A alegria das oito da noite, quando souberam da vitória, esfriou com a maioria relativa. Mas adaptaram-se rápido. A palavra-chave nos discursos de Passos e Portas passou a ser “compromisso”. E o primeiro-ministro não perdeu um minuto para lançar o isco a António Costa: “Não deixaremos de ir ao encontro dos socialistas”, afirmou, reconhecendo que vêm aí “tempos desafiantes”.
Depois de Paulo Portas ter chamado a si o recado ao líder socialista de que quem ganhou as eleições foi a coligação e não o PS, Passos Coelho optou por ignorar olimpicamente os riscos de qualquer coligação negativa à esquerda que encheram discursos na campanha eleitoral, e falou diretamente ao PS moderado e europeísta. Dirigindo-se aos socialistas “com filiação europeia” e “que respeitam as regras da zona euro”, o primeiro-ministro deixou claro que irá “contactar o PS no sentido de procurar os entendimentos necessários” para as reformas de que o país precisa, a começar pela da Segurança Social.
Afastar cenários de crise política é a prioridade. O primeiro-ministro começou por afirmar ser “inequívoco que estas eleições mostram que houve uma força política vencedora”, e nesse sentido disse que já nos primeiros dias da semana serão criadas entre PSD e CDS as condições para poderem “comunicar ao senhor Presidente da República que a força política mais votada está disposta a formar Governo”.
Mas imediatamente a seguir, Passos interpretou “com muita humildade os resultados eleitorais”, que disse “respeitar profundamente”. E passou a falar de compromissos e do PS, deixando um aviso: “A nossa tarefa mais urgente é dotar o país de um Orçamento de Estado para 2016 que mantenha o défice abaixo dos 3%”. Ou seja, que cumpra as regras do euro.
Seguiu-se o cardápio das medidas que a coligação quer pôr em marcha na próxima legislatura e que, escolhidas a dedo ou não, são uma boa plataforma de diálogo com os socialistas. A saber: “Recuperação de salários, alívio fiscal em sede de IRS, remoção da sobretaxa dentro de um caminho seguro e reforço do Estado Social”. Em suma, nada que arrepie o PS. Pelo contrário, a lista vai ao encontro das prioridades apontadas por Costa na comunicação que fizera ao país minutos antes.
Os parceiros sociais também mereceram uma palavra do primeiro-ministro de convite para o diálogo. Passos diz-se “convicto de que o país tem todas as condições para atingir um plano superior de desenvolvimento”. Tudo simpático para o maior partido da oposição.
A Paulo Portas, Passos Coelho deixou um rasgado elogio, referindo-se ao “vice-primeiro-ministro que possibilitou que tantas diferenças fossem colocadas de lado para que o país pudesse ter ficado primeiro”. Na coligação, continua a paz dos anjos. Agora, desafiante é conseguir chegar ao PS.
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