Castro Marim pode vir a ter eleições antecipadas em abril

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Ao fim de pouco mais de uma ano a gerir a Câmara, sem maioria, o executivo anuncia que vai pedir a demissão. Francisco Amaral considera que a oposição “está a destruir e a boicotar” o trabalho do executivo e que é preciso voltar a dar “a palavra ao povo”. Afirma que pretende recandidatar-se e “obter a maioria absoluta”

Domingos Viegas

O executivo da Câmara Municipal de Castro Marim, liderado pelo social democrata Francisco Amaral, vai demitir-se “no final deste mês, ou, o mais tardar, no início do próximo” para que possa haver novas eleições “durante o mês de abril”, garantiu o autarca em declarações ao Jornal do Algarve.
Junto com o executivo “vai demitir-se em bloco toda a lista” que concorreu nas últimas eleições (coligação ‘Castro Marim Mais Humano’, que juntou PSD e CDS), assegurou o edil.
Francisco Amaral tinha sido reeleito nas eleições autárquicas realizadas em 2017, mas a coligação liderada pelo PSD ficou sem maioria. Neste novo mandato, o executivo passou a ser constituído apenas pelo presidente e pela vice-presidente Filo-mena Sintra enquanto a oposição ficou com três vereadores (dois do PS e um do movimento CM1).
“Nota-se, claramente, que há uma coligação que está ali só para boicotar a ação do executivo e destruir. A oposição retirou-me as competências que qualquer presidente de Câmara tem, há obras que estão paradas, as reuniões de Câmara passaram a ser autênticos massacres de cinco ou seis horas onde não se discute nada de concreto, em dezembro aprovámos atas de março… É vergonhoso e o povo está farto disto. Por isso, vamos dar a palavra ao povo”, explicou Francisco Amaral.
O autarca revelou que já esteve reunido com o secretário de Estado das Autarquias e assegurou que o pedido de demissão será entregue àquele governante e ao presidente da Assembleia Municipal “no final deste mês, ou, o mais tardar, no início do próximo”, de forma a ter algum tempo para “arrumar a casa e tentar lançar algumas obras”.
Francisco Amaral explicou, ainda, que, assim que o pedido de demissão e a solicitação de realização de eleições for entregue, “será nomeada uma comissão de gestão, que será presidida pelo PSD, para gerir o município durante os dois meses e meio seguintes”, ou seja, até à realização das eleições.
“Espero que as eleições aconteçam durante o mês de abril, antes das eleições europeias”, declarou. Francisco Amaral confirmou que pre- tende recandidatar-se para “obter a maioria absoluta”.
Para justificar a demissão, o autarca recorda, ainda, que, após as últimas eleições, quando verificou que não tinha maioria, avançou com algumas ações que não tiveram sucesso. “Comecei por convidar os vereadores do PS para ocuparem cargos a tempo inteiro. Não aceitaram. Propus que nos reuníssemos antes de cada reunião de Câmara para ver e discutir os possíveis entendimentos. Também não aceitaram. Depois, retiraram-me competências e surgem nas reuniões como uma autêntica coligação de oposição só para destruir”, lamenta.

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Oposição diz que os motivos são injustificados
Contactada pelo Jornal do Algarve, a vereadora socialista Célia Brito, que encabeçou a lista do PS nas últimas eleições, considerou que “nada justifica esta atitude” do presidente da autarquia. “O atual Governo é um bom exemplo e a prova de que é possível governar em minoria. Como é possível que o presidente de um concelho pequeno venha dizer que aqui é uma situação insustentável? Isso não corres-ponde à verdade”, diz a autarca.
“Por exemplo, as obras consideradas importantes para o desenvolvimento do concelho foram todas aprovadas. A decisão do presidente só revela a sua incapacidade e incompetência para gerir a Câmara”, afirma Célia Brito.
O mesmo discurso tem o vereador José Estevens, ex-presidente de Câmara pelo PSD e que encabeçou o movimento independente CM1 nas últimas eleições: “A decisão já era esperada, mas as razões que o presidente da Câmara evoca para convocar eleições são inverdades. Quais foram as propostas que, com mais ou menos consenso, não lograram a obtenção de aprovação? Aliás, para algumas coisas nem precisava da oposição. Porque é que, por exemplo, andou a esticar a corda com a questão da Unidade Móvel de Saúde se, afinal, e como se verificou, tinha poder suficiente para resolver a situação?”.
José Estevens considera que Francisco Amaral “não está habituado a governar sem maioria absoluta” e “não é capaz de ter um diálogo positivo” com a oposição. “Como não lhe permitimos que exerça o ‘quero, posso e mando’, convoca eleições”, remata.

Contra quem concorrerá o atual presidente?
Francisco Amaral já afirmou que pretende recandidatar-se, no entanto, na oposição, e apesar de ser natural que os restantes partidos tenham os mesmos nomes a encabeçar as listas, todos afirmam que ainda é prematuro para dar essa garantia.
Célia Brito explicou que a sua recandidatura “ainda terá que ser estudada internamente pelo PS”, mas adiantou que está disponível para avançar. “Estamos tranquilos e não temos medo de ir à luta. O PS não se desviou do seu programa eleitoral nem dos seus compromissos. Esperamos que os castro-marinenses decidam em conformidade”, referiu a vereadora socialista.
José Estevens também considera que “ainda é prematuro” para anunciar de que forma é que o movimento CM1 vai avançar para as eleições. “A nossa vontade é a de continuar na defesa intransigente dos castro-ma-rinenses. Como, de que modo, com que forças? Ainda é prematuro falar nisso. Já fomos sondados por outras forças para podermos assumir a representação. Houve contactos exploratórios de algumas pessoas, mas nem me certifiquei se estavam mandatadas para o fazer. Há novos partidos, há novas forças. Mas quero manter absoluta reserva sobre isso. Neste momento, o nosso único compromisso é o de defender Castro Marim e os seus interesses. Veremos como é que a nossa ação pode ser mais útil”, explicou.
No mesmo sentido, aquele vereador afirma que “o CM1 tem a mesma disposição que sempre teve, ou seja, servir Castro Marim e os castro-marinenses. E vamos alertá-los que é importante que Castro Marim se liberte, a todo o custo, do atual executivo”.
Para José Estevens, Francisco Amaral “pode estar a correr um risco” com a sua decisão. “Vamos ver como é que o povo de Castro Marim, que é gente inteligente, vai reagir a este ato eleitoral que só acontecerá porque o presidente da Câmara não sabe atuar em democracia plena”, referiu.

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