Entre as novidades na programação da 13.ª edição do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza destacam-se os passeios noturnos, a análise de regurgitações de mochos e corujas (egagrópilas), passeios de bicicleta na Rota Vicentina e demonstrações para explicar “que as baleias ajudam a regular o clima”. Mas as surpresas em Sagres não ficam por aqui.
Segundo explica André Pinheiro, membro da Associação Almargem, uma das entidades organizadoras do evento, estão ainda programadas duas novas atividades que prometem deixar os participantes com os olhos a brilhar de entusiasmo. “À descoberta do Plâncton” (dia 2) é uma atividade pensada para analisar, com recurso ao microscópio, o plâncton e os todos os seus enigmáticos componentes. A outra novidade – “Ouvindo debaixo de água” – terá lugar todos os dias e será dinamizada por um técnico da Almargem. Com a ajuda de um hidrofone, os participantes vão poder ouvir, numa experiência única, os sons que os animais fazem debaixo de água. Esta atividade é de acesso livre.
“As aves das pastagens de Vila do Bispo” (dia 2) é uma das saídas de campo que já se encontra esgotada e uma das que mais curiosidade está a provocar entre o público. Dinamizada por um dos guias mais experientes do Algarve, Simon Wates, esta será uma viagem que levará os participantes a ver como as aves interagem, dependem e contribuem para a preservação do habitat.
No festival, também haverá espaço para as expressões artísticas. André Pinheiro revela em primeira mão, ao JA, que os participantes poderão visitar duas exposições: uma de ilustrações na área da ciência e outra em que as fotografias tiradas pelos pescadores locais imortalizam o momento de interação com as aves.
A Almargem adiantou ainda ao JA que um dos pontos altos do festival será “a libertação de uma ave recuperada pelo RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens de Olhão”, momento em que são esperadas mais de 100 pessoas. Águias, mochos e falcões são algumas das espécies que tiveram Sagres como porta de regresso à liberdade noutras edições do festival.
O Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza tem um leque de atividades fixas, que se mantêm de edição para edição. Contudo, todos os anos “os guias reinventam-se com a criação de novas atividades e há sempre profissionais que se vão juntando ao projeto. Isto permite inovar e ter novidades na programação”, refere André Pinheiro.
Alcatraz é o protagonista desta edição
O ‘cabeça de cartaz’ da 13.ª do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza de Sagres é o alcatraz – uma ave marinha que costuma dar o ar da sua graça nas zonas circundantes ao Cabo de S. Vicente. Segundo explica André Pinheiro, “uma das maiores particularidades do alcatraz está no facto de não ter narinas, o que lhe permite entrar no oceano para se alimentar a uma velocidade que pode chegar aos 60 quilómetro por hora”, presenteando quem observa tal proeza com um verdadeiro espetáculo de mergulhos no mar. “Parecem autênticos foguetes a entrar na água”, descreve o técnico.
Os participantes do festival poderão assistir ao ‘espetáculo’ do alcatraz (Morus bassanus), a maior ave marinha avistada em águas portuguesas, também conhecida por ‘ganso-patola’, na altura em que estas aves migratórias se preparam para darem seguimento ao seu percurso migratório a sul do Atlântico.
Os alcatrazes alimentam-se de pequenos peixes como a cavala, a sardinha e o carapau, capturados em mergulhos que chegam a atingir os 40 metros de profundidade. As embarcações de pesca também lhes proporcionam boas refeições, daí as perseguições que por vezes lhes fazem. Apesar disso, são vistos pelos pescadores como bons aliados em alto mar, uma vez que lhes indicam a posição de alguns cardumes.
Organização fala em “grande adesão”
Durante os cinco dias do festival, são esperadas pela organização “mais pessoas do que nas últimas edições e isso tem-se refletido no número de inscrições”. Em 2021, nas primeiras 24 horas da divulgação do programa, o festival teve 300 vagas preenchidas para as atividades. Este ano, o número subiu para 1100 inscrições, uma adesão que, para além do “regresso à normalidade” após dois anos de pandemia, é justificada pela “pela diversidade de um programa único, num local mágico e pela gratuidade da maioria das atividades”, enumera André Pinheiro.
Nas primeiras 24 horas do anúncio da programação foram 26 as atividades que ficaram esgotadas. A todos aqueles que se depararem com a palavra “esgotado” numa atividade na qual gostaria de participar, André Pinheiro abre uma janela de esperança: “há atividades que só vão abrir durante o próprio evento para assegurar que todas as pessoas têm oportunidade de participar. Por motivo de cancelamento ou por outra razão, a organização vai atualizando o número de vagas disponíveis no local”. Por essa razão, “o melhor mesmo é estar por Sagres nos dias do festival”, desafia.
Portugal, Reino Unido e Espanha estão entre as nacionalidades dos participantes que mais aderem ao evento, embora que em todas as edições “todos os continentes estão representados”, revela o técnico
A todos os participantes, André Pinheiro deixa algumas recomendações descritas também no Código de Conduta e Boas Práticas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), uma espécie de regulamento com regras de bom senso para os participantes do festival. Não sair dos trilhos, não deitar lixo fora e não recolher plantas nem partes de animais são alguns dos conselhos que são sinónimo de respeito pelos animais e respetivos ecossistemas.
Uma centena de pessoas envolvidas no festival
Entre guias, voluntários e staff, o Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza conta com 90 a 100 pessoas “que fazem tudo acontecer”. No total, serão entre 40 a 50 guias a assegurar as 275 atividades previstas para os cinco dias do evento.
O Forte do Beliche será o ponto de encontro do festival e onde se poderão fazer inscrições e esclarecimentos. Aí, os participantes vão poder também encontrar lojas com produtos típicos, materiais óticos e livros da especialidade. O Cerro da Cabranosa, local privilegiado para a observação de aves de rapina, e o Cabo de S. Vicente, o palco dos alcatrazes e de outras aves marinhas, serão outras duas localizações a tomar nota durante o festival.
André Pinheiro deixa a ressalva de que as atividades dinamizadas “não são só para especialistas” e acrescenta “este é um festival feito para quem gosta de natureza e para quem quer aprender mais sobre aves, ou seja, não é necessária experiência prévia”, esclarece.
Para além de cultivar o conhecimento no que toca às aves marinhas, insetos e outros animais aquáticos que habitam a zona marinha do barlavento algarvio, esta será uma oportunidade de partir à descoberta da costa vicentina, respirar o ar puro e de se reconectar com a natureza.
No que toca ao acesso ao festival, a organização informa que “dois terços das atividades são gratuitas”. Somente as saídas de barco e alguns workshops específicos, que são atividades organizadas por parceiros locais, é que carecem de uma taxa de inscrição que pode variar entre os 20 e os 50 euros.
O Festival é um evento promovido pela Câmara Municipal de Vila do Bispo, com a coorganização da Associação Almargem e Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
O programa completo do Festival pode ser consultado através do link: https://www.birdwatchingsagres.com/programa.
