Com quatro triunfos na Volta a Portugal em bicicleta, o espanhol David Blanco (Palmeiras Resort-Tavira) confessou hoje que gostava de ganhar “cinco ou seis Voltas”, mas não se vê nessa luta como quarentão.
“Gostava de ganhar cinco ou seis Voltas a Portugal, mas não se pode ter tudo. Para poder ir a outro calendário, tinha que renunciar a isso e acho que vai valer a pena”, afirmou David Blanco, em entrevista à agência Lusa.
A saída anunciada para a Geox, uma nova formação ProTour (escalão máximo do ciclismo), retira-lhe essa possibilidade, pelo menos, nos próximos tempos.
“O Venceslau (Fernandes) ganhou com 40 anos, mas não sei se me verei com essa idade a tentar vencer a Volta. É muito difícil”, sustentou Blanco que, tendo repetido este ano os triunfos de 2006, 2008 e 2009, igualou o recorde de Marco Chagas.
Reconhecendo que esta é uma oportunidade tardia, Blanco admite que, talvez, a última Volta a Portugal tenha servido para tirar dúvidas.
“O problema é que ganhas uma ou duas vezes e dizem que o David Blanco ganhou outra vez. Quando ganhas quatro, já começam a pensar: ‘este gajo deve ser bom’. E acho que foi o que aconteceu este ano”, sublinhou.
Como aliciante, Blanco vai ter a oportunidade de se estrear na Volta a França e regressar à Vuelta.
“Eu estava contente aqui, mas cheguei a um ponto em que pensava em mais que no dinheiro. Comecei a pensar noutras coisas e, desportivamente, ia ficar com uma coisa atravessada toda a vida, se não tentasse ir ao Tour, ir à Volta a Espanha outra vez e correr as provas da Taça do Mundo”, explicou.
“Tenho 35 anos e, se calhar, é um bocado tarde, mas não sinto que a idade do meu BI esteja relacionada com o meu rendimento. Sim, é tarde, mas nunca é tarde demais se no final o resultado for o que eu procuro”, atestou o corredor, admitindo não será apenas benéfico para si: “Penso que é bom para mim, para o calendário e para o ciclismo português, porque vão ver que aqui se anda muito depressa”.
Blanco garante que, “até agora”, ainda sente forças para continuar, prometendo parar “quando as pernas disserem basta”: “Assinei por um ano, mas, depois, espero poder assinar por mais dois”.
“Não noto que o meu corpo esteja a ficar velho”, frisou o corredor, ilustrando com as melhorias da sua capacidade física. Segundo o próprio, tem conseguido “subir o pulso, praticamente, todos os anos desde 2004”, quando começou a encarar o ciclismo “como uma profissão”, já depois de quatro meses na Bolsa de Madrid (em 2002), dando uso à licenciatura e à pós-graduação em Administração e Gestão de Empresas, que lhe permitiu enfrentar a carreira de “forma calma e relaxada”.
Em 2011, na Geox, Blanco vai alinhar ao lado do russo Denis Menchov (vencedor do Giro em 2009 e 3.º no Tour em 2010) e do compatriota Carlos Sastre (vencedor do Tour em 2008).
Previstas estão, para já, as participações na Paris-Nice ou na Tirreno-Adriático, na Volta ao País Basco, nas ‘clássicas’ da Taça do Mundo e “depois, descansar, fazer a Volta à Suíça, o Tour e a Vuelta”.
“É muito, mas acho que se pode conseguir. Tendo estes nomes, é claro que vou estar dedicado a eles, sobretudo no Tour e na Vuelta, mas, durante o ano, tenho a certeza que vão surgir hipóteses para ser o líder da equipa. Sempre que se está rodeado de grandes profissionais, sabe-se que há momentos para todos”, garantiu.
A partir de hoje e até domingo, Blanco volta às estradas portuguesas, para disputar o Grande Prémio da Costa Azul, a última prova por etapas do calendário nacional de 2010, registando já um pouco de nostalgia.
“Começo a reparar em coisas que nunca tinha reparado. A ouvir a televisão e a rádio em português, comer numa tasca. Não sei, são muitas coisas que talvez não se voltarão a repetir, mas a vida também são etapas e chegou a hora ou mudava agora, ou seria muito difícil. Optei por tentar, abrir outra fase da vida e vamos ver o que dá”, concluiu.
