Ondas internas no Pacífico ajudam a prever fenómenos atmosféricos

“Estão numa longa banda zonal com milhares de quilómetros de extensão, conhecida por “língua fria do Pacífico Equatorial”, onde estes fenómenos de anomalias térmicas geralmente se desenvolvem”

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Um estudo publicado por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) desvenda a existência de ondas internas ao longo do Oceano Pacífico Equatorial, região crítica do oceano para o clima, que ajudam a regular e a determinar a previsão de eventos El Niño/La Niña (ENSO).

“Estão numa longa banda zonal com milhares de quilómetros de extensão, conhecida por “língua fria do Pacífico Equatorial”, onde estes fenómenos de anomalias térmicas geralmente se desenvolvem”, conta o docente da FCUP, José da Silva.

As ondas internas solitárias – ondas gigantes não-lineares que se propagam no interior do oceano – são conhecidas por aumentar a mistura vertical das águas dos oceanos e potenciam, por exemplo, o arrefecimento da temperatura da superfície do mar. Ora, numa zona já de si de grande instabilidade onde ocorrem estes fenómenos (de mistura), os seus efeitos poderão ser ainda mais marcantes e intensificar o mecanismo de realimentação do ENSO (particularmente em regime La Niña), podendo resultar numa maior regulação da temperatura à superfície.

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“Acreditamos que estas ondas podem intensificar a absorção de calor da atmosfera para águas mais profundas onde esse calor pode então desempenhar um papel importante na circulação oceânica e na variabilidade climática”, acrescenta José da Silva.

Para os investigadores, poderão ter um impacto significativo, por exemplo, “no arrefecimento da superfície do mar durante as transições para anos de La Niña, uma vez que ocorrem com maior frequência durante este fenómeno”.

Segundo o estudo, as ondas internas solitárias poderão provocar uma maior mistura vertical na “língua fria”, um fator ainda não conhecido, e consequentemente, não devidamente parametrizado nos modelos climáticos. Esta mistura, que até agora não estava atribuída a estas ondas, pode, de acordo com os investigadores, regular e determinar a previsão de eventos El Niño (aquecimento anómalo das águas superficiais) /La Niña (elevado arrefecimento das águas superficiais).

No artigo publicado no Journal of Physical Oceanography, uma das mais conceituadas revistas na área de Oceanografia Física, está descrito um conjunto de processos associados às ondas internas que podem afetar a variabilidade e a previsibilidade do ENSO.

Este trabalho, financiado pela FCT e pela Agência Espacial Europeia (ESA), contribui para um maior conhecimento sobre a mistura e a transferência de calor na vertical numa região crítica do oceano para o clima. Um estudo que pode motivar mais investigações para compreender melhor como a absorção de calor da atmosfera dentro da língua fria pode retardar (pelo menos por algum tempo) as mudanças climáticas antropogénicas, como o aquecimento global.

Na sequência deste estudo, integrado no trabalho de doutoramento da estudante de Engenharia Geográfica na FCUP, Adriana Santos-Ferreira, uma equipa norte-americana está a preparar-se para efetuar medições com campanhas oceanográficas na região onde foram encontradas estas ondas internas.

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

através da Associação Portuguesa de Imprensa

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