Ao JORNAL do ALGARVE, a escritora Lídia Jorge, nascida em Boliqueime há 74 anos, discorre sobre a sua infância algarvia e os tempos de pobreza que lhe moldariam a sensibilidade, a compaixão e as opções políticas. Fala também da sua ida para Lisboa e posteriormente para Angola e Moçambique. E do racismo que garante existir em Portugal. E da reconciliação dos povos. E dos prémios, o último dos quais recebeu, em Loulé, no passado sábado, 15 de maio
JORNAL do ALGARVE – O seu primeiro livro, O Dia dos Prodígios, é publicado quando tinha 33 anos. Um pouco à semelhança de José Saramago, não publicou cedo na sua vida. Qual a razão de não ter publicado na sua juventude mais precoce? Tinha escrito antes e não houve oportunidade de publicar, ou houve outras razões?
Lídia Jorge – Publiquei aos trinta e três anos, uma boa idade para iniciar a publicação. Costuma ser essa a idade que se toma como início da vida pública. A ideia provém da tradição da vida de Cristo, mas representa sobretudo o início da maturidade. Na vida de um escritor, significa que até então se tenta, se ensaia, se experimenta e se fazem muitas leituras, isto é, que a aprendizagem foi séria e a vontade de publicar foi sendo contrabalançada pelo sentido da responsabilidade. Eu achava que publicar muito cedo, quando ainda se está a experimentar os processos, significaria aprender em público. Eu quis aprender em privado. Mostrei a um editor “O Dia dos Prodígios” quando senti que já não tinha vergonha de mostrar a minha fantasia.
JA – Se lhe pedisse que me desse uma referência, concreta ou mais abstrata, de algo que está sempre, ou quase sempre, presente nas suas obras, qual é essa presença constante?
LJ – Está sempre presente a imagem de um imenso palco sobre o qual as personagens vão passando, falando alto, reclamando por um mundo mais perfeito do que aquele onde se encontram. Está sempre presente a ideia de uma batalha contra as leis da História.
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João Prudêncio
(leia a notícia completa no Jornal do Algarve de 20 de maio de 2021)
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