Três mil jovens vêm ao Algarve antes das JMJ

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Quando faltam pouco mais de 10 dias para o arranque da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontecerá pela primeira vez em Portugal de 1 a 6 de agosto, em Lisboa, o JA foi perceber de que forma a Diocese do Algarve se está a preparar, desde 2019, para receber os mais de 2700 jovens de 19 países que escolheram passar seis dias na região antes de rumarem à capital portuguesa. Há quem venha das Ilhas Marianas, no Pacífico ocidental, para participar nos "Dias da Diocese", encontros que antecede a semana da JMJ e consistem na integração dos jovens vindos de todo o mundo nas comunidades paroquiais regionais

João Costa, de 26 anos, é engenheiro agrónomo e nas (escassas) horas vagas tem-se dedicado “de alma e coração” à coordenação do Comité Organizador Diocesano (COD) do Algarve para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

O COD, criado por D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve, aquando do anúncio da realização do evento em Portugal, tem dois objetivos: “preparar toda a campanha para levar os jovens algarvios a Lisboa” e “preparar e organizar os Dias na Diocese, dias de pré-jornada para os jovens peregrinos estrangeiros que vão passar pelo Algarve uma semana antes do evento”.

A primeira reunião de preparação para a JMJ aconteceu “em 2019”, recorda João Costa. Desde essa altura, o caminho tem sido feito, “de forma repartida”, pelos jovens que anseiam as partilhas, as experiências e o intercâmbio que um evento católico único pode proporcionar.

Em quatro anos de trabalho voluntário, o coordenador do COD recorda a passagem dos Símbolos da JMJ – a Cruz Peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani -, em novembro de 2021, por todas as Vigararias da região (Portimão, Loulé, Faro e Tavira) como um dos pontos altos dos preparativos, uma vez que o Algarve foi o ponto de partida para percorrerem o país (depois de terem vindo de Espanha e da travessia pelo Guadiana).

João Costa

A partir de janeiro de 2021, a Diocese do Algarve começou a fazer a cada dia 23 “encontros temáticos para recordar que a JMJ estava aí, que era uma realidade e que o caminho estava para ser feito”. Em conversa com o JA, João Costa relembra um dos encontros em que, com ajuda de uma psicóloga, sensibilizaram os peregrinos para situações de stress e ansiedade. “Todos os dias 23 fizemos alguma coisa diferente que contribuía para esta caminhada”, conta.

Agora, já na reta final dos preparativos, explica que a Diocese algarvia organizou “três catequeses preparatórias com temas diversos” para os jovens que vão participar na JMJ.

O primeiro tema incidiu sobre “a capacidade de peregrinar com os outros, no sentido em que vamos ter companhia e precisamos de caminhar em conjunto”; a “peregrinação interior”, um processo inerente a uma JMJ, foi outro dos exercícios; por fim, o último encontro, que aconteceu no dia 1 julho, centrou-se “na caminhada com os outros, no sentido da missão”.

Nesse momento, “os jovens escreveram cartas para aqueles que vão ficar cá – os que nós visitamos em novembro de 2021. Nessa altura não quisemos ficar apenas pelas igrejas e fomos às três prisões da região, ao Hospital de Faro, à Universidade, aos mercados municipais, às escolas, lares, centros ocupacionais para pessoas portadoras de deficiência… E essa é a grande mensagem que a JMJ nos pode deixar e até alguma humildade: seremos uma ponte para a sociedade civil. Também é uma missão que os jovens têm a partir daqui”, afirma João Costa.

“O nosso maior objetivo é que tanto a Jornada como a Pré-Jornada sejam mais que um evento, mas uma possibilidade de mudança de vida e de encontro com a pessoa de Cristo”, frisa o coordenador.

Quanto às expetativas para o evento, do que se fala e se ouve, o COD diz que “a nível diocesano, há sempre expetativa, mas também há sempre um bocadinho de desconhecimento, pois 90% daqueles que vamos levar nunca foram a uma JMJ e não estão à espera do que vai acontecer”.

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A título pessoal, João Costa replica a ideia da vontade em que a JMJ seja “a terceira ponte de Lisboa, não entre as margens do rio, mas entre Lisboa e o resto do mundo e humanidade”. Espera também que o evento possa ser “um ponto de partida para muitos, um ponto de chegada para alguns, um ponto de passagem para outros, mas que a mensagem – o encontro de Cristo – possa servir de mote para mudanças na nossa vida dos jovens, que têm de ser protagonistas do hoje e do agora”. Protagonistas no seu caminho religioso, mas não só. Também “no panorama político, social e ambiental, num mundo cada vez mais polarizado”, lamenta.

Mais de 1000 peregrinos algarvios em Lisboa
De acordo com dados do COD, estão inscritos 970 peregrinos da região para participar na JMJ. Apesar dos números oficiais, João Costa acredita que estarão “à vontade 1200 peregrinos algarvios lá em cima” e explica: “há jovens que se inscreveram por outras vias, apesar de termos tentando que todos se inscrevessem connosco, através da Diocese”.

Ainda que a JMJ seja aberta à participação de todas as pessoas, o maior evento da Igreja Católica está “preparado, organizado e pensado para jovens entre os 14 aos 30 anos”. O grupo de peregrinos que partirá do Algarve tem cerca de “70 a 80% de jovens dessas idades”, avança João Costa ao JA.

Embora a participação na JMJ seja gratuita nos eventos centrais (Missa de Abertura, Acolhimento, Via Sacra, Vigília e Missa de Envio), há peregrinos que optaram por participar na JMJ com um pacote de alojamento associado. A modalidade de semana completa (A) pode chegar aos 255 euros; a modalidade de fim de semana (B) aos 140 euros e a participação na Vigília e Missa de Envio (C) dos dias 5 e 6 de agosto, com piquenique, transporte, seguro, kit do peregrino e almoço, aos 60 euros.

Questionado sobre a existência de apoios por parte da Diocese do Algarve aos peregrinos com dificuldades económicas, João Costa aclarou que “não aconteceu porque não apareceram casos”. Por outro lado, a nível paroquial, “aconteceram alguns casos e as próprias paróquias financiaram a ida a Lisboa”, acrescentou.

Encontros de preparação para a Jornada Mundial da Juventude

Dias na Diocese contam com 2700 jovens
Os “Dias na Diocese” são encontros que antecedem a semana da JMJ Lisboa 2023 e consistem na integração dos jovens vindos de todo o mundo nas comunidades paroquiais das várias dioceses do país, à exceção de Lisboa, Santarém e Setúbal que estão alocadas ao espaço geográfico em que vai acontecer a JMJ. Os Dias nas Dioceses são “como um caminho de preparação para os peregrinos e a comunidade anfitriã para a vivência dos dias da Jornada”, aprofunda o jovem coordenador.

Durante esses dias, os participantes podem ficar a conhecer melhor a região que os acolhe, bem como a Igreja local e as suas especificidades, ficando alojados, à semelhança da semana da Jornada, em casas de famílias de acolhimento, espaços de alojamento coletivo, instalações paroquiais ou públicas, de modo a poderem fazer uma verdadeira experiência de Igreja, evangelização e missão. A Diocese do Algarve tem preparadas atividades desportivas, orações, passeios e até um baile.

Caso queira ser família de acolhimento para os Dias na Diocese, poderá inscrever-se em http://www.codalgarve.pt/#/familias.

Jovens chegam de lugares longínquos
De 26 a 31 de julho, o Algarve prepara-se para acolher mais de 2700 peregrinos de 19 países. “Temos representatividade dos cinco continentes e isso surpreendeu-nos”, revela. Para além de países europeus como Espanha, França, Itália, Polónia, Eslovénia e Dinamarca, entram na lista jovens peregrinos de Taiwan, Filipinas, Ilhas Marianas, Zimbabué, Uruguai, México, Madagáscar, Kuwait, Coreia do Sul, entre outras nações que escolheram conhecer a região Sul de Portugal antes do início da JMJ.

“Não foi uma oferta nossa”, esclarece. “Estas pessoas quiseram vir com base nos programas que temos”, destaca.

Quatro centros de atividades operacionais
Numa altura em que a região fica inundada de turistas, e tendo em conta todos os condicionalismos que isso podia trazer, o COD identificou e preparou quatro centros de atividades espalhados pela região – Portimão, Loulé, Faro e Tavira.

No primeiro dia, 26 de julho, acontece o “Dia do Acolhimento”. “Como temos peregrinos das Ilhas Marianas, umas ilhas do Pacifico ocidental, que vão chegar depois de dois dias de viagem e vão demorar muito tempo até cá chegarem, este será um dia para se acomodarem e descansarem”.

O “Dia da Descoberta” será no dia 27, momento em que se farão “as boas-vindas oficiais” na presença dos presidentes de câmara algarvios, do Bispo do Algarve e dos párocos das cidades. Em cada cidade, os peregrinos vão partir à descoberta dos pontos-chave de cada local, desde igrejas, mercados, monumentos, entre outros. As tardes serão livres para que os peregrinos possam “explorar e descansar”.

Está ainda programado o “Dia de Missão”, altura em que os peregrinos vão poder contribuir para a comunidade local. “Vão ter a oportunidade de ajudar a limpar a Ria, visitar instituições de solidariedade social… Será um momento em que todos ganhamos”, vinca João Costa.

As atividades da pré-jornada culminam no dia 30 de julho no Estádio Algarve, com Missa de Envio e um concerto da banda católica internacional Gen Verde. O evento é livre e tem entrada gratuita. “Mais do que um evento diocesano alusivo à JMJ, será um evento regional”, garante o responsável.

Impacto económico e investimento no futuro
Para assegurar a participação nos Dias da Diocese do Algarve, os peregrinos pagam “um donativo 70 euros que inclui atividades, alimentação e dormida durante os seis dias”. Um passe que só é possível com “o apoio das câmara municipais e de outras entidades que têm sido muito importantes neste caminho”, enaltece.

“Se tudo correr bem, não será a primeira vez que estas pessoas vão passar pelo Algarve e isso é importante para todos pelos impactos religiosos, mas também pelos impactos económicos. Depois quando voltarem vão trazer a família, os amigos, os filhos, os companheiros. Há que passar também uma boa imagem da região, num investimento a posteriori”, reconhece.

Ainda que este evento religioso vá convergir com a altura de maior turismo na região, o COD disse ao JA que “não existe qualquer colaboração com o Turismo do Algarve”. “Não foi possível”, prosseguiu.

Portimão espera 4200 jovens em festival ecuménico
A cidade de Portimão vai acolher cerca de 4200 jovens de diversos países no festival ecuménico “Welcome To Paradise” (em português, “Bem-vindos ao Paraíso”), organizado pela Comunidade ‘Chemin Neuf’ (Caminho Novo), entre 26 e 31 de julho, antecedendo também a JMJ. Por isso, segundo o COD, também o centro de atividades de Portimão ficará sob responsabilidade da comunidade Caminho Novo, com “organização e logísticas independentes à Diocese do Algarve”.

Depois da azáfama dos últimos meses, João Costa reconhece que agora, a estrutura do COD, composta por cerca de “30 a 40 pessoas”, vive dias “do espírito santo”. “Agora é fazer e aprimorar tudo para acolher os peregrinos. Depois rumamos a Lisboa”. O jovem não tem dúvidas que as próximas semanas, antes da JMJ, serão “grandes momentos para a Diocese e para a região”, conclui.

Oportunidade de disrupção na Igreja
No final da conversa com o JA, que decorreu no Seminário São José de Faro, João Costa recorda ainda encontros marcantes em que os jovens abordaram “a importância de abrir as portas e aceitar as pessoas tal como são”, sendo essa outra das “grandes mensagens que a JMJ pode passar: a Igreja não pode ser encarada como um tribunal, mas um espaço de acolhimento e aceitação”, sublinha.

“Podemos fazer grandes eventos, concertos, palestras mas para quem está dentro das questões da fé, o melhor que temos para oferecer é Jesus Cristo e um sentido de vida para as pessoas”, solidifica.

Aproveita ainda a ocasião para agradecer a oportunidade de estar à frente do COD ao Bispo do Algarve: “Quando comecei tinha 22, 23 anos. Cheguei a uma sala gigante e só via padres, freiras, pessoas com mais de 40 anos e eu era ali um miúdo no meio de tanta gente que os bispos tinham nomeado. Houve coragem do senhor Bispo em apostar num jovem. Foi uma aposta muito audaz para o que à primeira vista seria um lugar para um padre ou alguém com muito mais experiência”, conclui.

O que é a JMJ?

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa. É, simultaneamente, uma peregrinação, uma festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte de evangelização do mundo juvenil. Apresenta-se como um convite a uma geração determinada em construir um mundo mais justo e solidário. Com uma identidade claramente católica, é aberta a todos, quer estejam mais próximos ou mais distantes da Igreja.

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