas 38 maternidades públicas do país, mais de metade tem acima de 50 anos e 44% estão acima dos 55 anos, tendo por isso direito de não fazer serviço de urgências.

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Para Diogo Ayres de Campos, o número atual de especialistas e de internos “é bastante confrangedor” e alertou que é necessário “aumentar a formação de uma forma que não seja a habitual”.

Se isso não acontecer, avisou, alguns hospitais que “estão muito deficitários” de especialistas, nomeadamente os do interior (Alentejo, Algarve) e alguns da região de Lisboa e Vale do Tejo, “não vão ter forma nenhuma de conseguir manter as suas urgências e blocos de partos abertos”.

Sublinhou ainda que continua a assistir-se à saída de especialistas do SNS, sobretudo, para os hospitais privados.

Segundo o responsável, o documento elaborado pela comissão que lidera, que será entregue este mês ao novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, contém algumas propostas para tentar corrigir essa situação.

Sem querer avançar com as propostas que constam do documento, cuja versão final poderá ficar concluída na reunião da comissão na próxima quarta-feira, disse que “há dois ou três aspetos” que têm de ser postos em cima da mesa para pôr à consideração dos decisores políticos, nomeadamente a concentração de recursos, aumentos salariais para especialistas e internos e o aumento do número de médicos em formação em ginecologia e obstetrícia.

“É muito claro que há hospitais que estão muito carentes e, ou temos uma atitude muito de exceção e muito rápida para tentar corrigir a situação, aumentando o número de internos que estão em formação, ou então vamos ter problemas, provavelmente em dezembro, na altura do Natal, e outra vez nos meses de verão no ano que vem”, vincou.

Questionado se a situação de contingência que se viveu em algumas maternidades do país nos meses de verão aliviou este mês, afirmou que “a situação está um pouco mais estável”, apesar de continuar a haver constrangimentos porque é uma situação que não se limita ao período de férias.

“É uma situação que na região de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve vai para além das férias (…) agora não é com o número de hospitais em contingência como estávamos nos meses de julho e agosto”, sublinhou.

Apesar das dificuldades vividas, o especialista disse que o SNS conseguiu dar sempre dar uma resposta às utentes, embora “muito longe de ser a ideal”, conseguiu-se que “houvesse sempre uma resposta com segurança”, que não se corressem riscos acrescidos, à exceção do que aconteceu nos feriados em junho.

“Aí houve alguns riscos acrescidos, mas depois conseguiu-se atenuar a situação e dar uma resposta de segurança, mas é preciso medidas para que a situação vá para além da segurança, vá também para um pouco de conforto” e ir ao encontro da expectativa de terem o seu parto no hospital que escolhem.

Disse ainda que “muitas das situações que vieram para a comunicação pública são situações cuja relação com a situação de contingência nem sequer é clara” e, no seu entender, muitas delas “nem sequer tiveram qualquer relação com a contingência”.

Questionado sobre a proposta da Ordem dos Enfermeiros para a criação de Centros de Parto Normal junto aos serviços de obstetrícia, utilizando mais os enfermeiros especialistas para garantir a acessibilidade aos cuidados de saúde materna e obstétrica, afirmou que é uma medida “muito difícil” de pôr em prática devido à carência destes profissionais.

“É muito importante que haja um bom trabalho de equipa entre os médicos e os enfermeiros de saúde materna e obstétrica e que seja claro o que é que cada um faz e temos estado a trabalhar com a Direção-Geral da Saúde esse aspeto. No entanto, em relação a estes enfermeiros especialistas ainda há mais carência do que com os médicos”, salientou.

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