Sobre-endividamento das empresas é um problema grave em Portugal

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O sobre-endividamento das empresas em alguns países periféricos, nomeadamente em Portugal, Espanha e Itália, é um “fator de risco” para a retoma económica na zona euro e para o sistema bancário, disse, ontem, José Viñals, diretor de Assuntos Monetários do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Barcelona.

As palavras foram proferidas dois dias antes do Banco Central Europeu (BCE) ir publicar uma comunicação sobre a metodologia e calendário da Revisão da Qualidade dos Ativos (AQR, no acrónimo em inglês para Asset Quality Review) do sistema bancário. Essa revisão deverá ocorrer em 2014, em dois momentos, uma avaliação dos balanços no primeiro trimestre, antes de “testes de esforço”, cujos resultados deverão ser publicados no outono por parte da Autoridade Bancária Europeia.

Dívida impagável

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Viñals falava no Círculo Financiero, na sede do banco La Caixa, onde sublinhou que o sobre-endividamento de uma parte das empresas espanholas representa uma “dívida impagável”. Referindo-se a Espanha, o diretor do FMI disse: “41% da dívida empresarial em Espanha paga juros que são superiores aos lucros brutos anuais antes de juros. Isto é um problema para o dinamismo empresarial, já que esta dívida é impagável, a menos que ocorram refinanciamentos”. De seguida frisou que a situação em Portugal é pior, onde aquela percentagem sobe a 47%. No caso de Itália desce para 30%. Referiu, ainda, que para o sistema bancário, a situação é pior para Portugal e Itália do que para Espanha.

Este tema não é novo. O “Global Financial Stability Report” (GFSR) deste ano, publicado aquando da assembleia anual do FMI em Washington DC no início de outubro, dedicava todo um capítulo ao assunto. “Mais de ¾ da dívida empresarial em Portugal e Espanha e cerca de ½ no caso de Itália é detida por empresas com um rácio de endividamento em relação aos seus ativos de 40% ou mais”, dizia o GFSR.

Este problema de sobre-endividamento do tecido empresarial nestas três economias periféricas da zona euro é “sistémico” e abrange não só o sector da construção e do imobiliário, mas, também, o sector industrial, do comércio e serviços, segundo um estudo realizado pelo FMI assente na base de dados Amadeus.

Um nexo entre empresas, banca e dívida soberana

O sobre-endividamento empresarial relaciona-se com a debilidade do sistema bancário, sobretudo dos bancos mais ligados ao crédito a PME, e com o risco da dívida soberana, formam um “nexo”.

Segundo os cálculos referidos no GFSR, a título ilustrativo, no caso de Portugal poderiam estar envolvidas perdas para os bancos no valor de 20 mil milhões de euros, que excederiam as provisões em 8 mil milhões, que teriam de ser cobertas por lucros operacionais; no caso de Espanha as provisões dos bancos permitiriam enfrentar perdas na ordem de 104 mil milhões de euros; e para Itália estaria guardado o pior cenário envolvendo 125 mil milhões, que excedem as provisões existentes no valor de 53 mil milhões, que teriam de ser cobertos por lucros operacionais.

José Viñals, na apresentação do GFSR na sede do FMI no início de outubro, advertiu, no entanto, que se tratava de um exercício ilustrativo e agregado e que não deveria ser levado à letra. Por isso sublinhou que “compete ao BCE olhar para o problema, através de testes de esforço e da Revisão da Qualidade dos Ativos que vai levar a cabo”.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)

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