Primeiro-ministro grego desiste de governo de unidade nacional

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O ambiente político em Atenas tornou-se caótico. Cinco deputados do partido que está no poder em Atenas, o PASOK de Georgios Papandreou, demitiram-se nos últimos dias.
A situação está a ficar cada vez mais confusa e frágil em Atenas, ameaçando o futuro próximo da Grécia e a capacidade de o governo conseguir ter dinheiro em caixa para pagar as despesas correntes do Estado, podendo conduzir o país a uma falência técnica.

O reflexo mais evidente do clima de desespero que está a atingir a Grécia neste momento é a sequência de avanços e recuos protagonizada pelo primeiro-ministro Georgios Papandreous nas últimas 24 horas. Primeiro propôs um governo de unidade nacional ao líder da oposição, depois disse que não e anunciou que ia apenas mudar alguns dos seus ministros e agora adiou a decisão, confrontado com um crescente número de deserções de deputados do seu partido socialista, o PASOK.

Dois deputados do PASOK apresentaram a demissão do partido e do parlamento esta quinta-feira, em sinal de protesto contra a indicação de terem de votar a favor do segundo memorando de entendimento com a troika do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia, de forma a desbloquear um plano de resgate suplementar que pode chegar aos 110 mil milhões de euros, um valor semelhante ao empréstimo negociado em Maio do ano passado para garantir o equilíbrio das contas públicas do país e conseguir cumprir com os pagamentos aos credores internacionais.

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Esta semana já foram cinco os deputados do PASOK que decidiram abandonar o parlamento. As deserções não puseram em risco a maioria absoluta de 155 lugares que o partido detém (num total de 300 deputados), porque as suas cadeiras serão ocupadas por outros socialistas, mas aqueceram a discussão interna sobre a eventualidade de o primeiro-ministro ter de ser substituído, por falta de consenso à volta da sua figura neste momento.

Pressionado para fazer aprovar o segundo memorando de entendimento com a troika a tempo de começar a implementação do novo pacote de medidas de austeridade ainda em junho, o primeiro-ministro tem apelado repetidamente à responsabilidade de todos os políticos, dentro e fora do partido, mas não tem tido grande sucesso. De acordo com a imprensa local, além da oposição se mostrar intransigente quanto à indisponibilidade para votar a favor do acordo suplementar com a troika, os ânimos no PASOK estão exaltados.

Um consenso cada vez mais remoto

Nos últimos dias, algumas figuras do partido já tinham vindo a público dizerem que iam votar contra o acordo. Durante a greve geral e as manifestações que ocuparam praças e ruas de 67 cidades da Grécia na quarta-feira, Papandreous reuniu-se de emergência com o presidente da República, tendo mantido depois disso três conversas telefónicas com Antonis Samaris, o líder do maior partido da oposição, o partido de direita da Nova Democracia.

Pelo que descrevem os jornais gregos, citando fontes do governo, num primeiro telefonema, o primeiro-ministro sugeriu a formação de um governo de unidade nacional, aceitando a exigência de Samaris de que ele teria de abandonar o cargo. Num segundo telefonema, o líder da oposição impôs como condição a realização de eleições antecipadas para definir um reequilíbrio de forças. E num terceiro telefonema, Papandreous respondeu a dizer que isso era inaceitável.

Pouco depois, quando os confrontos mais violentos do ano entre manifestantes e a polícia de choque já tinham terminado na praça Syntagma, em frente ao parlamento, o primeiro-ministro dava uma conferência de imprensa a anunciar que iria fazer apenas uma remodelação da sua equipa de ministros, ao contrário das notícias que já corriam por toda a Grécia e pela Europa de que o país estava prestes a formar um governo de unidade nacional.

A remodelação do governo era esperada para esta quinta-feira, mas a deserção de mais dois deputados levou a adiar o anúncio de quem sai e quem entra como ministros. Uma reunião de emergência do PASOK foi, entretanto, convocada para discutir os sinais de desmembramento no partido.

Numa comunicação ao parlamento, esta quinta-feira à tarde, Papandreou acusou o líder da oposição de ter inviabilizado as conversações para um eventual governo de unidade nacional, por ter apresentado condições inaceitáveis e por ter promovido uma fuga de informação praticamente instantânea.

O primeiro-ministro disse que o governo deverá avançar como uma solução de referendo, para serem os eleitores gregos a decidir se aceitam ou não o novo pacote de medidas de austeridade. Mas não adiantou nada sobre a remodelação da sua equipa (que pode ainda ser anunciada hoje à noite).

A última vez que a Grécia teve um referendo foi em 1974, depois do fim da ditadura militar, quando optou por não ter uma. O tom generalizado nos órgãos de comunicação nacionais é de que a crise política no país deu mais um salto em direcção ao fundo. Nas ruas de Atenas, havia já uma piada que corria: “A única pessoa que sabe que governo a Grécia vai ter nos próximos tempos é o Chuck Norris”. Para já, o que é certo é que Chuck Norris, o actor de filmes de acção onde resolve sempre tudo, é mais popular aqui do que Papandreou.

JA/Rede Expresso

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