Regantes falam em cortes “desequilibrados e injustos” para a agricultura

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O presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve advertiu que os cortes de água anunciados para fazer frente à seca na região são desequilibrados e devem ser revistos.

Em causa estão as anunciadas reduções no consumo de água no Algarve de 70% para a agricultura e de 15% para o consumo urbano, cortes que Macário Correia considerou “injustos” para a agricultura, alertando que caso não sejam reequacionados poderem causar a “morte de culturas” por toda a região.

“Parece-nos bastante desequilibrado e injusto aquilo que foi anunciado. A agricultura ter um corte de 70% é a morte das culturas e é a quebra de produção durante dois anos. Nós não podemos aceitar isso. Não é uma medida justa, nem é equilibrada”, disse Macário Correia.

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O presidente da associação afirmou que “há uma perda de 30 hectómetros cúbicos” no ciclo urbano da água, segundo dados oficiais do Plano de Eficiência Hídrica do Algarve, e criticou a falta de ação no combate a essas perdas por parte dos 16 municípios da região.

“O conjunto das câmaras municipais está a perder 30.000.000 de metros cúbicos de água tratada e isso assim tem sido há vários anos. Não tem havido uma evolução consistente de ano para ano. É um assunto que já devia estar resolvido, neste momento há bastante dinheiro para isso, mas, todavia, não está a ser investido ao ritmo que seria desejável”, argumentou.

Macário Correia defendeu que não se pode assistir ao desperdício de água das barragens “que já é tratada e se perde nas canalizações sem ser utilizada”, sobretudo “num país com pouca água e, em particular, numa região que é o Algarve, com uma escassez considerável, com climas terríveis e diversas secas sucessivas de ano para ano”.

O ex-presidente das câmaras de Tavira e de Faro contrapôs que a agricultura da região, “segundo dados oficiais, no seu conjunto, perde cinco hectómetros” cúbicos, enquanto “o ciclo urbano está a perder 30 [hectómetros cúbicos]”.

“Isto não é aceitável e depois quem mais perde é quem tem menos redução, apenas 15% [o circuito urbano], e quem gasta melhor água, quem investe melhor nela para produzir alimentos, tem cortes de 70%. Não é justo”, acrescentou.

Macário Correia disse esperar que as autoridades ainda possam rever os cortes anunciados, porque se isso não acontecer haverá “exportações que não se fazem” e “importações que terão de aumentar”, assim como postos de trabalho que “naturalmente ficam em causa” e “produtos que se tornam mais caros”.

“Era conveniente que este corte – que nós compreendemos e aceitamos e temos, obviamente, de fazer um esforço – fosse mais a repartir de entre todos. Não podem uns cortar 15%, os que gastam mais água inutilmente e que perdem 30 hectómetros, e aqueles que têm melhor eficiência do uso da água terem que cortar 70%. Não faz sentido”, concluiu.

Na passada sexta-feira, o ministro do Ambiente e da Ação Climática disse ser necessária uma redução das disponibilidades hídricas da albufeira de Odeleite, no sotavento (este), em 70% e da do Funcho-Arade, no barlavento (oeste), em 50%.

Segundo Duarte Cordeiro, as medidas que estão a ser trabalhadas para reduzir o consumo urbano (turismo e doméstico) em 15% ainda não estão todas concluídas, mas a mais evidente, e que está a ser trabalhada, é a redução da pressão da água.

O conjunto de medidas que estão a ser estudadas vai ser definido numa reunião da Comissão Interministerial de Seca, que deverá realizar-se na quarta-feira, no Algarve.

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