Há 15 anos a lutar contra a fome na região

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O Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve (BACFA) comemorou 15 anos no dia 01 de março e preparou várias iniciativas para assinalar a data, sempre com o objetivo de “prosseguir o sonho em utopia” de fechar as portas, “que era sinal que não havia necessidades”, segundo disse ao JA o presidente da delegação algarvia, Nuno Cabrita Alves. O Banco Alimentar do Algarve é atualmente o quarto maior do país, distribuindo por ano 3.500 toneladas de alimentos e tendo atingido no pico da pandemia um “máximo histórico” de pessoas apoiadas

O BACFA nasceu por vontade de vários cidadãos entre os anos de 2004 e 2005, mas apenas começou o seu trabalho e inaugurou as instalações de Faro em 2007, em colaboração com a autarquia.

Entre 2007 e 2012, BACFA “começou por procurar instituições em colaboração com as autarquias e Segurança Social para iniciar os trabalhos”, nomeadamente com as campanhas em supermercados, uma vez que “ainda era uma estrutura muito pequena” naquela época.

Já em 2011 acontece o “primeiro grande marco” na história do BACFA do Algarve, que foi quando foi oferecida a primeira câmara frigorífica e uma carrinha, o que resultou numa melhoria de condições para recolher e armazenar alimentos, para mais tarde serem distribuídos pelas instituições e famílias carenciadas.

O ano seguinte é considerado por Nuno Cabrita, um dos fundadores com 48 anos, como “o ponto de viragem”, uma vez que a delegação de Faro consegue uma nova câmara frigorífica com grande capacidade e é quando abrem as portas das instalações em Portimão.

Após a abertura da delegação de Portimão do BACFA, foram conseguidas uma câmara frigorífica e uma nova carrinha, aumentando a capacidade de resposta, de recolha, de distribuição e de armazenamento do barlavento ao sotavento algarvio, além de contribuir para uma maior proximidade da instituição junto da comunidade.

Sobre o financiamento, o presidente da instituição disse que parte dos apoios advêm de “donativos da sociedade civil em geral e das empresas”, embora outra parte do financiamento seja “altamente suportada pelas Câmaras Municipais”.

Crises aumentam pedidos de ajuda

O número de instituições ajudadas pelo BACFA “foi sempre crescendo”, começando com pouco mais de 30 até chegar às atuais 125.

No entanto, segundo Nuno Cabrita, este crescimento “é muito impulsionado pelas crises”, nomeadamente de cariz financeiro e pandémico que se viveram nos últimos anos.

A crise financeira levou ao aumento do desemprego “e a uma série de dificuldades da população, o que fez com que houvessem mais pedidos de ajuda junto das instituições e, consequentemente, também o BACFA teve de aumentar a sua capacidade de resposta”.

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Em declarações JA por ocasião do 15.º aniversário da Instituição Particular de Apoio Social (IPSS), Nuno Cabrita Alves afirmou que foi o crescimento e consolidação da estrutura que permitiu apoiar, no pico da pandemia, um “máximo histórico” de cerca de 30.000 pessoas.

“Enquanto que na crise financeira as coisas foram acontecendo de uma forma gradual, ou seja, foram sentidas à medida que as pessoas iam tendo dificuldades, neste caso com a pandemia de covid-19 os pedidos surgiram em poucos dias”

Nuno Cabrita

Nos dias de hoje já existem menos pedidos de ajuda por parte das famílias, mas aumentaram as solicitações de auxílio por parte das instituições, uma vez que “muitas delas tinham algumas poupanças e acabaram por gastar tudo”.

“O grosso do impacto no Banco faz-se nos concelhos de Olhão, Faro e Loulé, pela quantidade de instituições que são apoiadas, que, em alguns concelhos, ascende a 20 instituições apoiadas. Mas, por outro lado, temos os concelhos periféricos, como é o caso de Castro Marim, Alcoutim, Monchique ou Aljezur, ou Lagos ou Vila do Bispo, onde muitas vezes só temos uma instituição em cada território”, observou.

Armazéns do Banco Alimentar

Voltar a apostar no voluntariado

Com o aparecimento da pandemia de covid-19, o BACFA teve uma quebra no número de voluntários, que são essenciais para a continuação do trabalho e da capacidade de resposta.

“Tínhamos cerca de 70 pessoas permanentes em vários pontos do Algarve e agora reduziu para cerca de 50. Há uma necessidade de reativar o voluntariado assim que as restrições contra a covid-19 desaparecerem e reforças a equipas que muita falta fazem todos os dias para dar resposta às necessidades”, disse Nuno Cabrita ao JA.

Graças ao apoio da Câmara Municipal de Faro, atualmente, as instalações da delegação de Faro do BACFA estão a ser alvo obras, com o objetivo de aumentar a área de escritórios, zona de armazenamento, casas de banho, balneários e copa, seguindo depois uma segunda fase com intervenções na melhoria do solo e no aumento da capacidade da área de trabalho para 1250 metros quadrados.

O BACFA ajuda cerca de 25.500 pessoas em todo o Algarve, com presença em todos os 16 concelhos do distrito, distribuindo mais de três mil toneladas de alimentos por ano.

“O Banco Alimentar do Algarve começou há 15 anos com uma distribuição média anual na ordem das 400 toneladas, hoje distribui perto de 3.500 toneladas de alimentos por ano só aqui na região do Algarve, o que fez com que, sendo o 12.º banco a abrir em Portugal, hoje seja o quarto maior banco do país numa rede de 21″

Nuno Cabrita

O ano de 2021 foi “o maior de sempre”, com cerca de quatro mil toneladas de alimentos distribuídos.

A próxima campanha nos supermercados está marcada para o último fim de semana de maio, com a participação de 2500 voluntários no Algarve.

O futuro da instituição

Para o futuro, Nuno Cabrita pretende que o BACFA continue o seu trabalho, melhorando as condições de operação e aumentando a sua capacidade de recolha.

“Temos na região três viaturas que todos os dias recolhem toneladas de alimentos. Queremos melhorar a qualidade do trabalho, no sentido de oferecer mais e melhores alimentos às famílias e um cabaz mais digno”, acrescenta.

Se, num primeiro momento, o “crescimento sustentado” e a capacidade de chegar ao “máximo de parceiros possível” trouxe “um aumento da oferta” e permitiu “ter alimentos em quantidade” para prestar apoio aos mais carenciados, atualmente, a resposta já se distingue “também pela diversidade”, sublinhou.

Ao longo de 15 anos, e graças à ajuda de centenas de pessoas, empresas, associações e entidades públicas, foi possível distribuir 24,2 milhões de quilos de alimentos, o equivalente a 27,1 milhões de euros de apoio.

Segundo o presidente do Banco Alimentar do Algarve, o crescimento gradual do orçamento anual do Banco Alimentar do Algarve teve um “efeito multiplicador”, permitindo que hoje se apoie a população da região “com mais de quatro milhões de euros de doações e alimentos”.

O painel de oradores no aniversário

Aniversário foi celebrado na UAlg

No dia 4 de março, o BACFA juntou no Campus da Penha da Universidade do Algarve (UAlg) fundadores e atuais membros da Direção, colaboradores, voluntários, instituições beneficiárias, doadores e parceiros num colóquio com o tema “Impacto do Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve na Região – Passado, Presente e Futuro”.

Enquanto anfitrião, Nuno Cabrita Alves contou com a participação de Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares; Jorge Botelho, secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local; Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro; José Apolinário, presidente da CCDR; Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Faro do Instituto de Segurança Social; Alexandra Teodósio, vice-reitora da UAlg; e de fundadores e antigos dirigentes.

Gonçalo Dourado/Joana Pinheiro Rodrigues

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