Guerra empurra sírios para campos de refugiados

ouvir notícia

.

Somente nos últimos dias, cerca de 200.000 pessoas fugiram dos intensos combates em Aleppo, informa a ONU. Bombardeamentos seguem em Homs e Rastane.

Milhares de sírios chegaram ao campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, procedentes de Aleppo, onde há mais de uma semana travam-se combates entre os rebeldes do Exército Livre da Síria e as forças do regime do ainda Presidente Bachar al-Assad. Outros milhares estão neste momento a caminho das fronteiras.

O movimento de sírios em fuga é visível nas estradas. Nos últimos dias, cerca de 200.000 pessoas abandonaram Aleppo, informou a ONU citando dados da Cruz Vermelha. A mais populosa cidade síria (2,5 milhões de habitantes) está agora praticamente desabitada.

- Publicidade -

Os que ficaram na cidade necessitam urgentemente de ajuda, pois a guerra civil impede que tenham acesso à comida, de resto já escassa. A responsável da ONU para as operações humanitárias, Valerie Amos, acrescentou que um número desconhecido de pessoas está retido na cidade e exigiu corredores de acesso seguros a Aleppo para as organizações de ajuda.

Desde que começou o conflito, são já 43.500 os refugiados sírios na Turquia. Fontes oficiais turcas, citadas pela agência Reuters, asseguram que nas últimas 24h pelo menos 600 sírios cruzaram a sua fronteira a sul, fugindo da violência na Síria.

Entretanto, desertores e exilados divergem sobre a transição. Os membro do Exército Sírio Livre, que formam o peso da luta armada contra Bachar ar-Assad, recusam que os civis da oposição formem, no estrangeiro, um Governo provisório para substituir o regime após a sua queda. Como afirmaram ontem, querem ser eles a dirigir o país na transição.

A posição dos militares foi tornada pública 24h depois de o Conselho Nacional Sírio, que congrega a maior parte dos exilados civis liderados pela Irmandade Muçulmana ter anunciado que nas próximas semanas formaria um Governo de transição para dirigir o país atè a realização de eleições democráticas.

França vai convocar reunião de urgência na ONU

A França, que assume no dia 1 de agosto a presidência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), vai convocar, ainda esta semana, uma reunião de urgência para discutir a situação na Síria.

O anúncio foi feito hoje pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius: “Vamos convocar, antes do final desta semana, uma reunião, provavelmente ao nível ministerial, para tentar parar os massacres, e também para preparar a transição política [no país]”, afirmou à rádio francesa RTL.

O ministro disse ainda, a propósito da posição da Rússia e da China — que recusaram, até agora, qualquer resolução vinculativa da ONU em relação ao regime de Damasco –, que “é preciso tentar tudo”. Fabius destacou o risco de extensão do conflito aos países vizinhos, e defendeu que “já não pode dizer-se que está em causa uma questão interna”.

O chefe da diplomacia francesa mostrou também receios de um massacre em Alepo, a segunda maior cidade do país, onde vivem cerca de 2,5 milhões de pessoas. Fabius considerou que “é um martírio, o que o povo sírio está a sofrer”, e acusou Bashar al-Assad de ser “o carrasco” do seu povo.

O ministro voltou ainda a rejeitar o envio de armas do Ocidente para as forças rebeldes na Síria: “Estão a ser-lhes entregues armas, de acordo com as informações de que dispomos. Pelo Qatar, pela Arábia Saudita, provavelmente por outros [países]. Mas não por nós”, disse.

No domingo, o Conselho Nacional Sírio (CNS), o principal grupo da oposição ao regime de Bashar al-Assad, exigiu uma reunião de “urgência” do Conselho de Segurança da ONU para impedir os massacres de civis que o regime tem vindo a cometer.

Em comunicado divulgado pela agência de notícias France Presse, o CNS afirmava que o regime sírio se preparava para “cometer massacres” em Aleppo, a norte de Damasco, e apelava ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que tomasse “as medidas necessárias para proteger os civis”.

Depois de um cessar-fogo temporário na noite de sábado, na manhã de domingo Aleppo foi palco de confrontos violentos em vários bairros da cidade, em particular no de Salaheddine, um bastião de rebeldes armados.

O conflito na Síria causou mais de 20 mil mortes nos últimos 16 meses, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

ONU testemunha bombardeamentos em Homs

O chefe dos observadores da ONU na Síria, Babacar Gaye, afirmou hoje ter visto “bombardeamentos intensos” e enormes danos nas cidades de Homs e Rastane, no centro do país.

“Durante a minha visita a Homs, pude constatar um intenso bombardeamento de artilharia e obuses de morteiro”, indicou Gaye aos jornalistas, em Damasco. “Era um ataque constante aos bairros” da terceira cidade da Síria, referiu.

O responsável da ONU visitou ainda a cidade de Rastane, na mesma região, mantida há vários meses sob controlo dos rebeldes e encontrou a “enormes danos”. “Havia também tanques do exército destruídos à beira da estrada principal”, acrescentou.

“Estou preocupado com a continuação da violência e devemos reconhecer que a violência vem das duas partes”, sublinhou.

As afirmações do chefe dos observadores da ONU foram feitas numa altura em que os combates continuam em todo o país, sendo particularmente intensos em Aleppo, segunda cidade da Síria.

Os 300 observadores da ONU chegaram à Síria a meio de abril para vigiar um cessar-fogo que entrou em vigor com o acordo do Governo e da oposição, no âmbito de um plano de saída da crise apresentado pelo emissário da ONU, Kofi Annan, mas o cessar-fogo tem sido ignorado.

Desde 15 de junho, os observadores tiveram de suspender as suas operações devido à intensificação da violência no país.

Hoje, a televisão estatal síria anunciou que o exército sírio “limpou o bairro de Qarabis de terroristas mercenários” no centro de Homs.

“O exército regular alargou o seu controlo em Qarabis e domina agora 70%” da área após meses de guerrilha urbana, afirmou, por seu lado, Rami Abdel Rahmane, presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

De acordo com a mesma fonte, o regime controla 60% de Homs, incluindo os bairros de Inchaat, Deir Baalbeh, Bayada, os bairros alauitas, os edifícios governamentais e o comado da polícia. Já os rebeldes, controlam o resto da cidade de maioria sunita.

Segundo um ativista contactado pela France Presse por Skype, os bairros rebeldes de Homs estão a ser atacados há mais de 60 dias. “Neste momento, o regime está concentrado em Aleppo e o Exército Sírio Livre em Homs está a aproveitar isso”, afirmou.

Jornalista da Al-Jazeera ferido em combates

Ontem, uma coluna com observadores da ONU, incluindo o seu chefe – general Babacar Gaye -, foi atacada por “tanques do exército” sírio, informou hoje o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

“O general Gaye e a sua equipa foram tomados como alvo em duas ocasiões sem que ninguém tenha ficado ferido nos ataques”, adiantou Ban.

A televisão Al-Jazira, do Qatar, anunciou que um dos seus jornalistas, Omar Khachram, foi hoje ferido em Alepo, na Síria, e hospitalizado na Turquia. O jornalista deu entrada num hospital da Turquia “para retirar estilhaços do corpo”, indicou a estação televisiva, acrescentando que Khachram foi ferido quando fazia a cobertura dos acontecimentos na cidade de Alepo, controlada em parte pelo Exército Sírio Livre, formado por desertores e por civis armados.

As forças militares que apoiam o regime sírio lançaram, no sábado, uma ofensiva para afastar os rebeldes de Alepo, a segunda cidade síria, considerada a capital económica do país.

O regime do Presidente Bashar al-Assad enfrenta desde março de 2011 um movimento de contestação que nos últimos meses deu origem a um sangrento conflito armado.

Maria Luiza Rolim (Rede Expresso)
- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.