Agricultores algarvios “invadem” EN125 para protestar contra medidas “injustas”

Há quilómetros e quilómetros de filas, a esta hora, na EN125

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Milhares de agricultores algarvios estão a participar esta sexta-feira, dia 8 de março, desde as 10h00, na Estrada Nacional (EN) 125, entre Boliqueime e Almancil (Loulé), numa marcha lenta com o intuito de demonstrar ao país a sua oposição face às medidas para a gestão da água aplicadas ao setor, as quais consideram “injustas”. É com buzinas, luzes, bandeiras e cartazes com frases de contestação que cerca de 600 pessoas se fazem ver (e ouvir) numa das principais artérias da região.

Os agricultores concentraram-se logo ao início da manhã, pelas 09h00, no campo de futebol de Boliqueime, de onde seguiram para a EN125 cerca de 300 tratores e outras máquinas agrícolas. No local de partida saltavam à vista cartazes alusivos à importância de um bem cada vez mais escasso na região: a água.

“Somos também empresários iguais ao do turismo, mas no turismo não há qualquer restrição aos novos investimentos e na agricultura é proibido haver novas áreas regadas”, disse o presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, Macário Correia, que seguiu à frente na marcha.

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O ex-presidente das Câmaras de Faro e Tavira considera que não pode haver um “tratamento desigual para a agricultura relativamente a outros setores de atividade”, razão pela qual os agricultores decidiram hoje reunir-se num protesto para demonstrar o seu descontentamento.

Macário Correia na frente da marcha

Também José Oliveira, da Associação de Operadores de Citrinos do Algarve (AlgarOrange), afirmou considerar que “não há equidade” nas medidas do Governo, pois os cortes anunciados para uns setores “não têm nada a ver com a agricultura”, considerando que estes podem levar à seca “de muitos hectares” de pomares.

“Não achamos justo, achamos que é possível fazer de outra maneira”, sublinhou, acrescentando que os agricultores estão “descontentes e indignados” com as medidas aplicadas ao setor e que o problema da água no Algarve não é um problema da agricultura, mas sim da região e do país.

Ao JA, um dos agricultores que participa na marcha, e que preferiu não dar a cara, disse estar “orgulhoso pela união dos agricultores da região”, estando “a torcer para que os governantes entendam que a situação é grave” e que “não pode haver dois pesos e duas medidas”.

Agricultores apelam ao próximo Governo que tome medidas

Os agricultores apelaram ainda ao próximo Governo para que tome medidas para aumentar o armazenamento de água na região.

“Propomos que haja mais armazenamento de água, que haja naturalmente uma política estratégica a longo prazo, com novas barragens e com medidas de eficiência que têm que ser obviamente tomadas, mas iguais para todos os setores”, sublinhou Macário Correia.

A marcha lenta, convocada pela recém-criada Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve (CSHA), prossegue pela EN125 até às 14h00, entre as rotundas de Maritenda e das Quatro Estradas. A iniciativa obrigou a uma velocidade mais reduzida do trânsito normal da muito concorrida EN125 e foi formada, segundo os organizadores, por cerca de 300 máquinas agrícolas e 600 pessoas.

Ao final da amnhã, uma delegação da CSHA deslocou-se a Faro, à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento (CCDR) do Algarve, para apresentar um caderno reivindicativo também dirigido ao próximo Governo.

“Queremos que o próximo Governo nos ouça e que tenha uma visão estratégica da política da água a nível nacional e no Algarve em particular, para que haja um tratamento justo e igual em relação a todos os setores”, afirmou Macário Correia.

Entre as reivindicações que a CSHA reclama estão também o pedido de aumento da capacidade de armazenamento de água, cortes equitativos na utilização de água e a reestruturação do Ministério da Agricultura, com a reinstalação das direções regionais de Agricultura e Pescas.

A comissão, que reúne mais de 1.000 entidades e agricultores algarvios, defende que, como a pluviosidade das últimas semanas ultrapassou as estimativas do executivo, todo o volume encaixado superior ao estimado deve ser “direcionado para aliviar os cortes impostos à agricultura”.

Recorde-se que o Algarve está em situação de alerta devido à seca desde dia 5 de fevereiro, tendo o Governo aprovado um conjunto de medidas de restrição ao consumo, nomeadamente a redução de 15% no setor urbano, incluindo o turismo, e de 25% na agricultura.

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