Somos campeões!

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Esta é uma história de Futebol, Fátima e Fado. Assim, por esta ordem. Porque Portugal é um país com uma tradição futebolística imensa, especialmente quando olhamos para o número de habitantes que tem, mas, nas grandes competições, raramente chega lá. Lá, ao momento arrepiante a que chegou esta noite, no Stade de France, porque os portugueses têm muito talento, pois têm, mas jogar bem não é ganhar e nem jogando bem Portugal alguma vez conseguiu ganhar o que quer que fosse.

Vai daí, Fernando Santos puxou da fé (ou da fezada) que tem de sobra e deu a Portugal o que Portugal não tinha: muita crença – começando naquele França-Portugal de 2014 em que disse aos jogadores que iam voltar para jogar a final – e muito pragmatismo – pensando primeiro em não deixar os outros marcar e só depois sermos nós a marcar -, porque se é para jogar bem, ouvir uns elogios e perder, então mais vale jogar mal, engolir umas críticas e ganhar.

Só que isto do Fado é como uma força que ninguém pode parar. Não foi possível pará-la em 2004, quando um miúdo de 19 anos chamado Ronaldo acabou a final dos nossos sonhos a chorar, nem foi possível pará-la esta noite, quando um capitão com coração acabou a final dos sonhos dele, aos 31 anos, a chorar. Cristiano Ronaldo não merecia a entrada dura de Dimitri Payet que o deixou a coxear logo nos primeiros minutos e nós também não, porque foi impossível não chorar quando o capitão chorou, saiu, reentrou, chorou e saiu. De vez.

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Aos 24 minutos, Portugal ficou sem a sua referência ofensiva e a final do Europeu ficou sem a sua estrela – até porque nem Griezmann fez a diferença pela França. Se a seleção já tinha entrado no relvado tão inconsistente quanto a música de David Guetta que abriu a final, pior ainda ficou sem o capitão. Os jogadores juntaram a desorientação ao nervosismo e mesmo com a passagem do 4-4-2 inicial para um 4-3-3 (às vezes mais 4-5-1), já com Quaresma numa ala e Renato no meio, a equipa demorou a conseguir ter a bola e a acalmar os franceses, que entraram embalados pelo apoio dos adeptos, obviamente em maioria no estádio.

Só que a França não é uma seleção que se sinta confortável a assumir o jogo – é-o mais quando joga na expectativa e parte para ataques rápidos e contra ataques, como fez com a Alemanha – e só ia criando perigo quando a força física de Sissokho se fazia sentir. Só que, nessas alturas, Portugal teve um gigante na baliza, que defendeu tudo, tanto na 1ª como na 2ª parte – e mesmo quando Rui Patrício não defendeu, no prolongamento, teve o poste a defender por ele.

É verdade que, tirando uma dupla ocasião de Nani e Quaresma, Portugal também não teve grandes oportunidades de golo antes do prolongamento, muito por culpa (da pressão?) dos passes falhados na saída para o ataque. Mas esteve sempre seguro na defesa – Pepe mais uma vez em grande – e foi aproximando-se cada vez mais da baliza oposta, especialmente depois de Fernando Santos ter posto em campo o tão criticado Éder, que foi segurando todas as bolas que pôde – até àquela última bola. Aos 108 minutos.

Raphaël já tinha enviado um livre direto à trave e já se sentia um cheiro a Portugal no ar (entre os milhares de traças que invadiram o relvado porque alguém ontem não desligou as luzes do estádio), por isso quando Éder pegou na bola e embalou para a baliza, todos nos levantámos, todos rezámos, todos gritámos “chuta, Éder!” – até Ronaldo, que já estava no banco de um lado para o outro a fazer de adjunto de Fernando Santos.

Éder chutou, a bola entrou e esta história não poderia ter um final mais épico do que este. É uma epopeia portuguesa, com certeza – que já tinha começado esta manhã com as grandes vitórias dos atletas lusos no Europeu de atletismo. Há dias assim, em que é tudo nosso. Chama-se Fado. E o nosso está a mudar.

Mariana Cabral (Rede Expresso)

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