Há cada vez mais crianças espanholas nas escolas algarvias

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Algumas escolas dos concelhos transfronteiriços têm começado a assistir a um 'fenómeno': há cada vez mais crianças espanholas que todos os dias atravessam a fronteira e a Ponte Internacional do Guadiana para frequentar instituições de ensino portuguesas. É o caso da Escola E. B. 2, 3 Infante D. Fernando, em Vila Nova de Cacela, e da Horta do Figueiral, na Portela, que juntas já somam mais de uma dezena de crianças espanholas

A 14 quilómetros de Vila Real de Santo António, a Escola E. B. 2, 3 Infante D. Fernando, em Vila Nova de Cacela, tem uma particularidade especial: a multiculturalidade, que faz com que alguns encarregados de educação espanhóis atravessem diariamente a fronteira e coloquem os seus filhos a estudar naquele estabelecimento de ensino.


A vinda de alunos espanhóis para aquela escola começou há quatro anos atrás, com a inscrição de três alunos que faziam parte de uma família “que tinha como objetivo vir aprender português”, começa por dizer Ana Cabrita, coordenadora e docente do estabelecimento que faz parte do Agrupamento de Escolas de Vila Real de Santo António.
“Como gostaram do ensino, passaram a palavra e acabámos por receber mais alunos espanhóis ao longo dos anos. Os pais dizem-nos que o ensino português é um dos melhores do mundo, o que nos orgulha”, acrescenta.


Atualmente frequentam aquela instituição de ensino oito alunos espanhóis, que todos os dias viajam para Portugal para estudar.

Duas destas famílias “conseguem conjugar-se” diariamente, ou seja, “uma família traz duas crianças de manhã e a outra leva as duas à tarde”, ao contrário da terceira que chega individualmente.


O início da vinda de crianças espanholas para esta instituição de ensino começou com uma família, que acabou por passar a palavra a outras, pois Ana Carmo não tem “muita coisa publicitada”.


A Horta do Figueiral trata-se de um projeto educativo “um bocadinho especial” e único, não existindo outro do mesmo género neste território do sotavento algarvio nem em Espanha, segundo Ana Carmo.


“As pessoas que procuram este tipo de educação são especiais e têm outra mentalidade. Não acredito que, se houvesse mais perto, eles viriam para cá, até porque a Horta do Figueiral é um projeto relativamente recente e não tem ‘nome’”, refere ao JA.

Escola E. B. 2, 3 Infante D. Fernando

Uma dúzia de países num só espaço
Dentro da comunidade escolar de Cacela existem alunos de 12 nacionalidades diferentes, de países como Espanha, Paquistão, Nepal, Estados Unidos da América, Guatemala, Ucrânia, Reino Unido, Alemanha e Rússia.


Esta particularidade da escola é uma situação recente, apesar de ao longo dos anos já terem passado por aquele estabelecimento de ensino alunos de outros países como a Ucrânia.
Neste momento, os alunos com origens do Paquistão e do Nepal frequentam aquela escola, pois os seus pais são trabalhadores da agricultura, enquanto os estudantes ingleses e alemães fazem parte de famílias “que procuram a paz e sítios diferentes para viver”, explica Ana Cabrita ao JA.


Dos Estados Unidos da América chegou uma aluna “que em cinco meses aprendeu a falar português”.

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Para Ana Cabrita, “esta mistura de nacionalidades, para os nossos alunos, é uma riqueza. É muito rico pelo nível cultural de cada um. Fala-se português no meio de tanta língua”, conta.
Atualmente, os alunos estrangeiros “acabam por ser os intérpretes dos pais, que continuam sem falar português, fazendo eles a tradução”.


Esta multiculturalidade dentro do recinto escolar de Cacela “quebra barreiras muito importantes” como o racismo e a xenofobia, problemas que “existem mas vão-se quebrando e os alunos vão-se adaptando”.


“Os meninos que vêm de outras culturas vão-se adaptando à nossa e os nossos também se vão apropriando de algumas coisas dos estrangeiros”, acrescenta.


O ensino do português é dividido entre os alunos portugueses e os estrangeiros, uma vez que os estudantes de outro país têm a disciplina de Português Língua Não-Materna, “porque sem saberem o português, depois não conseguem saber história, física e química ou geografia”.


Além deste apoio, existem ainda alguns professores “que fazem tutorias para melhorar a integração desses alunos na escola”.


Os resultados “vão sendo bons”, naquele que é um projeto “desafiante, mas muito gostoso” para Ana Cabrita e toda a comunidade escolar.


“Esta escola marca a diferença pela proximidade. É uma escola muito familiar, com um corpo docente muito próximo, com assistentes operacionais e técnicos que são como uma família. Todos nos ajudamos. O que for preciso fazer, fazemos. O que mais nos interessa é que os pais deixam os seus filhos às 08:00 na escola e podem vir buscá-los às 18:00, que nós cuidamos. Tentamos fazer uma escola melhor e preparar estes cidadãos para o futuro”, conclui.

Na Horta do Figueiral as crianças alimentam animais

Projeto de educação mais livre
A Horta do Figueiral é um projeto educativo onde “as crianças passam, como se espera, mais tempo no espaço exterior e têm muita convivência com os animais da quinta, que andam por ali à volta”, explica Ana Carmo.


Já no segundo ano letivo desde a sua criação, o objetivo da Horta do Figueiral é “promover uma educação mais livre, no meio da natureza, em que as possibilidades da exploração do próprio meio sejam bastantes”.


Entre outras atividades, as crianças vivem experiências “relacionadas com os afazeres do dia-a-dia” como por exemplo cuidar e tratar dos animais, do espaço e dos objetos, fazer pão, preparar as refeições (mais precisamente frutas e legumes), atividades artísticas e passeios no exterior “com o intuito de vivenciar a natureza e as estações do ano”.


Com a horta muito presente, estas crianças aprendem a cuidar da terra, são sensibilizadas para o desperdício e aproveitamento de água e recolhem lixo sempre que vão passear.
Atualmente com 16 crianças, Ana Carmo gostaria de, no futuro, conseguir promover o seu projeto e ter crianças mais velhas, como já teve anteriormente.


“É muito interessante para eles, porque saem da escola onde é tudo tão rígido, o recreio é curto e onde não podem subir a uma árvore, não se podem sujar nem brincar na terra.

Gostava de proporcionar esta alternativa, porque as crianças mais velhas deliram com esta liberdade, onde há regras e limites. É livre no espaço e nas decisões que as próprias crianças podem tomar, mas é preciso também perceber que a educação traz consigo uma base de regras e limites, porque as crianças precisam e gostam, apesar de não parecer”, conclui.

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