Turismo Acessível pode ser “rampa” para a competitividade algarvia

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Civismo pode ajudar setor turístico em tempos de crise.

O civismo e a capacidade de ser hospitaleiro para todo o tipo de turistas, independentemente das suas capacidades ou incapacidades físicas, podem ser uma “arma” para aumentar a competitividade do turismo algarvio. Esta é a opinião de diversos especialistas e responsáveis do setor turístico que debateram a questão do turismo acessível em Faro

“As pessoas com deficiência ou incapacidade têm que ser presença assídua no mundo do turismo”, esta é uma realidade que o Turismo de Portugal quer ver implementada a nível nacional e que foi trabalhada na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, na passada semana. O Turismo de Portugal iniciou no Algarve um ciclo de conferências sobre o turismo acessível que vai passar por diferentes pontos do país.

A acessibilidade como fator de sucesso na oferta turística, a acessibilidade nos hotéis para pessoas com necessidades especiais, a adaptação do espaço urbano para pessoas com mobilidade reduzida e outras incapacidades e o serviço a prestar às pessoas com necessidades especiais foram os temas trabalhados neste encontro que contou com a presença de vários especialistas na matéria.

Em entrevista ao JA, o vice-presidente do Turismo do Algarve, Almeida Pires, lamentou a diminuta participação dos hoteleiros algarvios nesta iniciativa. “Quando nos queixamos desta situação crítica que atravessamos, penso que os hoteleiros deveriam estar cá na primeira linha para perceber o significado e a importância” destes turistas, comenta.

Almeida Pires salienta que o turista com necessidades especiais tanto motoras como visuais ou auditivas e outras é um cliente interessante para o Algarve. “Dentro daquilo que é a lógica da atividade turística, nós precisamos de fidelizar o cliente. O turista com algum tipo de deficiência pode efetivamente ser uma solução porque tende a ser um cliente repetente e tem outra característica interessante que é o facto de viajar fora das épocas altas, quebrando a sazonalidade que é um dos dramas do turismo algarvio”, explicou.

Por outro lado, não sendo fácil encontrar destinos turísticos acessíveis e sensíveis para esta realidade, este turista quando tem uma boa experiência num determinado destino passa palavra e é um ótimo divulgador junto de outros turistas com as mesmas necessidades.

“Reúnem-se aqui um conjunto de variáveis que serão fundamentais para a afirmação do destino como região de turismo acessível e se tivermos capacidade de criar uma bandeira de destino, penso que introduziremos um valor acrescentado e uma mais-valia ao turismo algarvio num momento em que carecemos de soluções”, acrescentou Almeida Pires.

Alterações e Impactos no setor regional

Convicto de que o turismo acessível é uma aposta certeira para a região, o Turismo do Algarve está empenhado em desenvolver um plano estratégico regional sobre esta matéria. Este documento poderá ser uma “bíblia” onde tanto os responsáveis dos setores público e privado poderão perceber o que devem fazer para poderem ostentar a bandeira do turismo acessível.

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Almeida Pires garante que este plano não tem necessidade de ter um fator de obrigatoriedade porque já existe um vasto leque de legislação nacional e europeia relativamente a esta matéria. O problema está por vezes no desconhecimento dessa legislação ou na falta de capacidade de interpretação da mesma. “Penso que mais do que a exigência e a questão legal, a questão moral tem de prevalecer em todo este processo”, refere Almeida Pires. “O plano não é mais que um documento de orientação e normalização e interpretação de um determinado tipo de práticas que devem ser comuns de forma transversal ao Algarve em todos os parceiros deste projeto”, acrescenta. Por isso mesmo, a par da criação deste plano o Turismo do Algarve pretende criar um espaço de discussão desta matéria que poderá passar pela constituição de uma provedoria ou uma comissão.

Uma das ideias que devem ser absorvidas por todos os que têm responsabilidades nesta matéria passa pela noção de que o turismo acessível não se resume a rampas para cadeiras de rodas ou espaços de estacionamento reservados.

“Naturalmente que uma pessoa depois de informada percebe que o turismo acessível é muito mais do que rampas. A diversidade de situações que torna fundamental alertar e sensibilizar” sobre esta matéria, comenta o vice-presidente do Turismo do Algarve.

A adaptação de casas de banho, de quartos, de espaços de lazer, de veículos de transporte de turistas, a própria adaptação de espaços que são divulgados como espaços de interesse turístico ou cultural, a adaptação das cidades, a adequação dos materiais informativos são algumas das áreas que podem ser trabalhadas nesta matéria.

Há um par de anos, os alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve desenvolveram um projeto em que produziram menus de restaurantes em Braille. Este é um exemplo que Almeida Pires considera que pode ser interessante e replicável. “São boas práticas e devem ser acarinhadas. Se nós verificarmos toda esta implementação de medidas, em última instância percebemos que também contribuem para outros setores. Tem um efeito multiplicador muito vasto em termos da economia regional”, refere.

Segundo Celeste Costa, da Cooperativa Nacional de Apoio a Deficientes, para breve está o lançamento de um guia de turismo acessível nacional. Este trabalho está a ser elaborado pelo Instituto Nacional de Reabilitação e pretende ser um contributo para as pessoas com necessidades especiais que pretendem passar férias em locais onde têm serviços e condições adequadas.  Mas esta é também uma forma de divulgar e apoiar os negócios cujos empresários souberam ser sensíveis a esta matéria e investiram na adequação dos espaços que gerem.

“Tudo isto é uma sensibilização e a sensibilização tem de ser feita sempre. Até porque o nosso povo não tem uma cultura para a área da deficiência. Só agora é que os deficientes começaram a sair à rua, como se costuma dizer”, explicou ao JA.

A trabalhar no Algarve há sensivelmente 30 anos, Celeste Costa, considera que é importante que as pessoas percebam que ficar incapacitado não é algo que só acontece aos outros. “Todos estão sujeitos a situações incapacitantes”, refere deixando passar a mensagem que todos os cidadãos podem no seu quotidiano ter ações que podem contribuir para uma sociedade mais civilizada e mais inclusiva. Os erros constantemente referidos como o cuidado com o estacionamento de viaturas nos passeios ou a colocação de objetos na via pública em locais não sinalizados continuam a verificar-se.

Câmara de Faro galardoada por intervenções na área da acessibilidade urbana

A Associação Portuguesa de Planeadores do Território esteve na passada semana em Faro para galardoar a autarquia com a bandeira de primeiro grau. A associação tem vindo a galardoar as autarquias portuguesas que têm apostado na adaptação das cidades e edifícios públicos por forma a serem mais acessíveis para os cidadãos portadores de deficiência.

O edil farense, Macário Correia, explicou que esta bandeira é o reconhecimento por algumas medidas implementadas por este e pelo anterior executivo municipal. Contudo, admite que ainda há muito por fazer no concelho. “Há uns pequenos toques feitos”, mas há todo um conjunto de medidas que o autarca gostaria de implementar estando por isso a preparar um plano de trabalho que a autarquia deverá implementar para tornar o concelho mais acessível.

A adaptação dos cais de embarque para as ilhas, das zonas turísticas e dos edifícios públicos, são alguns dos trabalhos que importam realizar. Contudo, Macário Correia sublinha que em alguns casos as soluções possíveis são dispendiosas, nomeadamente a instalação de mecanismos que tornem os edifícios seculares que acolhem serviços públicos aptos a receber todos os cidadãos.

“A atribuição da bandeira é um estímulo que esta associação faz às entidades que já fizeram alguma coisa, que já tomaram iniciativas e realizaram algum trabalho. É uma forma de estimular para que façam mais”, explicou deixando perceber que a Câmara de Faro ficou sensibilizada e pretende alcançar novas bandeiras desta associação no futuro.

JA/Sofia Cavaco Silva

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