Lagarde alerta para três riscos no sistema financeiro mundial

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Três riscos graves de “instabilidade financeira” permanecem na economia mundial, avisou Christine Lagarde. A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional falava das “más notícias” que a globalização financeira provoca, na abertura em Tóquio de um seminário sobre os desafios do sistema financeiro global.

A economia mundial continua ameaçada por três riscos graves, alertou, ontem, em Tóquio, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). Christine Lagarde falava na abertura de um seminário sobre os desafios do sistema financeiro global, realizado após as reuniões do FMI e do Banco Mundial que se desenrolaram na capital nipónica.

Os três riscos prendem-se com 1) o impacto nas economias emergentes da política monetária dos bancos centrais dos países desenvolvidos, 2) a concentração financeira que prossegue com “instituições demasiado grandes para falir” cada vez maiores, e 3) o facto de que a dívida soberana “tóxica” (em nível especulativo, ou seja, vulgarmente designada por “lixo financeiro”) ou não considerada “segura” aumentou.

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Efeitos globais da Política Monetária

A economia mundial está a depender em excesso da política monetária dos principais bancos centrais dos países desenvolvidos na sua tentativa de evitar um retorno à recessão nos seus países, nomeadamente nos Estados Unidos, na Zona Euro e no Japão. “Sem dúvida que os banqueiros centrais devem desempenhar um papel significativo em tirar a economia mundial da doença atual, mas não podem fazê-lo sozinhos. As políticas orçamentais e estruturais [nas economias desenvolvidas] têm também de fazer a sua parte”, referiu Lagarde.

Os efeitos da “política acomodativa” desses bancos centrais – sobretudo da Reserva Federal norte-americana, do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão – têm um impacto nas economias emergentes. Numa primeira fase provoca aquilo a que se chama o afluxo de “dinheiro quente”. “As políticas monetárias acomodativas em muitas economias desenvolvidas provavelmente vão incentivar fluxos de capital, amplos e voláteis, em direção às economias emergentes”, refere a diretora-geral do FMI. O que pode gerar “bolhas” de preços e criar desequilíbrios financeiros nestas economias.

Christine Lagarde apela, por isso, ao “diálogo internacional e à cooperação” entre os bancos centrais.

Concentração financeira

“Cinco anos de crise, e o sistema financeiro continua a preocupar-me”, diz Lagarde. Houve progressos na regulação, mas a diretora-geral do FMI diz que “muitos sistemas financeiros continuam vulneráveis, demasiado complexos, e excessivamente dependentes de um pequeno número de grandes – e crescentemente maiores – instituições”. Alerta que “a energia coletiva” para prosseguir com as reformas no sector “está a desvanecer-se”.

Dívida soberana “tóxica” ou “insegura”

O terceiro aspeto que Christine Lagarde refere no seu discurso de hoje diz respeito à dívida soberana. “Um número crescente de títulos soberanos já não são considerados “seguros” ou “sem risco””, advertiu. Essa situação provoca fluxos em direção a aplicações seguras, e a fuga massiva de capitais dos países com dívida considerada de risco ou mesmo especulativa, como está a acontecer nos membros “periféricos” da zona euro. “Fluxos em direção a certas classes de ativos e mercados [considerados seguros] podem ser uma fonte de risco financeiro sistémico”, concluiu a diretora-geral do FMI. Além das “bolhas” que geram numa primeira fase, depois, numa segunda fase, provocam saídas massivas. Em ambas as situações, geram instabilidade sistémica.

Se atentarmos, por exemplo, no que ocorre com a “fragmentação” na zona euro – a que se tem referido regularmente Mário Draghi, presidente do BCE – verificamos, com nitidez, este flagelo da fuga massiva de capitais, depois de um “bolha”. Dados recentes do Bundesbank – banco central alemão – divulgados pelo blogue alemão Quer Schuesse mostram que, depois de uma euforia nos fluxos financeiros das instituições financeiras monetárias alemães em direção aos cinco países “periféricos” (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) durante décadas, assistimos a uma saída massiva. Desde o pico de abril de 2010 nas aplicações nos cinco países por parte das instituições financeiras alemãs (excluindo o Bundesbank) até agosto de 2012, a queda foi de 55,84%. Só no caso português, desde agosto de 2008 até agosto de 2012, a saída foi de 55,84%.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)
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