Yann Scussel, 20 anos: Uma mão cheia de aventuras

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Considera-se um aventureiro. Mas as suas aventuras são feitas com consciência e uma mensagem de sensibilização a transmitir, principalmente aos mais jovens. Aos 17 anos, Yann Scussel partiu para as ilhas Fiji, no oceano Pacífico, onde mergulhou na companhia de cerca de 30 tubarões buldogue para provar que aqueles animais “não comem o Homem”. Agora com 20 anos, o jovem com raízes em Santa Rita, no concelho de Vila Real de Santo António, está à espera do fim da pandemia de covid-19 para escalar o Kilimanjaro, em África

Yann Scussel

Considero-me aventureiro porque não encontro outra palavra para descrever aquilo que faço”, começa por dizer ao JA Yann Scussel, que aproveitou a imposição de aulas à distância para vir da Suíça, onde reside, para Santa Rita, visitar os avós. 

Yann é um aventureiro consciente, sempre com uma mensagem de sensibilização para transmitir. Os seus projetos não surgem por acaso. Têm sempre um propósito: alertar para várias problemáticas e mudar mentalidades. 

As aventuras começaram, na sua cabeça, aos 15 anos. No entanto, foi difícil conseguir ser credível no seu objetivo. 

“No começo tive dificuldades com os meus projetos, porque as pessoas não acreditavam em mim. Foi muito complicado encontrar confiança, credibilidade e dinheiro para fazer os projetos. Eu sei que é difícil acreditar num jovem que quer viajar desde novo a fazer projetos que podem ser perigosos, mas isso é também uma força para mim, porque dá-me motivação para continuar”. 

Aos 15 anos, depois de muitas horas de inspiração vinda das televisões francesa e suíça e da literatura, saiu de casa e andou de porta em porta em busca de patrocinadores, sozinho. 

“Eu quero sempre fazer as coisas sozinho. Não quero ajuda dos meus pais, avós, nem de ninguém. Quero mostrar que os jovens são capazes de conseguir cumprir os seus sonhos, sozinhos”, acrescenta. 

Depois de muitas portas fechadas, conseguiu o patrocínio de uma agência de viagens, um contrato de trabalho para fotografar e ainda o patrocínio de uma marca de relógios, tornando-se no mais jovem embaixador da empresa. 

Durante mergulho nas Bahamas com tubarão

O primeiro contacto com tubarões 


Aos 17 anos, em 2018, parte para o oceano Pacífico, para as ilhas Fiji. O objetivo era nadar com tubarões, para provar ao mundo que aqueles animais “não comem o Homem”. 

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Explicar aos pais e avós aquilo que iria fazer não foi fácil: “É complicado dizer à família que vou sozinho para o outro lado do mundo, mergulhar com tubarões tigre e buldogue. Compreendo que dá medo, mas tive muita sorte porque os meus pais e avós compreenderam-me e deram-me apoio”, refere. 


A experiência de nadar com os tubarões buldogue, que podem chegar aos cinco metros de comprimento, “foi muito impressionante”, confessa. “São animais grandes, mas senti-me com muito respeito e admiração por eles. No início tive um pouco de medo, mas essa sensação transformou-se em admiração”. 


O jovem explica que os tubarões “são perigosos, mas são animais que devemos respeitar” e salienta que “existem situações mais perigosas que os tubarões”. 


Durante os mergulhos, Yann ainda realizou alguns testes e estudos sobre a espécie “para compreender as suas reações às cores e contrastes”. 


Mergulhando vestindo roupas pretas, Yann percebeu que os tubarões não reagem à sua presença, enquanto se usar uma peça branca, neste caso, umas luvas, os animais sentem-se mais atraídos. 


“O tubarão não ataca para matar, mas apenas pelas cores, pensando que seja um peixe. Não ataca para comer o Homem”, garante. 
Os mergulhos têm uma duração média entre 60 e 90 minutos, tendo estado rodeado diversas vezes por cerca de 30 animais, a profundidades entre os 10 e 40 metros. 

Quando chegou a terra, fez questão de tirar uma fotografia, ajoelhado, vestindo uma camisola do Benfica, clube onde é sócio, representando também o orgulho que sente em Portugal, o seu país. 


Esta aventura fez parte de um trabalho escolar, que na Suíça é chamado de trabalho de maturidade. É feito no final do 12.º ano para dar entrada na universidade, mas que apresentou obstáculos no seu início. 


“Tive algumas dificuldades porque a escola não queria aceitar, por achar que não ia ser capaz de o fazer. A professora não acreditava em mim”. No final, com 30 páginas de trabalho, obteve muito perto da nota máxima. 


No ano seguinte, parte para as Bahamas, com o mesmo objetivo e a mesma mensagem a transmitir. Desta vez, os mergulhos eram feitos no habitat de tubarões tigre e martelo, que podem chegar aos cinco metros de comprimento. 


“Este mergulho foi diferente, porque as espécies nas Bahamas são maiores. Nadava na companhia de mais de oito tubarões ao meu lado”, conta ao JA. 


A espécie de tubarão tigre é um animal que “gosta do contato e é mais curioso”, explica Yann, que relata alguns momentos em que teve de usar as mãos para afastar os animais e defender-se dessa curiosidade, pois mergulhava sem qualquer proteção. 


Durante esta viagem, teve ainda a companhia de um fotógrafo, que ajudou Yann a produzir um pequeno filme de sensibilização, que já conta com mais de 14 mil visualizações na internet. 


Já em terra, organizou um leilão com as fotografias captadas nos mergulhos, cujo valor foi inteiramente doado a uma associação francesa de proteção da natureza. 


 O seu avô, a sua grande influência, segue atentamente a entrevista e intervém, do fundo do jardim, em Santa Rita: “O tubarão não faz mal e não come carne humana. Foram os americanos que iniciaram o boato!” 


E daí, Yann dá a sua opinião e explicação, com experiência própria, destacando que não gosta de chamar “ataque” de tubarões, mas sim “acidente”. 


“Quando há um acidente entre humanos e tubarões, são os animais que querem morder. Mas é um morder de investigação. Gosto de dizer que os tubarões são como os bebés, que gostam de provar e experimentar as coisas. O problema é que os tubarões têm destes e essa investigação pode ser mortal. Mas é a vida e a água não é o nosso sítio. Temos de ter respeito”, refere. 


Também habituado a mergulhar nas Quatro Águas, em Tavira, Yann preparou-se fisicamente para estes mergulhos num grande lago em Genebra. No entanto, prefere treinar em Portugal, pois a água é mais quente. 


Durante várias semanas fez diversos treinos de mergulho, além de natação, musculação e corrida. 
Ao todo, já fez mais de uma centena de mergulhos na companhia de tubarões, tanto nas ilhas Fiji como nas Bahamas. 

Yann Scussel após a travessia entre Europa e Ásia

Da Europa à Ásia a nadar 


Em setembro do mesmo ano, teve uma nova aventura: tornar-se no primeiro jovem, na altura com 19 anos, a fazer a travessia a nado da Europa à Ásia, também por uma boa causa. 


Esta travessia foi feita na Turquia, para chamar a atenção para o cancro, em parceria com a Liga Contra o Cancro. Yann percorreu, a nado, 12 quilómetros em duas horas e meia, com água muito agitada e com correntes. 


“Quis fazer esta aventura também para demonstrar que qualquer pessoa consegue fazer, com treino”, acrescenta. 

Para treinar para esta aventura, percorreu 186 quilómetros de bicicleta, à volta de um lago na Suíça, com uma duração de seis horas e meia com chuva, vento e frio. 


“Foi muito complicado. Foi a minha primeira volta de bicicleta, sem treinos. Apenas costumo andar de bicicleta quando vou e volto da escola”, explica. 

Descida do rio Ródano

Descer um rio gelado 


A sua última aventura “foi muito difícil”, garante ao JA. Durante 29 horas, desceu o rio Ródano, que vai desde a Suíça à França, começando nos 2225 metros de altitude e acabando nos 300, com temperaturas negativas. 


“A água estava gelada, a dois graus, e não foi a mais de sete ou oito durante o dia”, refere Yann ao JA. 


Toda a aventura foi feita sem pausas, sempre a nadar durante 158 quilómetros, com a ajuda de um hidrospeed e vários encontros com rochas, que lhe causaram uma lesão no ombro. 


“Tive sorte de estar bem preparado fisicamente, mas também mentalmente. Foi só com a parte mental que acabei a aventura, porque o físico já nçao funcionada. Tive muito frio e estive muito perto da hipotermia várias vezes”, relata. 


Desta vez, pensou mesmo em desistir, várias vezes, “mas a vontade de sensibilizar as pessoas para a problemática do plástico e cumprir o objetivo deu-me muita força”. 


“Tive tanto esta vontade de sensibilizar as pessoas que era, para mim, obrigatório ir até ao fim, mesmo apesar de ter sido duro e ter magoado o ombro depois de bater numa rocha”. 


Devido a esta lesão, Yann tem feito várias sessões de fisioterapia desde há um ano, mas garante que “foi tudo por um bom motivo”. 


Mas este desafio, mais uma vez, serviu para sensibilizar para o plástico que existe nos oceanos e o seu “abuso” na sua utilização. 


“Tive a sorte de ir a muitos sítios pelo mundo como Austrália, Estados Unidos da América, África do Sul, Fiji e Bahamas e infelizmente sempre vi plástico no mar. Fico muito triste em ver plástico no mar, principalmente nas nossas praias”, confessa. 


Recentemente, o jovem visitou o pontão da praia de Santo António e relata que viu “muitas caixas para apanhar polvo, garrafas de plástico, máscaras e redes, que matam tudo o que existe no fundo mar. Devemos ter atenção na utilização no plástico”. 

A chegada após 29 horas a descer o rio Ródano em hydrospeed

O gosto pela água e a influência do avô 


O seu gosto pelo mar e pela água foi herdado por influência do seu avô, que tem um barco, onde passava várias horas a pescar. Yann “ainda nem sabia andar e já nadava”, tendo praticado natação de competição durante vários anos. 


Esses treinos, que eram feitos diariamente, ficaram para segundo plano, pois Yann decidiu “que tinha de abrir horizontes” e dedicar-se a 100% aos seus projetos. 


“Entre os estudos e os meus projetos, não tinha tempo para continuar em competição. Agora treino apenas para me preparar para as minhas aventuras, que exigem muito esforço físico”, explica ao JA. 


Os seus amigos dizem que Yann é maluco: “Dizem sempre a mesma coisa, mas como já me conhecem, nada é novo para eles. O mais difícil é explicar as aventuras aos meus pais e aos meus avós, porque têm medo”, refere. 


Já aos seus pais, Yann tem sempre de explicar tudo “muito bem”, apesar de sentirem sempre medo. 

“Eu compreendo, porque os Humanos têm medo das coisas que não conhecem”, acrescenta. 

Yann com o avô

Futuro adiado pela pandemia 


No entanto, o surgimento da pandemia de covid-19 veio adiar as suas ideias: “não posso viajar e assim é mais complicado para fazer as coisas”, confessa ao JA. 
Na mente, está uma aventura que já devia ter acontecido, uma subida ao Kilimajaro, sozinho e sem ajuda, para chamar a atenção à escravatura que existe naquele local. 


“Há pessoas que sofrem vários problemas sociais e carregam os materiais de outas pessoas, que escalam sem nada. Apesar de serem pagos, considero que isso seja escravatura e há quem morra lá, todos os anos, a fazer esse trabalho. E ninguém fala disto”, explica. 


Com confiança no futuro, quer mostrar “que os jovens podem fazer coisas grandes e sensibilizar a população em geral, sem ser ricos” e não quer ser famoso nem que as pessoas falem de si, mas sim dos seus projetos e das mensagens de sensibilização que quer transmitir e das soluções para os problemas. 


Para o futuro, não descarta de fazer aventuras em Portugal: “Quero muito fazer um projeto aqui, especialmente no mar, porque é onde tudo começou”, admite. 


Sempre que pode, Yann Scussel regressa às suas origens, a Santa Rita, no concelho de Vila Real de Santo António, para matar saudades dos seus avós e do Algarve, que tem sempre consigo no coração enquanto está na Suíça. 


“Gosto de vir aqui. Só não vim no ano passado por causa da pandemia e porque estive a cumprir o serviço militar, que na Suíça é obrigatório”, refere. 


A residir atualmente em Genebra, frequenta a licenciatura de Relações Internacionais. 

Yann com a avó Madalena Domingos

O orgulho da avó 


Para a sua avó, Madalena Domingos, Yann é o orgulho da sua vida. 


“Foi o meu primeiro neto. Comecei a levá-lo às piscinas com seis meses. Mal começou a andar e já se jogava à piscina. Desde pequeno que também gostava de ler enciclopédias de animais e ver exposições de dinossauros”, afirma. 

A avó conta que desde que Yan nasceu que tem medo, pois desde novo que o seu neto sai com o seu avô, no barco para pescar, às seis da manhã. Fica sempre com “o coração nas mãos”. 


“Com os tubarões a coisa já ficou mais séria. Para mim, o tubarão comia o Homem mas ele dizia-me que não fazia mal. Quando vi o vídeo e todos os tubarões à volta do Yan pensei logo que o podiam ter comido”, confessa ao JA. 


Para os pais, Yann é também um motivo de orgulho. A mãe é “muito protetora” e “tem sempre muito medo daquilo que pode acontecer ao filho”, refere.

Gonçalo Dourado

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