“Greve da CP põe em causa circulação dos comboios”, ouvi, de um daqueles jornalistas que no noticiário da manhã fazem directos. Quem são os que se levantam às cinco da matina, para estar a fazer uma emisão às sete e um quarto? Quatro hipóteses: mais novos na casa; portaram-se mal e responderam ao chefe; recebem qualquer tipo de subsídio para arredondar o salário; não se deitaram e vieram directamente do bar para a televisão. Nos tempos mais remotos da TV, onde existiria um noticiário àquelas horas da manhã? São consequências de uma nova era e da forma como hoje se vê o jornalismo: pouca procura e muita oferta. Estaremos no dealbar de uma nova época? São situações novas, ou antigas travestidas de actualidade? Não sei, não sou de cá, vim ver a bola. A verdade é que, independentemente da hora a que o directo vá para o ar, as redundâncias estão bem e aconselham-se: a que faria mal, senão aos comboios, uma greve da CP? Uma greve da TAP fará mal aos transatlânticos? Já um plenário do SEF não sei a quem faz mal, mas bem, faz de certeza a quem vem a Portugal. Outro dia, com esse pretexto, ajudaram quem nos visita a perceber que isto não é só, como gostam de dizer, binómio sol e praia, mas burocracia, sol e água. E a (burocracia) portuguesa pode, às vezes, ser muito incomodativa, só para sermos cuidadosos na escolha das palavras. Já sobre a ida de repórteres para a Ucrânia não restam dúvidas. Foi gente que antecipou a subida da taxa Euribor e sabe que o apartamento que está a pagar ao banco, vai sofrer um agravamento, daí que tenha em mente o subsídio de risco pago pela empresa, ou uma subida de três degraus na carreira. Quem parece ter feito vida disto é a jornalista Cândida Pinto, que não se vê em mais lado nenhum. A ideia que tenho da sua situação é que enquanto está cá não aceita nenhum trabalho, abaixo de entrevistar radicais islâmicos que telefonaram para a televisão a pedir tempo de antena, afirmando não se responsabilizar, se o jornalista passar com eles os últimos cento e vinte minutos da sua vida. Tenho andado com muito pouca atenção aos pormenores, mas vejo Cândida Pinto (CP)de coração mole, sem perceber o que fez a décadas de experiência em revoltas, assassinatos e aventuras arriscadas em África e no Oriente. As suas peças são, quase sempre, exemplos de lugares comuns do jornalismo que se deixa enredar entre o que as autoridades querem que se divulgue. Tenho a ideia que CP está para a política como Daniel Oliveira para os fédiver. Aposto cinco maços de lenços de papel em como, se CP entrevistasse Zelensky, saiam de lá os dois a chorar. E não se ponham com essa cara que mesmo se a fava saísse a Putin, chorar não chorava, mas um cisco no olho ninguém lhe tirava. Rima, e, pode ser, verdade.
Fernando Proença