Todos os anos, o mês de julho é sinónimo de uma invasão de motos a Sul. Quarenta e um anos depois da primeira Concentração Internacional de Motos de Faro, o espírito motard continua “indomável” e “cada vez melhor”, confirmam alguns participantes com quem o JA teve a oportunidade de falar no recinto. Nem o número “absurdo” de polícias nas áreas circundantes ao recinto limitou os motards.
Este ano, a organização do evento, a cargo do Moto Clube de Faro, com o apoio da autarquia farense, viu-se “obrigada a reduzir a área de acampamento por questões ambientais”, explica o presidente José Amaro. “Essa decisão tirou-nos a possibilidade de deixar as pessoas mais à vontade. Com mais espaço torna-se também mais fácil prevenir incêndios”, alega.
Questionado sobre as motivações que levaram à decisão de restringir o espaço onde acontece a Concentração – entre o aeroporto e a praia de Faro -, José Amaro não esconde o descontentamento: “em prol do ambiente é que não foram de certeza”, afirma.
“Nós limpamos aquele terreno há 38 anos. Não é o Parque Natural (da Ria Formosa), nem outra entidade qualquer que vai lá limpar aquilo. Temos tentado e conseguido preservar a zona durante estes anos todos.
Quando o próprio Parque Natural diz que é para proteger a duna… Nem existem dunas naquele local. Dunas estão na praia”, atira. (…)
Apesar dos percalços e da redução do número de inscrições – 15 mil -, o responsável faz “um balanço positivo” em três dias de concertos, convívio, música, motas e (muita) cerveja. Depois de dois anos de pandemia e outro ano com limitações devido ao risco elevado de incêndio na região, que condicionou a realização de eventos multitudinários em julho do ano passado, o número de 15.000 inscritos foi atingido logo na sexta-feira, dia 21 de julho, o que refletiu a “sede” dos motards.
Tributos, fado e muito soul
Pelo palco principal da 41.ª Concentração de Motos passaram sonantes nomes do panorama musical nacional e internacional. No primeiro dia, 20 de julho, reinaram os tributos. ‘Break Free’ e ‘One Love Band’ levaram o público a viajar no tempo para reviver os êxitos dos ‘Queen’ e ‘Bob Marley’, respetivamente.
Entre Aspas, La Frontera e a banda algarvia de tributo aos Linkin Park – Hybrid Theory -, atuaram na sexta-feira, dia 21. A banda de Lagos, que corre o mundo a tocar temas dos seus ídolos norte-americanos, deixou rendido quem assistiu a um concerto memorável.
A voz da fadista Cuca Roseta abriu a noite no último dia do evento (dia 22). Seguiram-se Guano Apes e energia contagiante dos Expensive Soul, que puseram a plateia a dançar.
Futuro do evento
Sobre o futuro do Concentração, José Amaro não acredita que este tenha sido o último ano que um dos maiores eventos da região, e seguramente o maior do concelho de Faro, se realizou no Vale das Almas. “Julgo que não”, respondeu ao JA. “Mas se for o último ano no Vale das Almas não espero ajudar a fazer a concentração em mais sítio nenhum. É o local ideal, o único onde existem árvores”, vinca. “O Estádio do Algarve não é opção exatamente por isso. Não tem árvores”, explica.
“Era bom até que aquilo fosse transformado num parque dedicado à cidade de Faro. Aí seria utilizado pelo Moto Clube e por outras entidades para festas e lazer”, sugere.
“O futuro da Concentração vai depender muito do Parque Natural e do espaço que tivermos para a fazer. Já lá vão 41 anos e esperamos que as entidades sejam compreensivas e vejam que nunca prejudicámos o ambiente, pelo contrário”, defende.
Com participantes vindos dos quatro cantos do mundo, a Concentração de Faro é considerada pela revista italiana Bikers Life, a 8.ª melhor Concentração do Mundo.
Desfile que já é tradição
Como manda a tradição, os motards inscritos na 41.ª Concentração Internacional de Motos de Faro (e mais algumas centenas de entusiastas do motociclismo e do Moto Clube de Faro) deixaram o Vale das Almas no domingo de manhã, dia 23 de julho, após três dias de festa, para desfilarem pelas ruas de Faro, considerada por muitos a capital do motociclismo.
Foram mais de 15 mil os motards que exibiram as suas “relíquias” perante uma plateia heterogénea, que todos os anos sai à rua para ver passar as motos.